E
todos estes, embora tendo recebido bom testemunho pela fé, contudo não
alcançaram a promessa; visto que Deus provera alguma coisa melhor a nosso
respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados.
Hebreus 11:39 e 40
Como muitos outros espinhudos adolescentes, eu fui um
grande aficcionado por histórias em quadrinhos. Gastava todo o dinheiro que me
caía nas mãos em revistas do Batman, Homem Aranha e Cia. Eu vibrava com as
histórias seriadas, comprava as minisséries, as graphic novels, lia tudo o que
era publicado nos jornais a respeito de personagens, autores, desenhistas,
tudo...
Os heróis povoaram minhas fantasias durante muito tempo.
Wlverine, X-Men, Quarteto Fantastico, Novos Titãs e outros tantos vieram
substituir heróis de mais tempo, que eu lera nos livros juvenis, como
Dartagnan, Rolando, Lancelote, Rei Arthur, Capitão
Tormenta...
Mas um dia peguei na biblioteca da faculdade “Os
trabalhadores do mar”, de Victor Hugo, que conta a incrível saga de Gilliat, um
pescador órfão, caladão, sorumbático, que por amor a uma beldade de sua vila
vai até um rochedo em alto mar e resgata intacto o motor do barco a vapor do
pai da dita cuja, que havia naufragado ali. Uma façanha incrível, contada com
detalhes e poesia. Quando fechei o livro passei um bom tempo meditando na
história e acabei concluindo que Gilliat, esse sim, era um herói de verdade,
pois não tinha nenhum super poder, apenas determinação e sagacidade, capazes de
vencer os maiores obstáculos. Aquilo é que era herói!
Com essa conclusão, senti que estava amadurecendo. Disse
para mim mesmo: você sabe que está amadurecendo quando seus heróis mudam de
feição. E os meus estavam diferentes. Os coloridos, de capa, encapuzados, com superpoderes e abdômen tanquinho iam para um segundo plano e pessoas de carne e osso como o Eugênio,
de “Olhai os Lírios do Campo” e Lievin, de “Ana Karenina” tomavam o lugar sob
as luzes da ribalta.
Mas a pessoa que amadureceu em mim para mudar os meus
heróis provavelmente continuaria para sempre trocando seus heróis e referências
não fosse o meu eu espiritual começar a amadurecer também, no tempo em que Deus
me tocou. Assim como o vento, que não sabemos de onde vem nem para onde vai,
comecei a perceber que estava admirando pessoas diferentes outra vez. Não mais
homens capazes de vencer as forças da natureza, não mais homens capazes de
intelectualmente vencer seus problemas interiores, mas gente como a que está
estampada no "rol da fama" de Deus, em Hebreus 11, ou seja, gente que
pela fé oferece a oferta certa, que alcança testemunho de haver agradado a
Deus, que constrói barcos no meio da terra seca só porque Deus disse que
choveria, que sai da sua casa e peregrina sem destino certo porque Deus disse
que o levaria a uma terra onde sua descendência (ainda inexistente) seria a
benção de todas as nações, que é fiel a Deus mesmo sob o risco de morte numa
terra estranha, enfim, gente como Abel, Enoque, Noé, Abraão, José e Cia. que "foram apedrejados e tentados; foram
serrados ao meio; morreram ao fio da espada; andavam vestidos de peles de
ovelhas e de cabras, necessitados, aflitos e maltratados, errantes pelos
desertos e montes e pelas cavernas da terra"? (vs. 37/38).
Meus heróis mudaram de rosto e dessa vez definitivamente.
Aprendi a admirar profundamente os feitos daqueles homens e mulheres, e as
histórias que eu conhecia desde criança se revestiram de novos contornos, novos
encantos... E, por sentir que alcançara a maturidade de haver eleito heróis
realmente dignos de serem imitados e venerados, pasmei com o que Deus prometeu
para mim. Ele prometeu coisas ainda melhores a meu respeito!
Passei muito tempo sonhando em ter uma capa e um poder
sobrenatural para vencer bandidos, mas com o virar das páginas da minha
história pessoal descobri coisa muito, muito melhor. Descobri o potencial de
alcançar a promessa que moveu aqueles gigantes na fé, a promessa que eles
apenas saudaram de longe. Descobri em Deus a fonte do poder para me tornar um
herói à imagem e semelhança dos heróis mais dignos de admiração que este mundo
já viu.
Enquanto eu louvar a Deus por isso, sei que meus heróis
não mudarão mais de aparência. Que assim seja!
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