sexta-feira, 29 de junho de 2012

O modelo (parte 6)


Seja feita a tua vontade assim na Terra como nos Céus...
Mateus 6:10

Goethe dizia que nada fala mais sobre o caráter de alguém do que aquilo que ela odeia. O que é que Jesus mais odiava? É engraçado ver que o objeto de censura para Ele e até mesmo de impropérios como “raça de víboras” e “sepulcros caiados” é algo bem diferente daquilo contra o que os cristãos se posicionam hoje (homossexualismo, aborto, drogas, álcool, fumo, etc). O que Jesus detestava mesmo era hipocrisia.

A atitude de afetar crer e permitir-se relativizar os princípios da crença quando conveniente, a presunção espiritual, a facilidade para enxergar as faltas do outro em proporção inversa à capacidade para enxergar as suas próprias, os argumentos racionais para dar vazão a desejos mesquinhos e pecaminosos, enfim, o constante  “coxear entre dois pensamentos” fazia o sangue de Jesus ferver.

O resto parecia ter remédio. Ele estimulava prostitutas, párias, ladrões, traidores, negadores, incrédulos, gananciosos e toda sorte de escorraçados, mas os hipócritas O tiravam do sério. Sua crença de que eram santos irrepreensíveis e não precisavam de ajuda representava a atitude humana mais sem esperança.

Foi relembrando isso que parar para pensar em “seja feita a tua vontade assim na Terra como no Céu” adquiriu novas cores para mim. É uma assertiva muito mais fácil de fazer do que de querer fazer. O mais normal é dizermos: “faça-se a Tua vontade. Desde que seja esta aqui”. Esse é o comportamento mais tipicamente humano.

O problema é que, agindo assim, estamos incorrendo exatamente naquela atitude que desencantava profundamente nosso Salvador. Pedimos que Ele tome as rédeas da carruagem mas sem o mínimo gesto de passá-las para Suas mãos.

Conheci um rapaz inteligentíssimo que veio do interior para estudar economia em São Paulo. Passou com louvor no vestibular da USP e fazia um curso brilhante, com um futuro extremamente promissor, quando notou que precisava largar tudo e começar um curso de teologia. “Deus às vezes frustra nossas ambições”, ele me disse.
Meditando nos exemplos bíblicos notei que ele tinha razão. Saulo nunca traçou planos de viver apanhando de cidade em cidade, ou Pedro de acabar crucificado, ou ainda Abraão de andar errante pelo mundo. Mas eles partiram da premissa de que a vontade de Deus para suas vidas poderia ser diferente do que suas ideias a respeito. E preferiram as dEle.

Pedir que a vontade do Pai seja feita requer reflexão. Antes de fazer tal pedido, bom seria pedir coragem para querer de fato que Ele dê o curso que achar melhor a nossa vida.

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