sexta-feira, 29 de maio de 2015

Oro por você

As cartas de Paulo aos efésios, filipenses, colossenses e primeira aos tessalonicenses, além da enorme profusão de pérolas belíssimas e conceitos profundos, têm outra coisa em comum. Todas elas têm em seu começo uma confissão do apóstolo sobre que orações ele faz por cada uma dessas comunidades. 

Observando cada essas preces eu descubro não apenas como minha vida de oração, especialmente a oração intercessória - tão necessária hoje - é limitada e pouco criativa, mas também que tipo de coisas eu posso almejar para a minha vida e a das pessoas que Deus me deu por quem me preocupar. Porque quando Paulo afirma que ora por algo em relação a alguém, duas coisas eu posso saber: 1. essa é uma coisa boa, é bom almejar isso, e 2. aquilo pelo que ele ora é factível, é possível de se alcançar.

Aos efésios ele ora pedindo "o espírito de sabedoria para que vejam claramente e realmente compreendam quem é Cristo e tudo o que fez por vocês" "para que vocês comecem a compreender como é incrivelmente grande o seu poder para conosco" (1:17-19).  Note que Paulo está escrevendo a cristãos, pessoas que haviam aceitado uma fé incipiente, uma religião de minoria, e isso só havia sido possível mediante a exposição do evangelho sobre Jesus e sobre Deus. Ainda assim essas pessoas precisavam conhecer quem de fato era Deus e o que de fato Ele havia feito em seu favor. Eu também preciso disso. Constantemente preciso ser relembrado da enormidade da cruz.

Para os filipenses sua oração é parecida, mas acrescenta elementos novos. Ela "é que cada vez mais vocês transbordem de amor, e que, ao mesmo tempo, continuem a crescer em conhecimento e compreensão espiritual, pois eu desejo que vocês sempre vejam com toda a clareza a diferença entre o certo e o errado, e que sejam intimamente puros... que vocês possam estar sempre fazendo coisas boas, pois resultará em muita glória e louvor ao Senhor" (1:9-11)Porque essa sabedoria e discernimento redundam em amor e pureza. Nunca em leniência, egoísmo e indiferença.

Pelos colossenses Paulo também ora para que "Deus os faça compreender o que ele deseja que façam, e que os torne sábios nas coisas espirituais" (1:9), mas ora também "para que vocês sejam cheios da sua gloriosa e poderosa força" para avançar com "perseverança, paciência e alegria" e "sejam sempre agradecidos ao Pai" (11-12). Aqui, além da sabedoria, Paulo pede algo com que muitas vezes nós nos conformamos em não ter: progresso, evolução, crescimento.

Coisas que, quando ele ora pelos tessalonicenses, é para agradecer porque eles já as demonstravam: "quando falamos com o nosso Deus e Pai a respeito de vocês, nunca nos esquecemos do trabalho que resulta da fé, do esforço motivado pelo amor, e da perseverança que vem da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo" (1:3).

E quanto a nós, nos limitamos a orar por proteção, por um emprego para o desempregado, pela cura de um doente e outras coisas que certamente já estão na agenda de Deus. Não que sejam coisas pelas quais não devemos orar, mas Paulo me mostra que há pedidos ainda mais urgentes a se fazer. Nossa oração é ruim porque nosso conhecimento dAquele a Quem oramos é ruim. 

Oro para que você que está lendo isto tenha estas coisas também: sabedoria sobre Deus e sobre o que é certo e o que é errado, amor, pureza, gratidão e progresso. Amém.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

O inimigo secreto

"E aí, como vai essa força?" "Como está a luta?" Expressões cotidianas como essas e tantas outras revelam esse sentimento de estarmos numa batalha incessante. Estamos todos lutando, mas contra quem?

Por toda a carta aos efésios, Paulo diz que podemos celebrar e agradecer pela salvação e pelo que ela fez em nossa vida. A salvação mudou tudo. Já agora podemos pensar diferente, sentir diferente, andar numa direção diferente da do resto do mundo todo, eleger prioridades diferentes.

Aí, no finalzinho da carta, ele foca em algumas relações específicas. Ele diz que o marido cristão ama a sua mulher, e não com um amor banal qualquer, com um amor igual ao que Cristo mostrou pela igreja, ou seja, um amor de autonegação e sacrifício. As mulheres devem ser submissas a esse homem que as ama e a razão está no verso 33 do capítulo 5 quando, ao resumir esse conselho, ele diz que o homem deve amar a mulher e a mulher respeitar o marido. Porque a mulher precisa ser amada e o homem precisa ser respeitado. Assim fazendo, o casal estará atendendo às necessidades emocionais mais profundas um do outro.

Paulo então diz que os filhos devem obedecer e respeitar os pais, como ordena o mandamento, ao passo que os pais devem abster-se de irritar os filhos, aconselhando-os e dirigindo-os com amor. Segundo o novo código civil brasileiro, todo contrato deve ser regido pela "boa fé objetiva", que é um conjunto de comportamentos anexos ao contrato e que envolve inclusive ajudar a outra parte a cumprir a sua parte. Acho que é algo assim que Paulo pede dos pais: ajudem seus filhos a guardar o mandamento.

Por fim há os escravos. Ao se dirigir a estes, Paulo ecoa as palavras de Cristo a respeito de andar a segunda milha, etc. Sirva com amor. Sirva diferentemente da forma como escravos mortos espiritualmente fazem. E aos donos desses escravos, o conselho é: não use de ameaças, lembre que eles são pessoas por quem Cristo morreu assim como você. 

É nesse contexto que o apóstolo faz uma afirmação das mais interessantes: "pois não é contra carne e sangue que temos que lutar, mas sim contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes do mundo destas trevas, contra as hostes espirituais da iniquidade nas regiões celestes" (Efésios 6:12).

Pela nossa dificuldade de enxergar as coisas como elas realmente são (ou seja, por não conseguirmos enxergar pela ótica espiritual), temos a tendência de confundir a pessoa com o nosso inimigo. O cônjuge. O pai. O filho. O chefe. O empregado. 

Você respira fundo de manhã e diz: vamos pra luta. Você pensa nessas pessoas como antagonistas. Mas Paulo diz que você pode celebrar a salvação e pensar diferente e sentir diferente e andar numa direção diferente da do resto do mundo. Você pode lembrar que de fato há uma batalha acontecendo, mas o real inimigo é invisível, é espiritual, e se vence com forças espirituais, forças que você não tem mas que estão à sua disposição graças a Cristo Jesus.

O cristianismo faz essas relações tão cheias de conflitos mais fortes, mais unidas, mais coesas.

Pare de lutar a batalha errada. Pare de focar o alvo errado. 

Você pode ser diferente.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Mais sublime

Suspeito que se eu tivesse acabado de escrever "Ouse Crer" hoje, e não há dois anos e meio como foi, o livro teria umas cem páginas a mais. É que para todo lado que olho e especialmente a cada nova página da Bíblia que releio, vejo evidências do acerto da conclusão a que cheguei e que me impeliu a escrever. 

A conclusão, resumidamente, foi: o objetivo supremo de nossa trajetória neste mundo é desenvolver uma relação de confiança com Deus. É isso que determina nosso destino eterno. Logo, tudo que nos acontece é uma oportunidade para chegarmos nesse fim.

Hoje, por exemplo, estava no trânsito ruminando uma outra ideia sobre a qual escrever. Mas aí o trânsito para e eu pego minha Bíblia Viva para dar uma lida e o que leio me traz uma mensagem que absolutamente se impõe. 

Em Efésios 3, Paulo está dizendo aos cristãos de Éfeso tudo o que eles têm depois de haverem aceitado o evangelho de Jesus. Agora eles estão em pé de igualdade com os judeus, podem se sentir honrados e animados (verso 13), podem experimentar "as riquezas gloriosas e ilimitadas"  e o "fortalecimento interior por meio do Espírito Santo" (verso 16). São todas coisas fantásticas, mas o melhor vem na sequência: "E oro para que Cristo habite em seus corações, à medida que confiarem nele, e que vocês aprofundem suas raízes no solo do amor maravilhoso de Deus; e que vocês, junto com todos os filhos de Deus, possam compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Cristo; e por si mesmos possam experimentar esse amor, embora seja ele tão grande que vocês nunca verão o seu fim, nem o poderão conhecer ou compreender completamente. E dessa maneira, vocês ficarão cheios de toda a plenitude do próprio Deus" (versos 17-19).

Oh, yeah.

Note você que experimentar toda a extensão do amor de Deus, ficar cheio da plenitude dEle, são um subproduto de ter Cristo habitando nosso coração. E, para a coisa não ficar abstrata demais, o método para ter Cristo habitando em nosso coração não é envolve outra coisa senão confiar nEle. Ele habita no seu coração "à medida que confiarem nele".

O Espírito Santo saiu cedo da cama hoje e espalhou pelo meu caminho e pelo seu um bilhete que diz: a sua existência pode ser muito, muito mais sublime do que essa luta vã e inglória para não perder as coisas que você acumulou, ou do que essa sua luta por sobreviver, ou do que esse esforço estafante por uma esmola de carinho e atenção. Você pode ter nada menos que a plenitude do próprio Deus. Você pode ter um amor tão imensurável que não dá para entender, mas dá, ah, sim dá, para experimentar. Você só precisa desarmar suas defesas, jogar a toalha, abdicar do controle. Você só precisa olhar para cima e sorrir. E confiar.


sexta-feira, 1 de maio de 2015

Lanterna


A certa de altura de Ouse crer, escrevi isto aqui: "Desde crianças, ficamos empolgados com a história de José. Ficamos chocados pela forma como ele foi traído pelos irmãos, vendido como escravo para uma terra estrangeira, aprisionado, mas nos regozijamos quando ele, enfim, é colocado como governador do Egito.Tudo para que sua família fosse salva da fome que veio no tempo das vacas magras. Ele passa a ser um herói para nós. Portanto, conscientemente ou não, alimentamos a perspectiva de que há, em maior ou menor escala, um posto de governador do Egito esperando por nós em algum momento de nossa jornada. No entanto, desconsideramos o fato de que Deus poderia ter resolvido o problema da fome de outra forma qualquer, começando por evitar a própria seca que a ocasionou"

O fato de que algum bem foi extraído de todo aquele sofrimento injusto nos ajuda a ver sentido na coisa toda. Em nossa mente simplista e pequena, pensamos: ah, então ele sofreu tudo aquilo para isso. Como se ele precisasse estar naquela prisão naquele momento pois esse seria o único jeito que Deus encontrou de José ser promovido a governador do Egito... Como estamos sendo fustigados pelo sofrimento e pela injustiça nós também, é importante enxergar esse tipo de causalidade.

Mas se as coisas como pensamos, a maldade dos irmãos de José e a volúpia da esposa de Potifar seriam agentes de Deus.

Acho inútil pensar se tudo que aconteceu tinha que acontecer exatamente desse jeito, mas não é inútil pensar no que Deus está fazendo com nossas cabeçadas. Em Patriarcas e Profetas, Ellen G. White afirma que José foi uma espécie de profeta para o Egito, o primeiro deles, seguido por toda sua família e as quatro ou cinco gerações de hebreus que nasceram, cresceram e morreram lá.

Assim como Abraão e Isaque haviam sido para o canaanitas. 

Nós somos a luz do mundo. No relógio divino, muito mais sábio que o nosso, havia o tempo de apontar a lanterna que era Abraão para Canaã. E, depois, chegou a hora de apontar a lanterna José para o Egito. Para que no futuro nenhum povo O acuse de falta de oportunidade.

E mais importante do que imaginar a razão exata do meu sofrimento hoje, é imaginar se Deus não estaria direcionando minha lanterna para algum canto escuro dessa Terra enquanto eu me ocupo de esconder a luz que sou embaixo do alqueire (o que quer que seja alqueire).