sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O que você quer ganhar?

Naquele dia seus ouvidos foram assaltados por um ruído incomum. Era uma multidão que vinha para Jericó. Tateando ele conseguiu segurar as vestes de alguém para perguntar o que estava acontecendo, quando ficou sabendo que Jesus, o nazareno, estava chegando à cidade. Era sua grande chance. Ele largou para trás sua capa, provavelmente uma das coisas mais preciosas e valiosas que tinha, não queria que nada atrapalhasse seu caminho até Jesus. Começou a gritar desesperadamente por Jesus, e conseguiu fazer com que sua voz suplantasse o barulho da multidão. Jesus olha para aquele cego e pergunta o que ele quer.

Imagine Bill Gates chegando para um filho seu e perguntando o que ele quer ganhar de natal. Se você é filho de um dos homens mais ricos do mundo, o que pede? Suponho que não seja um brinquedinho que dão no lanche do McDonald´s ou uma nova mochila para ir à escola.

- Senhor, eu quero ver – foi a resposta do cego.

Num sábado abafado Jesus desceu ao tanque de Betesda, onde achou um paralítico de nascença. Para ele também veio a pergunta: o que você quer? E aquele homem disse que tudo o que queria era ter alguém para levá-lo para dentro do tanque quando um anjo viesse e agitasse a água. Estava ali, à sua frente, quem podia dar muito mais, podia dar logo a cura, mas ele não sabia quem era Jesus nem do que Ele era capaz e essa ignorância tornou seu pedido absurdo.

Quando você sabe quem é Jesus e do que Ele é capaz você não enrubesce na hora de pedir. Você não sonha com o brinquedinho do McDonald´s. Você pede o que não pode pedir a mais ninguém, você estufa o peito e pede o impossível. Quando você reconhece a face de Deus e ouve Sua pergunta: o que você quer que Eu faça?, se você nunca viu pede logo para ver, se nunca andou pede para andar, se não voou pede para voar, se sofreu pede a cura, se caiu e caiu repetidas vezes, pede a salvação. Porque é isso o que se pode esperar de um Deus: o que mais ninguém neste mundo pode fazer, o impossível, o sonho mais ambicioso, o projeto mais fantástico.

Você pode pedir qualquer coisa a Deus, mesmo uma coisa pequena e irrelevante, mas Ele tem muito mais a dar e está ansioso para ouvir o que você vai responder quando hoje lhe perguntar: o que você quer, meu filho?

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Manifesto

“Portanto, meus irmãos, o que é que deve ser feito? Quando vocês se reúnem na igreja, um irmão tem um hino para cantar; outro, alguma coisa para ensinar; outro, uma revelação de Deus; outro, uma mensagem em línguas estranhas; e ainda outro, a interpretação dessa mensagem. Que tudo seja feito para o crescimento espiritual da igreja” (I Coríntios14:26, NVLH).

Procura-se uma igreja em quem não se assistam cultos, mas onde cultos a Deus sejam prestados.

Procura-se uma igreja em quem cada um de seus membros se sinta à vontade para falar, cantar, ler algo que o tocou, onde a adoração seja orgânica e coletiva e aconteça em espírito e em verdade. Uma igreja em quem o louvor seja espontâneo, orgânico, natural como respirar e onde todos tenham a oportunidade de participar, não apenas uns poucos iniciados na arte.

Procura-se uma igreja em quem seus membros tenham tanta ou mais atenção nas necessidades de seus irmãos do que na retórica do que é dito.

Procura-se uma igreja em quem qualquer pessoa seja acolhida com calor, independentemente de estar vestido conforme o padrão cultural momentâneo.

Procura-se uma igreja em quem intuitivamente se odeia a zona de conforto, a estagnação espiritual, a mesmice e o automatismo, em quem nada é feito só porque deve ser feito ou só porque está escrito em algum lugar que deve ser feito.

Procura-se uma igreja em quem a necessidade de haver ordem não seja desculpa para inibir a espontaneidade.

Procura-se uma igreja capaz de respeitar o nível de maturidade espiritual de cada membro.

Procura-se uma igreja que primeiro envolva as pessoas, para só então pontuar a centralidade do amor a Deus e só depois disso, exclusivamente depois disso, aponte para reformas comportamentais.

E, enquanto eu não encontrar uma igreja assim, serei a igreja assim.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O segundo mandamento

O primeiro e maior mandamento é amar a Deus. O segundo, infelizmente, não é aquele do qual gostamos mais (aquele que conseguimos cumprir com um pé nas costas...); é um mandamento dos mais difíceis: "O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.” (Mateus 22:39 e 40).

O primeiro problema é justamente esse negócio de eu ser obrigado a amar. Amor é cada vez mais visto como uma coisa que brota espontânea, que não se pode controlar. Claro, a velha palavra amor é usada e abusada; você ama sua mãe, mas também ama pastel de queijo. Colocadas lado a lado fica evidente que, embora se empregue a mesma palavra, não se trata da mesma coisa, em absoluto. Bem, o primeiro problema se supera quando nos damos conta de que confundimos amor com paixão, com uma sensação. Amor não é sentimento, é algo bem maior que isso e não será amor – mas apenas um tipo de paixão - enquanto não passar pela razão. Enquanto não passar por uma decisão. Você decide amar. Você escolhe amar. Nesse sentido, o amor pode, sim, ser um mandamento.

Mas há um pressuposto para o amor do segundo grande mandamento: ele vem depois do amor do primeiro grande mandamento. É apenas nessa moldura que ele faz sentido. Paulo sabia bem disso: “Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como vossos servos, por amor de Jesus” (II Coríntios 4:5). Paulo servia e amava aos irmãos porque antes amava Jesus.

Como observa Oswald Chambers, “se estamos devotados à causa da humanidade, logo estaremos esmagados e de coração partido, porque vamos frequentemente encontrar mais ingratidão dos homens do que encontraríamos de um cachorro; mas se nosso motivo é amor a Deus, nenhuma ingratidão pode impedir-nos de servir a nossos irmãos... Quando percebermos que Jesus Cristo nos serviu a despeito de toda nossa mesquinharia, nosso egoísmo e pecado, nada que os outros nos façam poderá exaurir nossa determinação de servi-los em nome dEle”.

Há dois grandes textos bíblicos que servem para identificar os verdadeiros seguidores de Jesus. Um deles é este: “Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Apocalipse 14:12). O outro é este: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (João 13:35). Curiosamente, ouvi muito mais sermões e estudos bíblicos sobre o primeiro texto do que sobre o segundo.

Você quer seguir a Cristo? Agora você sabe claramente o quanto isso vai lhe custar. Você será obrigado a decidir amar. Você se verá na contingência de agir como quem já ama, mesmo que não "sinta" isso. Você terá que abrir mão do orgulho próprio, do que você chama de dignidade, do que você chama de senso de justiça, e trocar tudo isso pelo tipo de sentimento que Jesus teve pela humanidade que o escorraçou, açoitou, torturou e matou. Não há outro caminho. Mas é só neste caminho que há felicidade.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Nova ordem

O que os discursos de posse dos últimos 4 presidentes norteamericanos têm em comum? Tanto Bush pai quanto Clinton, Bush filho e Obama, dois republicanos conservadores, dois democratas ditos progressistas, todos eles enalteceram a necessidade da criação de uma nova ordem mundial. É mais do que um chavão retórico; essa sutil conclamação a uma nova ordem mundial ecoa o discurso dos gurus da “nova era”, um tempo em que fronteiras regionais não fazem sentido, onde religião, raça e opção sexual não mais distinguem ninguém, exatamente como John Lennon sonhou em sua famosa “Imagine”.

Bem, você não altera a ordem mundial sem unir os povos em torno de algo. Em “Watchmen”, clássico da histórias em quadrinhos dos anos 80, a única forma de acabar com a guerra fria e a ameaça iminente de uma guerra nuclear é a simulação de um ataque alienígena. Inventa-se um inimigo comum a todos de modo que esquece-se as diferenças para fortalecer o contrataque. Claro que, para tornar mais verossímil e temível o inimigo comum, é preciso sacrificar a vida de alguns milhares de inocentes.

O ataque alienígena do mundo real aconteceu há 10 anos quando aquelas torres gêmeas no coração financeiro de Nova York ruíram. Com elas ruiu também uma parcela relevante do esteio econômico da maior economia do planeta. As seguradoras e as companhias aéreas não haveriam sobrevivido se a economia não fosse fortemente estimulada. Ela foi, com concessão de crédito barato a qualquer um, mesmo quem não tinha condições de pagar; deu certo por um tempo, a economia cresceu entre 2003 e 2008, quando, contudo, a loucura cobrou seu preço. Bancos falindo e a inauguração de uma era aparentemente extensa de recessão.

Paralelamente à concessão de crédito fácil, a opção norteamericana foi por inventar uma guerra absolutamente sem sentido onde se enterraram trilhões de dólares, boa parte deles caindo nos bolsos de aliados do regime. Ditaduras aparentemente perenes na Arábia começam a ruir e ninguém sabe pelo que serão elas substituídas, mas isso ajuda a criar a noção de progresso, de avanço, de paz e fraternidade. No Brasil e nos outros BRICS a economia tem um sopro inédito de sucesso, fomentando a ilusão de que o eixo de poder no mundo começa a se inclinar em nosso favor e de que poderemos viver num futuro próximo de forma tão irresponsável quanto os norteamericanos nas últimas décadas, consumindo de forma absolutamente insustentável.

A nova ordem mundial tem sido inaugurada de formas muito estranhas. Esquisito pensar que ela será apressada com guerras inventadas ou com essa economia em que a conta não fecha.

Enfim, precisamos é não esquecer de uma verdade com o selo de autenticidade de Jesus: nova ordem de fato, e para melhor, será inaugurada por Ele em Seu retorno. Que será breve, espero.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O primeiro mandamento

Por que desobedecemos a Deus? O que está na origem da nossa incurável incapacidade de simplesmente obedecer?

A Bíblia nos apresenta alguns grandes axiomas: Deus é amor; Deus é Criador e Mantenedor; a raça humana virou as costas para Deus ao pecar; Deus entregou Seu filho para morrer pela raça humana, etc. Dito isso, ela passa então a nos dizer o que fazer a respeito. Ela mostra como isso impacta na nossa vida. Ao resumir essa parte da Bíblia, Jesus não precisou de muitas palavras: “Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.” (Mateus 22:37-40).

O primeiro mandamento é para amar a Deus. É curioso que ele seja um mandamento, algo que você precisa fazer independentemente de querer, porque amar é o tipo de coisa que costumamos enxergar como um sentimento, uma coisa que não passa pela nossa vontade. É algo que acontece. Uma paixão. E mais curioso ainda é que o primeiro mandamento seja amar quando lemos o mesmo Jesus afirmando que “Se me amais, guardareis os meus mandamentos.” (João 14:15). Ou seja, o amor vem antes da guarda dos mandamentos, mas o primeiro mandamento é justamente amar a Deus.

Bem, talvez nosso estranhamento dessa dinâmica venha do fato de que não entendemos o que é amor. Talvez o amor passe, sim, por uma decisão racional. Você decide amar. Você primeiro decide agir como quem já ama.

Isso explica porque tanta gente desobedece a Deus. Costumamos acreditar que a desobediência nasce de uma postura antagônica a Deus, uma atitude deliberada, mas talvez ela nasça mesmo do simples fato de que não amamos a Deus. Se você tem um chefe ausente, será tentado a não obedecê-lo em tudo. E fomos nós quem ausentamos a Deus de nossa vida. Desobedecemos a Deus porque não passamos tempo suficiente com Ele para respeitá-lO e amá-lO; não passamos tempo suficiente com Ele porque não decidimos fazer isso.

Quando você ama, é impossível não obedecer. Quando você obedece, é impossível não amar. Quando decidirmos que é hora de parar de brincar com a vida, vamos escolher passar tempo com Deus, abrindo Sua palavra diariamente e orando sem cessar. Isso nos levará a amá-lO com todo o coração, toda a alma e todo o entendimento. O resto simplesmente fluirá.