sexta-feira, 22 de junho de 2012

Transição


Fazem já seis meses e pouco que me encontro em transição de carreira. Para os desavisados explico que transição de carreira é o eufemismo mais empregado atualmente para “desempregado”. Na consultoria de outplacement em que estou, há quem prefira termos como “em período sabático”, “em processo de recolocação” ou “em busca de novos horizontes”. Não importa o termo que se empregue, essa fase da vida parece ser invariavelmente um abalo nas estruturas. A transição é muito mais do que apenas de carreira.

Como é minha primeira experiência nesse limbo, está servindo para eu entender melhor o turbilhão de emoções desencontradas que ele produz. Dizem que há um processo pelo qual as pessoas passam em situações assim e que se assemelha a um W. Primeiro, bate uma depressão profunda, fruto da negação do acontecido, depois vem um pico de otimismo fantasioso seguido de outro período de depressão, para só então haver a superação. Não sei se eu passei por todas essas fases, acho até que os meus momentos de depressão não foram tão profundos assim por razões que vou abordar adiante, mas o fato é que descobri que estar desempregado é muito mais do que simplesmente se preocupar em como as contas serão pagas no fim do mês. Há um forte abalo em sua autoestima, uma tendência a querer dissecar a situação e identificar as razões que culminaram naquilo, um misto de vergonha e síndrome de injustiçado.

Com o passar do tempo você percebe que é ridículo associar seu valor próprio a um status corporativo. Até então você atendia o telefone dizendo o nome da empresa primeiro e o seu em seguida, como se a companhia fosse uma espécie de pré nome seu. Não é pela supressão desse pré nome que você é alguém pior. E você se lembra que a gangorra corporativa é mesmo dinâmica e é normal que, como se diz, novamente eufemisticamente, no meio empresarial: chega uma hora em que o seu momento e o momento da empresa não casam mais. Como dizia uma antiga chefe, se você tem uma empresa o que pode lhe acontecer é você falir e se você é um empregado, o que pode lhe acontecer é ser dispensado. Normal e simples assim.

Mas o que determinou mesmo a relativa ausência de desespero com que tenho encarado esse período foi uma outra coisa. Além do inestimável apoio de minha esposa, familiares e amigos, há essa outra importantíssima coisa; se você me acompanha aqui há algum tempo sabe o quanto eu gosto do tema da confiança em Deus. E tanto que me senti encorajado a escrever um pequeno livro tendo esse tema no centro. Coloquei mãos à obra e foi quando estava terminando de escrever que fui demitido. Percebi que era hora de praticar toda aquela teoria, agora com a sabedoria de quem passa pela tempestade e não com a ideia centenas de vezes mais suave que eu fazia dela.

Um momento de transição é uma excelente oportunidade para se tornar uma pessoa melhor. Esse processo dói, como as dores de crescimento, mas você se sente alguém melhor, de um jeito que só um novo tipo de sabedoria e vivência são capazes de fazer.

Você não tem indicação nenhuma de que o que o aguarda ao virar a esquina é uma coisa muito boa, você não tem nenhuma garantia de que vai se deparar com aquilo que quer, mas você segue na certeza intuitiva de que Quem está ao seu lado já foi lá, viu, gostou e voltou pra lhe acompanhar. É o quanto me basta por hoje.

6 comentários:

Anônimo disse...

Marcão,

espero que esta fase seja breve.

E qual é o nome do livro? E você conseguiu encontrar aqueles textos que tinha postado há anos na "Escrivaninha do Marco"?

Abraço

Luiz J. Marquart disse...

Oi Marco, passei por isto de final de setembro/2011 a meados de maio/2012. Portas se abriram e se fecharam várias vezes até que uma não se fechou e tem sido um bom trabalho. De fato só a confiança em Deus pode nos mover nestes dias difíceis.
Grande abraço e estou orando por você e tua linda família que hoje conheci na Vila.

Marco Aurelio Brasil disse...

Mr. Anônimo, a escrivaninha foi pro limbo mesmo, unfortunately! Obrigado aos dois, a torcida e as orações são muito reconfortantes!

Anônimo disse...

Eu de novo,

é que você não informou o nome do teu livro, que eu pedi no 1º comentário.

Abraço

Paulo Roberto

Marco Aurelio Brasil disse...

Paulo, se chama O primeiro milagre e está suspirando por uma editora... Abraços!

Marco Aurelio Brasil disse...

Paulo, se chama O primeiro milagre e está suspirando por uma editora... Abraços!