sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Mickey

Meu primogênito estava com dois anos e achamos que era hora de consultá-lo sobre o que gostaria de ganhar de natal. Quando perguntado, portanto, o que gostaria de ganhar do papai noel, ele, sem pensar muito, respondeu: “uma malinha do Mickey”. Coçamos a cabeça, confusos. Nem sabíamos que ele conhecia o Mickey e não fazíamos ideia de onde ele tinha visto a tal “malinha”.

Nos próximos dias repetimos a pergunta várias vezes para ver se era isso mesmo que ele queria e a resposta foi sempre a mesma. Começou então um grande movimento de caça a uma malinha do Mickey que envolveu avós e tias e durou longas semanas até que uma tia finalmente achou uma mochila do Mickey e garantiu o natal feliz do Dudu.

Na véspera do Natal, armou-se a maior expectativa para ver a reação dele ao ganhar o tão ansiado presente. Filmamos tudo. é nitida a frustração. Dudu olhou para a mochila recém saída do pacote com ar blasé, de um sorrisinho e voltou as atenções ao caminhão de plástico que tinha ganho da avó.

O mistério da malinha do Mickey nos acompanhou por um longo tempo, até que minha esposa matou a charada. Ela lembrou que em uma visita a um shopping onde havia precocemente um papai noel recebendo a criançada, o Dudu havia ganho dele uma balinha do Mickey. Quando perguntado o que ele ganharia do papai noel, a resposta óbvia para ele foi aquilo que ele já havia ganho dele. O que mais se poderia esperar? E ele não tinha culpa se não entendíamos balinha na sua língua enrolada...

A tragédia é que estávamos prontos para dar brinquedos sofisticados mas, por achar que o Papai Noel só podia dar mais do mesmo, ele ganhou uma malinha. Já era melhor que uma balinha, claro, mas nada se comparado ao que queríamos que ele pedisse.

Quando Samuel foi ungir o futuro rei de Israel, espantou-se de que Deus não havia escolhido nenhum dos filhos mais velhos de Jessé, que eram altos, fortes e bonitos. Deus havia escolhido Saul anteriormente, que era exatamente isso: alto, forte e bonito, então, essa era a ideia de rei que Samuel fazia. Mas Deus é ilimitado, tem recursos ilimitados e não precisa agir do mesmo jeito que agiu anteriormente. Enquanto Samuel esperava outro Saul, Deus gestava nada menos que um Davi.

É preciso humildade para reconhecer que não fazemos ideia do que Deus está planejando a nosso respeito. Precisamos reconhecer que pode ser algo radicalmente diferente daquilo que já recebemos dEle. Precisamos não esperar nada em especial para nos surpreender e maravilhar ao ver o que Ele fará.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Imitação barata

O que você ganha mergulhando no reino de Deus? O que acontece já agora se você o faz, e não apenas em termos de Céu e eternidade - aquela coisa que a gente estupidamente acha que está muito longe? Eu abro minha Bíblia e leio. Vejo o que houve na vida de outros, que deram esse salto. Vejo o que aconteceu na chamada igreja primitiva: todos comiam juntos, vendiam as suas propriedades e repartiam o fruto da venda entre todos, para que ninguém tivesse necessidades, e viviam todos como irmãos e irmãs. Vejo o que aconteceu com Paulo, que tinha paz em meio às maiores provações. Noto que o padrão moral dessas pessoas elevou-se enormemente.

Vamos ficar só com esses três pontos, por questão de espaço: vida em comunidade de amor, paz na tempestade, moral elevada. Sem dúvida alguma são consequências diretas da entrega a Cristo, a primeira e a última delas em circunscrição coletiva e a outra individual.

Bem, embora todos nós possamos resistir à ideia de dividir o que temos com quem quer que seja, no fundo o grande anseio do ser humano é por integrar uma comunidade amorosa, sem desigualdades, em que as nossas necessidades são notadas e mitigadas pelos outros. Somos seres gregários, animais sociais, e nossas maiores dores e traumas advém da solidão ou de desajustes sociais. Quanto à paz e ao padrão moral, acho que não preciso argumentar muito para que você os reconheça como boas coisas.

Bem, mas o ser humano não quer simplesmente entrar no reino de Deus. O tipo de paz, o tipo de comunidade e o tipo de moral que ganhamos com Ele parecem intuitivamente desagradáveis ao homem natural, regido por sua natureza caída. Mas continuamos ansiando por uma comunidade, por paz e por algum tipo de moral.

Engraçadas, senão ridículas, as nossas tentativas de alcançar essas coisas por outras vias quaisquer. O comunismo foi uma tentativa frustrada de reproduzir a comunidade igualitária da igreja primitiva. Como bem observou Orwell na Revolução dos Bichos, o líder da comunidade não consegue resistir a, na prática, fazer com que alguns animais sejam mais iguais que os outros. O resultado é tirania, supressão da liberdade, culto à personalidade do líder, invenção de inimigos para manutenção da obediência pelo medo e, claro, degredos e morticínio.

As drogas, a comida, o sexo e o dinheiro são tentativas de substitutos à paz. E, para completar o quadro, a ética é uma risível tentativa da reprodução da moral sem a necessidade do reconhecimento da existência de um Deus, um valor absoluto de onde decorre o padrão de comportamento a ser perseguido.

Estamos o tempo todo tentando imitar a Deus, tentando reproduzir de alguma forma as coisas que só achamos nEle. Mas estamos no século XXI, com uma História de 60 séculos para trás a nos ensinar de modo que não podemos mais nos enganar: cada tentativa dessas é fracassada. O comunismo fracassou, os arremedos de paz são fugazes, a ética deságua nisso que estamos acompanhando na campanha eleitoral.

“Eu sou o Caminho” (João 14:6), diz Jesus Cristo e aí não há espaço para nenhum caminho alternativo. “Esse é o caminho, andai por Ele” (Isaías 30:21).

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Quanto custa o resgate?

Em O Resgate do soldado Ryan, de Steven Spielberg, vários soldados são sacrificados para salvar o Ryan do título, que era o último de quatro irmãos vivo. As últimas palavras do líder do grupo de resgate para Ryan são: “faça valer a pena”. Vemos um Ryan já velho, ante o túmulo de seu salvador, perguntando ansioso a seus familiares se ele teve uma vida digna.

Esta semana assistimos, extasiados, à emersão fantástica e algo miraculosa dos 33 mineiros soterrados no Chile. A façanha para tirá-los daquela situação desesperadora foi épica, e, por mais que uma vida não tenha preço, aposto como você também se pegou questionando quanto dinheiro foi empregado para salvar aquelas vidas. Fala-se em mais de 22 milhões de dólares. Bem, e aí talvez você tenha se flagrado matutando em quantas vidas há que não poderiam ser salvas com muito menos e não são? Quanto custa algum alimento diário para as milhares de pessoas que morrem de fome todos os dias?

O preço é uma coisa importante. Coloca em perspectiva a aplicação que se faz da vida do resgatado. Como o soldado Ryan é instado a viver uma vida digna do custoso sacrifício em seu favor, como deveriam aqueles mineiros pensar em viver agora?

Bem, nós temos alguma dificuldade para enxergar que estamos em uma situação tão desesperadora quanto à dos mineiros chilenos. Nós também caímos em um buraco escuro e claustrofóbico sem saída alguma. Não há saída que nós possamos abrir, não há túnel que tenhamos condições de cavar. Contudo, temos alguns brinquedos, temos programas de TV bacanas, temos sonhos a respeito de uma casa maior ou de algum tipo de fama, por isso somos tentados a ignorar que necessitamos de uma sonda espetacular para nos salvar.

Jesus Cristo desceu muito mais fundo do que aquela sonda para resgatar você. Ele não exige um único centavo seu; a sua salvação é inteiramente gratuita para você. Mas não para Ele. Para Ele, ela custou tudo. No Chile, ninguém colocou a mão no próprio bolso, foi o governo federal quem custeou o regate, mas o muito mais espetacular resgate em seu favor custou o sangue de Quem veio em seu resgate. Ele precisou Se diminuir e Se deixar matar para ter sucesso na missão. Ele ocupou o seu lugar no buraco para que você pudesse pisar em Seus ombros e sair.

A cápsula que retira você do centro da Terra é a fé, a corda que o iça é a graça de Deus, e, agora que você vê a luz da salvação, como vai viver os dias que lhe restam?

Feliz sábado, @migos!

Marco Aurelio Brasil, 15/10/10

Quanto custa o resgate?

Em O Resgate do soldado Ryan, de Steven Spielberg, vários soldados são sacrificados para salvar o Ryan do título, que era o último de quatro irmãos vivo. As últimas palavras do líder do grupo de resgate para Ryan são: “faça valer a pena”. Vemos um Ryan já velho, ante o túmulo de seu salvador, perguntando ansioso a seus familiares se ele teve uma vida digna.

Esta semana assistimos, extasiados, à emersão fantástica e algo miraculosa dos 33 mineiros soterrados no Chile. A façanha para tirá-los daquela situação desesperadora foi épica, e, por mais que uma vida não tenha preço, aposto como você também se pegou questionando quanto dinheiro foi empregado para salvar aquelas vidas. Fala-se em mais de 22 milhões de dólares. Bem, e aí talvez você tenha se flagrado matutando em quantas vidas há que não poderiam ser salvas com muito menos e não são? Quanto custa algum alimento diário para as milhares de pessoas que morrem de fome todos os dias?

O preço é uma coisa importante. Coloca em perspectiva a aplicação que se faz da vida do resgatado. Como o soldado Ryan é instado a viver uma vida digna do custoso sacrifício em seu favor, como deveriam aqueles mineiros pensar em viver agora?

Bem, nós temos alguma dificuldade para enxergar que estamos em uma situação tão desesperadora quanto à dos mineiros chilenos. Nós também caímos em um buraco escuro e claustrofóbico sem saída alguma. Não há saída que nós possamos abrir, não há túnel que tenhamos condições de cavar. Contudo, temos alguns brinquedos, temos programas de TV bacanas, temos sonhos a respeito de uma casa maior ou de algum tipo de fama, por isso somos tentados a ignorar que necessitamos de uma sonda espetacular para nos salvar.

Jesus Cristo desceu muito mais fundo do que aquela sonda para resgatar você. Ele não exige um único centavo seu; a sua salvação é inteiramente gratuita para você. Mas não para Ele. Para Ele, ela custou tudo. No Chile, ninguém colocou a mão no próprio bolso, foi o governo federal quem custeou o regate, mas o muito mais espetacular resgate em seu favor custou o sangue de Quem veio em seu resgate. Ele precisou Se diminuir e Se deixar matar para ter sucesso na missão. Ele ocupou o seu lugar no buraco para que você pudesse pisar em Seus ombros e sair.

A cápsula que retira você do centro da Terra é a fé, a corda que o iça é a graça de Deus, e, agora que você vê a luz da salvação, como vai viver os dias que lhe restam?

Feliz sábado, @migos!

Marco Aurelio Brasil, 15/10/10

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O outro enredo

Eu sempre gostei de livros e filmes que mostram histórias paralelas que se cruzam no final ou que, sem seus protagonistas saberem, influenciam nos desenlaces umas das outras. Eles estimulam a reflexão no fato de que somos impactados por coisas que nem imaginamos, coisas que estavam em movimento muito antes de nos atingirem e, de igual maneira, nós também influenciamos pessoas e acontecimentos que nos seria impossível prever ou mesmo suspeitar.

Sábado passado, na classe de escola sabatina, discutíamos a existência de dois enredos paralelos no livro de Jó. Há uma história acontecendo na Terra e outra acontecendo no Céu. Para nós, os leitores, claramente uma influencia na outra. O enredo da Terra tem seu piparote inicial no Céu, na discussão de Deus com Satanás, e o final do enredo celeste depende de como as coisas se desenvolvem na Terra também. Satanás teria sido o vitorioso no repto que lançou a Deus caso Jó tivesse adotado outra atitude.

Talvez a conclusão mais relevante que se tira daí tenha a ver com o fato de que Jó começa e termina a história sem conhecer o enredo celeste. Ele não faz ideia da razão pela qual está sofrendo daquele jeito absurdo e mesmo quando Deus lhe aparece, no fim, não há qualquer indicação para ele do enredo celeste. Bem, podemos ter a certeza de que a nossa história também tem múltiplos enredos paralelos, sendo o mais relevante deles o que se desenrola no Céu. E, como Jó, não sabemos o que acontece lá.

Na classe de escola sabatina algumas pessoas manifestaram desconforto com isso. Uma mulher queria a todo custo entender porque Deus havia concedido o visto americano só para depois ele ser negado. Querer saber o porque não é problema. Jó também quis. Jó insistiu em entender a razão de tudo estar acontecendo e a Bíblia diz que ele não pecou contra Deus, logo, essa insistência em tentar entender não é um problema. Só que Jó não teve resposta. O problema haveria se ele deixasse de confiar no Deus que não respondia a suas perguntas, se ele “amaldiçoasse a Deus”, como sugeriu sua mulher.

Jesus diz que devemos nos humilhar e tornar como crianças para ver a Deus. Isso implica em que reconheçamos que a maior parte do conhecimento de tudo o que existe simplesmente não cabe em nós. Somos pequenos demais para saber. E, como pequenos demais, como crianças, o único jeito de andarmos em segurança num universo de desconhecimento é confiando em alguém maior e segurando em sua mão.

Alguma coisa está acontecendo lá em cima. Não vamos saber o que tão cedo, mas uma coisa podemos saber. Se passamos tempo com Deus, se nos familiarizamos com Ele, podemos saber que Ele fará com que tudo conspire para nossa felicidade final. Confie no Senhor e o resto Ele fará.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Para quem pensa estar em pé

Acreditamos estar vivendo momentos solenes da história deste mundo. Aquilo que Paulo chamou de “os fins dos séculos”. Ao dizer isso, ele afirma que há na história do povo hebreu libertado do Egito uma série de advertências específicas para nós (I Coríntios 10:1-13), mais especificamente cinco:

1. Não cobiçar as coisas más, como eles cobiçaram (v. 6). É claro. Aquilo que desejamos determina aquilo que somos. Não dá para ser bom desejando coisas más, ainda que chamemos as coisas más com outros nomes, mais brandos.

2. Não sejamos idólatras (v. 7), e ele explica isso assim: “o povo assentou-se a comer e a beber, e levantou-se para folgar”. Mas em que sentido comer, beber e folgar configuram idolatria? Ter um ídolo é ter algo venerado, algo que se fica contemplando longamente, algo que captura nossa afeição de maneira praticamente exclusiva. Comer, beber e folgar era uma consequência da idolatria, e não a idolatria em si, porque se aquilo que adoramos é menos do que Deus, nosso padrão moral é rebaixado automaticamente, e passamos a ter prioridades distorcidas; passamos a empregar nosso tempo e nossos recursos de forma irresponsável. A vida passa a ser só uma sucessão de banquetes e orgias, em maior ou menor grau.

3. Não cometamos imoralidade sexual (v. 8). Outra consequência de cobiçar coisas más e de colocar alguma outra coisa no lugar de Deus. Nossa sexualidade, dada ao homem como um maravilhoso presente pelo próprio Deus, acaba servindo como veículo de satisfação própria unicamente. No sexo segundo o padrão de Deus, o homem está a serviço da mulher e a mulher a serviço do homem. O sexo só é amplamente satisfatório para ambos quando ambos controlam certos impulsos egoístas. O sexo, portanto, é outra escola divina de serviço. Qualquer forma de imoralidade sexual desvirtua essa dinâmica e o que era uma benção se torna facilmente em maldição.

4. Não tentemos ao Senhor (v. 9). Abusar da paciência de Deus é outra advertência que nos é dada pela história do povo de Israel no deserto. Podemos contar com Sua misericórdia indefinidamente, mas um dia Ele vai ter que mudar de tática conosco. E isso pode doer. Deus apela ao nosso coração infinitas vezes e de infinitas formas. Negar consistentemente atender a esses apelos, como alguns hebreus fizeram, pode ser fatal.

5. Não murmuremos (v. 10). Há muitos cristãos que vivem resmungando sua sorte. Vi alguns cujo maior prazer é nos momentos em que podem se levantar na igreja e fazer pedidos de oração, quando desfiam um interminável rol de desgraças que recaiu sobre si. Bem, quem é grato não murmura. E temos razões de sobra para ser gratos, a começar por Jesus Cristo e Seu sacrifício na cruz. Estou acostumado a lidar com isso com meus filhos. Podemos ter tido um dia fantástico, com passeios, presentes, brincadeiras, mas eles são hábeis em achar razões para murmurar e reclamar, às vezes. Sei a indignação que isso me causa, portanto, posso imaginar qual é a de meu Deus quando faço o mesmo.

O texto termina assim: “aquele, pois, que pensa estar em pé, olhe não caia. Não vos sobreveio tentação senão humana; mas fiel é Deus, o qual não deixará que sejais tentados acima do que podeis resistir, antes, com a tentação dará também o meio de saída, para que a possais suportar” (VS. 12 e 13). Em suma, não há desculpa plausível para escorregar em qualquer desses pontos.