sexta-feira, 8 de abril de 2011

A terceira disciplina: jejum

Nesse mergulho nas Disciplinas cristãs, talvez o tema mais difícil de tratar seja o do jejum. Vivemos numa sociedade cada vez mais obesa, com uma variedade gigantesca de alimentos cada vez mais sedutores. Sedutores, sim, porque o paladar é, dos cinco sentidos, aquele que, uma vez atendido, dá o prazer mais intenso e instantâneo. Além disso, como a meditação, o jejum foi surrupiado por uma forma de religião pouco saudável, nesse caso baseada em mortificação da carne, autoflagelação como forma de alcançar uma experiência espiritual mais alta. Há também quem diga que ele faria mal à saúde, um preconceito que não se sustenta.

Enumerei no parágrafo acima algumas objeções erradas ao jejum mas não dei nenhuma razão para fazê-lo. Bem, que tal pensar que o jejum tem sido praticado por toda a cristandade e antes dela pelos gigantes espirituais do Velho Testamento? Como observa Richard J. Foster, a lista dos que praticaram jejum inclui nomes como Moisés, Davi, Ana, Elias, Ester, Paulo e, claro, Jesus. Além dos bíblicos, temos também nomes como Martinho Lutero, Calvino, John Knox, Wesley e Ellen White. A Bíblia descreve jejuns totais e parciais (nos quais a pessoa se abstinha de alguns tipos de alimentos que costumava utilizar no cotidiano), como o de Daniel (10:3). Descreve também jejuns individuais mas também coletivos, como o apregoado por Ester (4:16) e o do dia da Expiação, a festa anual hebréia (Levítico 23:27). O jejum tem um valor tão inestimável que Jesus afirma que há resultados que só são alcançados mediante oração e jejum (Mateus 17:21), além de dar orientações específicas para o jejum no sermão do monte (Mateus 6:16). Ali, Ele diz “quando jejuardes...”, tomando por certo que Seu povo jejuaria. Ele não diz “se jejuardes”!

Mas para que serve o jejum? Se você se lançar ao jejum como forma de tornar Deus mais benevolente consigo, como forma de atrair o favor divino, você começou mal. Ele já o ama como um pai de verdade, não há nada que você possa fazer para aumentar ou diminuir esse amor. O jejum é o que Foster chama de uma disciplina interior, tem a ver com sua relação com Deus, exclusivamente. Não precisa ser apregoada por aí. O jejum é um potencializador de outra Disciplina, a oração. Ele ajuda você a lembrar quem é que lhe sustenta.

Mas como jejuar? Foster sugere que o façamos progressivamente, com jejuns parciais de um dia por semana ou a cada quinze dias, evoluindo para jejuns completos (onde só se consome água). O jejum absoluto, aquele no qual nem água é ingerida, é uma exceção na Bíblia; é uma forma sobrenatural de jejum, não deve ser a regra e creio que nem deva ser perseguido. Como toda Disciplina, será mais difícil no começo e o prazer que se obterá do jejum só aparecerá plenamente com o tempo. Mas aparecerá.

A terceira disciplina: jejum

Nesse mergulho nas Disciplinas cristãs, talvez o tema mais difícil de tratar seja o do jejum. Vivemos numa sociedade cada vez mais obesa, com uma variedade gigantesca de alimentos cada vez mais sedutores. Sedutores, sim, porque o paladar é, dos cinco sentidos, aquele que, uma vez atendido, dá o prazer mais intenso e instantâneo. Além disso, como a meditação, o jejum foi surrupiado por uma forma de religião pouco saudável, nesse caso baseada em mortificação da carne, autoflagelação como forma de alcançar uma experiência espiritual mais alta. Há também quem diga que ele faria mal à saúde, um preconceito que não se sustenta.

Enumerei no parágrafo acima algumas objeções erradas ao jejum mas não dei nenhuma razão para fazê-lo. Bem, que tal pensar que o jejum tem sido praticado por toda a cristandade e antes dela pelos gigantes espirituais do Velho Testamento? Como observa Richard J. Foster, a lista dos que praticaram jejum inclui nomes como Moisés, Davi, Ana, Elias, Ester, Paulo e, claro, Jesus. Além dos bíblicos, temos também nomes como Martinho Lutero, Calvino, John Knox, Wesley e Ellen White. A Bíblia descreve jejuns totais e parciais (nos quais a pessoa se abstinha de alguns tipos de alimentos que costumava utilizar no cotidiano), como o de Daniel (10:3). Descreve também jejuns individuais mas também coletivos, como o apregoado por Ester (4:16) e o do dia da Expiação, a festa anual hebréia (Levítico 23:27). O jejum tem um valor tão inestimável que Jesus afirma que há resultados que só são alcançados mediante oração e jejum (Mateus 17:21), além de dar orientações específicas para o jejum no sermão do monte (Mateus 6:16). Ali, Ele diz “quando jejuardes...”, tomando por certo que Seu povo jejuaria. Ele não diz “se jejuardes”!

Mas para que serve o jejum? Se você se lançar ao jejum como forma de tornar Deus mais benevolente consigo, como forma de atrair o favor divino, você começou mal. Ele já o ama como um pai de verdade, não há nada que você possa fazer para aumentar ou diminuir esse amor. O jejum é o que Foster chama de uma disciplina interior, tem a ver com sua relação com Deus, exclusivamente. Não precisa ser apregoada por aí. O jejum é um potencializador de outra Disciplina, a oração. Ele ajuda você a lembrar quem é que lhe sustenta.

Mas como jejuar? Foster sugere que o façamos progressivamente, com jejuns parciais de um dia por semana ou a cada quinze dias, evoluindo para jejuns completos (onde só se consome água). O jejum absoluto, aquele no qual nem água é ingerida, é uma exceção na Bíblia; é uma forma sobrenatural de jejum, não deve ser a regra e creio que nem deva ser perseguido. Como toda Disciplina, será mais difícil no começo e o prazer que se obterá do jejum só aparecerá plenamente com o tempo. Mas aparecerá.

Feliz sábado, @migos!
Marco Aurelio Brasil, 08/04/11

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A segunda disciplina: oração

Meditação, jejum, estudo e outras disciplinas são musculação; oração é exercício aeróbico. É o mais importante, é aquele que deve ser praticado com maior regularidade. Nosso alvo é alto: “orai sem cessar” (I Tessalonicenses 5:17), ou seja, desenvolver uma tal intimidade com o Criador que cada pensamento nosso deságue nEle ou numa breve conversa com Ele. É o que Ellen White chama de “levar cada pensamento cativo” a Deus. Richard Foster pontua a importância da oração afirmando que ela é “a avenida central que Deus usa para nos transformar”.

Por outras palavras, não há vida espiritual rica e abundante sem o exercício intenso da disciplina da oração, como eu próprio tenho aprendido, graças aos períodos atribulados em que as muitas obrigações do dia sufocam esses momentos imprescindíveis. Como todo exercício aeróbico, parar de praticar significa ter muito mais dificuldades na hora de retomar.

Só a oração nos leva à atmosfera celeste, nos faz acostumar com os postulados do Céu, nos faz respirar o ar que Deus planejou que fosse nosso habitat pela eternidade afora. A oração ajusta nossas expectativas a respeito de Deus, nos ajuda a não esperar dEle aquilo que Ele não prometeu. A oração ajusta nossos sonhos e projetos, nos inspira a ter sonhos e projetos melhores. E, como os discípulos de Jesus bem o sabiam, oração é uma coisa que se aprende (“Senhor, ensina-nos a orar” Lucas 11:1).

É muito difícil concentrar nestes poucos parágrafos tudo o que há para ser dito sobre oração, mas talvez estas dicas práticas possam ajudar a quem estiver dando os primeiros passos no exercício dessa disciplina:

1. Tenha um tempo separado para isso – nem que seja no trânsito, na academia, no ônibus, no trem. Se você não tiver um santuário em sua casa onde o mundo pode ser desligado, encontre no seu cotidiano um espaço em que pode orar. Este período cotidiano vai ser importante no começo, para que você se sinta “em casa” na oração e passe a orar “sem cessar”, no trabalho, em casa, no lazer, onde for;
2. Prepare-se para ser fortemente assediado – sendo a oração da importância que é, natural esperar que Satanás não deseje que você ore. Todo tipo de pensamento vai atravessar sua mente no momento de oração, vai ser difícil se concentrar. Comece a oração pedindo que Deus o ajude a orar;
3. Saiba de antemão o que vai orar. Nessas coisas, ser organizado é tão ou mais importante como nas outras todas. Se você começar a orar sem um roteiro, vai ser mais fácil ter o pensamento arrebatado para longe. Um caderninho com anotações de oração vai ajudar. Liste pessoas e situações que você se sente impressionado a orar por. Seja específico. Anote exatamente qual aspecto você gostaria que sofresse a intervenção divina.
4. Lembre-se que a oração não é uma ferramenta para convencer a Deus de qualquer coisa. Como diz o brocardo cristão, “não há nada que você possa fazer para Deus o amar menos. Não há nada que você possa fazer para Deus o amar mais”. Ele já ama você, já quer lhe dar o melhor. Aproxime-se dEle como um filho se aproxima de um pai que está constantemente dando mostras de que o ama e de que ele é sua prioridade número um. E, se Ele houver feito uma promessa, como as que colocou na Bíblia, não ore pedindo que Ele se lembre dela. Ele não esquece. Ore pedindo para que se Ele estiver agindo, que você seja incluído no processo. Ore agradecendo antes de receber. Filhos amados não duvidam do pai.

Como diz Thomas Kelly, citado por Richard Foster, “existe uma forma de ordenar nossa vida mental em mais de um nível de cada vez. Em um nível podemos estar pensando, discutindo, olhando, calculando, dando conta de todas as demandas de nossa vida exterior. Mas lá no fundo, por trás dos bastidores, em um nível mais profundo, nós podemos também estar em oração e adoração, canção e louvor, numa suave receptividade ao sopro divino”.

Feliz sábado, @migos!
Marco Aurelio Brasil, 01/04/2011