quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Mais feliz

Que a paz esteja com você, Maria! Você é muito abençoada. O Senhor está com você” (Lucas 1:27). Foi assim que o anjo Gabriel saudou a adolescente Maria em Nazaré, antes de comunicar que ela seria mãe do filho de Deus. Muito abençoada. Outras versões dizem que ela havia achado graça aos olhos de Deus. Não vejo grandes complexidades nisso, mas algo naquelas palavras a fez cismar. “Porém Maria, quando ouviu o que o anjo disse, ficou sem saber o que pensar. E, admirada, ficou pensando no que ele queria dizer” (verso 29).

Nós sabemos a resposta. Maria recebeu a missão de gestar, dar à luz, amamentar e fazer crescer ninguém menos que o Filho de Deus. Sua missão foi espetacular e sua experiência única na História humana.

Anos mais tarde, uma mulher anônima chegou a essa mesma conclusão: "Ora, enquanto ele {Jesus} dizia estas coisas, certa mulher dentre a multidão levantou a voz e lhe disse: Bem aventurado o ventre que te trouxe e os peitos em que te amamentaste" (Lucas 11:27)

Jesus não discordou. Realmente, Maria era uma bem aventurada, ou seja, era muito feliz por ter tido essa oportunidade. Mas Jesus aproveitou para dizer que havia uma classe de pessoas que podiam alcançar uma felicidade ainda maior que essa:
"Mas ele respondeu: Antes bem aventurados os que ouvem as palavras de Deus, e a observam" (Lucas 11:28).

Um privilégio ainda maior do que ser mãe do Filho de Deus está reservado para mim e para você se tão somente dermos ouvidos a Suas palavras e deixarmos que elas revolucionem nossa vida.É simples e é garantido pelo próprio Deus.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O mensageiro e a mensagem

A primeira ordem de Jesus é “vem e segue-me”. A última é “vá e pregue”. A igreja enfatiza muito a última ordem porque ela dá o sentido de missão e de propósito de ser da própria igreja, mas há um perigo gigantesco em atender a essa ordem sem haver atendido à primeira antes.

Jesus nos constituiu pregadores a toda nação, tribo, língua e povo, mas também nos chamou para uma condição de filhos e filhas de Deus. É como filhos e filhas que levamos a mensagem ao mundo. Não somos um mensageiro cuja missão seja entregar uma mensagem que nem sabemos qual é, depois lavar as mãos e dar a missão por cumprida. Nós levamos a mensagem que vivemos. O evangelho é pregado “em testemunho” (Mateus 24:14). Não somos meros veículos de uma mensagem; somos a própria mensagem, somos uma carta escrita de modo tal que todos que não abrem uma Bíblia a possam ler de forma inequívoca no nosso sorriso, nas nossas escolhas, na nossa conduta e nas prioridades que elegemos para nossa vida.

Às vezes penso em Noé. Pedro diz que Deus o constituiu “pregoeiro da justiça” e Hebreus afirma que pela sua justiça ele condenou os homens de seu tempo. Significa que Noé não apenas limitou-se a construir a arca segundo o modelo mostrado por Deus, mas que ele se ocupou de pregar a seus contemporâneos acerca do juízo que viria. Quando a chuva enfim veio, encontrou Noé e sua família abrigados na arca, o que significa, por outro lado, que Noé não apenas pregava. Chegava um momento em que ele pedia licença porque tinha uns pregos a pregar. Havia coerência estrita entre a pregação e a vida do pregador. Sua família notava isso.

A igreja tem uma missão e essa missão envolve também pregar acerca de um juízo que está se aproximando. Haverá fogo como um dia houve água. A arca que há para ser construída hoje e que possibilitará passar incólume por aquele dia é nosso caráter. Poucos na igreja, contudo, pregam sobre esse dia. Menos ainda pregam e laboram na construção de seu caráter. Sem problemas. Não é preciso muitos, nem que eles sejam muito brilhantes. Só é preciso que eu esteja entre eles e o máximo de pessoas ao meu redor esteja também. Se eles puderem ler essa mensagem em minha vida, ótimo. Minha vida não terá sido em vão.

Mas só serei um mensageiro eficaz se antes eu tiver atendido à primeira ordem e tiver seguido Jesus, andado com Ele, passado horas e horas na Sua companhia, ouvindo Sua voz, admirando Sua ética e Seu caráter. Caso contrário serei um mero mensageiro, e não um filho dEle, e mensageiros não mudam vidas. A mensagem é que muda, com o poder do testemunho.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O Senhor está aqui

“Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor” é a recomendação de Oséias (6:3). O que eu sei sobre Ele é pouco e insatisfatório. O que pode a larva que se arrasta por um galho de árvore saber da floresta em que ela está? Esse pensamento, longe de me conformar, só aumenta a sede.

Dizemos, por exemplo, que Ele é onipresente. Como se pudéssemos conceber alguém que está em todo lugar ao mesmo tempo. Nossa limitação espacial torna o conceito extremamente abstrato. Mas conhecer e prosseguir em conhecer pode implicar em ver mesmo aí coisas novas. Deus não está limitado no espaço, mas não só : no tempo também . Assim, dizer que Ele é onipresente implica em que neste exato instante Ele está aqui, me propiciando escrever essas toscas e imperfeitas linhas, mas também em algum dia perdido na minha primeira infância, enquanto eu empilhava blocos de madeira na casa silenciosa, e também em uma tarde esquecida da adolescência enquanto eu dormia com um livro de ciências na barriga, e também em algum dia escondido em um futuro distante, enquanto eu dirijo à noite tentando enxergar por entre o movimento frenético do limpador de parabrisa. Deus está aqui e agora, mas também ontem e amanhã e sempre. Quando sinto e quando ignoro, tocando minha vida distraidamente.

Ele não estava com José apenas quando ele foi coroado governador do Egito. Ele estava lá também quando ele chorava dentro da cisterna, ou no caminho para o Egito sob o estalar do chicote. Ele estava lá quando parecia dar tudo errado, quando José era atirado injustamente no cárcere. Deus estava lá. Ele é onipresente, Ele está sempre, Ele é sempre. Ele estava lá quando João Batista foi decapitado. Quando Pedro foi crucificado. Com o jovem rico antes, mas também na manhã seguinte à escolha que determinou seu destino. Ele está lá mesmo quando tudo indica que não está.

Quais as consequências dessa percepção? Pode ser um estímulo à confiança mas pode ser também de desconforto por saber-me constantemente sob os olhos de alguém. A escolha é minha. Só não posso me iludir pensando que a ignorância desse fato era melhor do que o conhecimento.

A floresta é imensa e eu não passo de uma larva.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Para que se lembrem de mim

“Há algo no olhar do homem que pertence à essência das coisas que não perecem”, disse com a costumeira maestria Cyro dos Anjos. Há uma angústia pela morte, um pavor do esquecimento. O mundo hoje chora a morte de Steve Jobs, o emblemático líder da Apple, empresa que, em um cenário de extrema competitividade, conseguiu causar uma impactante e - tudo indica - duradoura transformação no mundo.
Embora prematura, sua morte tem um quê de pacífica. Afinal de contas, Jobs deixou um legado. Seu nome não será esquecido. Tão cedo, pelo menos.

Porque ser esquecido é um dos maiores medos do ser humano. O pensamento de que sua vida pode ter sido completamente inútil, completamente descartável é uma tortura que fustiga toda vez que somos defrontados com a inescapável fragilidade da vida. No amargo final de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", Machado de Assis explora esse sentimento colocando na boca de seu protagonista este lamento: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de minha miséria”. No Oriente Antigo, a pior desgraça para alguém era morrer sem passar adiante seu nome. "Lembra-te de mim", foi o clamor do ladrão na cruz para Jesus.

A Bíblia nos garante que não precisamos ser Steve Jobs para deixar um legado, para termos nosso nome lembrado não por uma geração ou duas, mas pela eternidade afora. Há apenas um prérrequisito: "E ouvi uma voz do céu, que me dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os sigam" (Apocalipse 14:13). O prérrequisito é morrer "no Senhor". É, antes de chegar esse dia, que chega para 100% de nós, os vivos, desenvolver um relacionamento de amizade e confiança com Deus, aguardando Sua volta com fidelidade.

Se você tiver essa experiência, é um bem aventurado, todas as suas obras o acompanharão, você não será esquecido pela eternidade afora. Não precisa se preocupar com o esquecimento. Seu nome estará gravado nas mãos de quem é eterno.

Feliz sábado, @migos!
Marco Aurelio Brasil