terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Uma trama superior

Possivelmente a frase que eu mais escuto é: pai, quer brincar comigo? E graças a Deus às vezes a resposta pode ser sim. E aí sentamos os três, espalhamos os bonecos de heróis e do Star Wars no chão e começamos a montar nossos exércitos. Cada um escolhe dois de cada vez. Essa é a fase mais longa da brincadeira. Porque, uma vez montados os exércitos, a despeito de minhas tentativas para inocular alguma trama mais rebuscada na história (do tipo, este aqui é o rei do meu país. O filho mais velho dele é muito orgulhoso e ambicioso. O pai dele falou para não atacar ninguém do seu país, mas ele desobedeceu e aí...) a coisa sempre descamba pra pancadaria. Que, invariavelmente, termina com o Davi, de 6 anos, pegando um boneco dele e derrubando todos os meus de uma vez só.

Aí, por ser dezembro, e por dezembro ser propício a retrospectivas e balanços de todo gênero, eu olho para trás e vejo os exércitos inimigos que se levantaram contra mim. E lembro das orações por reforços que fiz. E noto que sou muito parecido com o Davi: gostaria que um boneco muito forte entrasse no ringue e amassasse todos os inimigos em poucos segundos e eu seguisse feliz e contente. Vitorioso na batalha.

Mas Deus... Deus é dado a tramas mais rebuscadas. Deus gosta de alguma complexidade no enredo. Surpresas. Inclusive daquelas que eu rotulo como desagradáveis. E as batalhas se fazem mais longas. E nem sempre eu tenho gosto de vitória na boca.

Quem pode reclamar do enredo do melhor escritor?

Se meu plano era seguir sossegado por haver vencido todos os inimigos, percebo que, na trama superior de meu Deus, a confiança decorre não das vitórias passadas, mas do simples fato de seguir batalhando.

Porque o livro de minha vida não há de ser um livro qualquer. Será uma obra prima.

Que em 2014 você confie no Escritor.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Quem fez tudo isso?

E 2013 acabou. O que resta dele são meros estertores, últimos suspiros de um moribundo. E, como ainda faltam algumas ceias, presentes, confraternizações e projetos por terminar, talvez você ainda não tenha respirado fundo e olhado para trás, para colocar 2013 numa lâmina de microscópio, numa balança, e se perguntar se o saldo é positivo ou negativo.

Haverá bençãos, decerto, quando o fizer. Haverá conquistas. Trocou de carro? Comprou a casa? Casou? Começou a namorar? Nasceu seu filho? Seu filho fez mais um aniversário? Teve forças para terminar aquele relacionamento que não era saudável? Venceu aquele hábito ruim? Foi promovido? Aumentou o salário? Sarou de uma doença? Viu o nascer do sol pelo menos uma vez? Comeu coisas maravilhosas? Passou horas magníficas com a família ou com amigos? Foi aprovado naquele concurso ou naquele emprego? Teve seu projeto aprovado? Publicou um livro? Realizou um sonho velho? Ou novo? Viajou? Voltou bem? Ouviu um elogio inesperado? Andou pelas ruas da cidade e não lhe aconteceu alguma tragédia? Aconteceu alguma tragédia e
conseguiu sair daquela situação? Teve problemas e conseguiu superá-los? Teve problemas e não conseguiu superá-los mas achou paz no meio dessa tormenta assim mesmo? Leu ótimos livros? Viu ótimos filmes? Amou? Foi amado?

"Mas vigiem para não esquecer do Senhor, o seu Deus, não cumprindo os seus mandamentos, as suas leis e os seus decretos, que hoje ordeno a vocês, para que não aconteça que, depois de terem comido e estarem satisfeitos, depois de terem construído belas casas para morar, e depois de multiplicarem o seu gado e os seus rebanhos e aumentarem a prata e o ouro, e todos os seus bens, o seu coração fique orgulhoso e venham a esquecer.(...) O Senhor agiu assim para que vocês nunca viessem a pensar: 'Conseguimos estas riquezas com a nossa própria força e capacidade'. Lembrem-se sempre do Senhor, o seu Deus, que dá a vocês a capacidade para enriquecer, confirmando a aliança que fez com os seus antepassados, conforme se vê hoje" (Deuteronômio 8:11-18).

Quando puder parar e olhar para trás e achar muitas, muitas bençãos espalhadas pelo caminho que fez, não esqueça de agradecer o Autor delas. Não coloque no final desse caminho de pérolas a lata de lixo do esquecimento. Não roube a glória que é dEle. 

E que, reconhecendo de onde essas coisas todas realmente vêm, tenha esperança para o que vem pela frente.

Feliz sábado, @migos! Foi uma grande honra tê-los comigo durante mais este ano. Que Deus os abençoe tão abundantemente e em tantas áreas distintas de sua vida quanto Ele mesmo está louco de vontade de o fazer.
Marco Aurelio Brasil, 20/12/13

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O Jesus da esquina

Agora pense nos encontros que Jesus teve e que marcaram a vida das pessoas com quem se encontrou. Zaqueu. Nicodemos. A samaritana. Maria. O cego Bartimeu. Os dez leprosos. O paralítico de Betesda. O jovem rico. Acrescente à lista quem mais você lembrar e depois responda: quantos desses encontros ocorreram na sinagoga?

E a contestação que daí decorre continua quando pensamos nos esforços de Paulo para pregar o evangelho. Esta semana topei mais uma vez com este parágrafo de John Stott: "Quando contrastamos muito do evangelismo contemporâneo com o de Paulo, a superficialidade atual vem imediatamente à tona. Nosso evangelismo tem a tendência de ser muito eclesiástico (convidar pessoas para ir à igreja), ao passo que Paulo também levava o evangelho ao mundo secular. Somos muito emocionais (apelos para uma decisão sem um fundamento adequado para a compreensão), ao passo que ele ensinava, arrazoava e tentava persuadir; e somos também muito superficiais (fazendo breves encontros e esperando resultados rápidos), ao passo que ele ficou em Corinto e Éfeso por cinco anos plantando fielmente a semente do evangelho e fazendo a colheita no tempo devido.” (Cristianismo Autêntico).


E o que mais me interessa hoje aqui é o primeiro ponto: queremos levar pessoas à igreja para que elas se encontrem com Jesus, mas Ele próprio não privilegiava esse local como ponto de encontro com ninguém.

Para além da dimensão individual que deveria ser impactada por essa constatação (“vou pedir que Deus me ajude a levar Cristo comigo por onde for, a começar pelo meu ambiente de trabalho, minha escola e minha vizinhança”), gostaria de apontar a dois exemplos atuais de iniciativas coletivas de levar Cristo para as esquinas onde as pessoas passam, dois exemplos curiosamente da mesma comunidade, a igreja adventista de Vila Olímpia.

Os jovens dessa igreja decidiram distribuir garrafas de água nos sábados à noite no bairro em que a igreja está e que é famoso por suas muitas casas noturnas. “Vai pra balada? Não esqueça de tomar muita água!” Simples assim. E, quando perguntados quem eles são, a resposta costuma ser: “pessoas preocupadas com o seu bem estar”. Cristãos dispostos a apontar o dedo e julgar já há bastante, gente disposta a oferecer água é que estava faltando.

Outra iniciativa deles: imagine quinze a vinte pessoas empunhando cartazes com os dizeres “quer desabafar?” em plena Avenida Paulista no final de uma sexta-feira. Ao final de suas duas a três horas oferecendo a oportunidade para qualquer um vir e desabafar, cada um desses jovens terá ouvido entre quinze e vinte pessoas.

Ambas as iniciativas têm atraído pessoas, gente querendo se juntar a eles, mas o propósito não é o de aumentar o número de membros da igreja. Afinal de contas, Jesus não curava ninguém com o propósito de aumentar o número de seus discípulos.

Algumas poucas pessoas têm encontrado Jesus Cristo nas esquinas de São Paulo e Ele não está pregando aos berros; está se importando com elas. As outras milhões de pessoas continuam esperando por mim e por você.