sexta-feira, 24 de junho de 2016

Aqui se faz, aqui há graça

Aqui se faz, aqui se paga, não é? Sei. Veja Arão, por exemplo.

Poucos personagens da Bíblia me intrigam tanto. Enquanto seu irmão está no Sinai, recebendo as tábuas dos dez mandamentos, ele está lá embaixo fazendo uma escultura em ouro no formato de um bezerro para o povo adorar como se ele fosse seu deus, como se esse ídolo tosco e recém criado tivesse tirado o povo do Egito. E o povo não faz apenas isso, em adoração ao bezerro de ouro o povo "se levanta para folgar". Arão acaba por estimular uma orgia regada a vinho no meio do arraial israelita. 

O papel de Arão nesse episódio é inequívoco. "Feriu, pois, o Senhor ao povo, por ter feito o bezerro que Arão formara" (Êxodo 32:35). Quer dizer que caiu um raio na cabeça do irmão mais velho de Moisés? Não. 

Ele se safou dessa e não apenas isso, mas foi eleito sumo sacerdote na sequência.

Mais adiante ele e sua irmã, Miriã, se lançam a esporte favorito de muita gente: falar mal dos parentes. No caso, de Moisés e de sua esposa. É tanta fofoca que aquilo evoluiu para um verdadeiro motim, uma "sedição". Deus também fala por nós, diziam eles. Como resposta, Deus faz com que Miriã fique leprosa. Ei, como assim? E Arão?

Moisés intercede por sua irmã e aquela doença incurável é curada. Em Deuteronômio 9 há uma pista de porque Arão se safou também, falando especificamente do episódio do bezerro de ouro:"O Senhor se irou muito contra Arão para o destruir; mas também orei em favor de Arão" (verso 20).

Arão me ensina que não é legítimo alimentar expectativas de que a punição pelos erros (dos outros, mas também dos meus), seja tão automática e exemplar como se isso aqui fosse um filme americano. Arão também me ensina que a graça divina soa injusta muitas vezes. Arão me ensina que uma vida de retidão e devoção a Deus impacta as pessoas ao meu redor, já que foi em deferência à oração de Moisés que seu irmão não fez e pagou já aqui. E Arão me faz lembrar do poder que tem a oração intercessória.

Você quer abençoar seus filhos? Servir a Deus com integridade certamente é um investimento melhor do que qualquer poupança polpuda ou previdência privada. Esse investimento, aliás, pode impactar até mil gerações. 


sexta-feira, 17 de junho de 2016

Saia do barco

You call me out upon the waters, é como começa Oceans, canção lançada em 2013 pelos australianos do Hillsong United. Você me chama para sair do barco e andar sobre as águas, sobre o desconhecido, onde os pés podem vacilar.
Porque tudo começa numa crise. Trocar a previsibilidade do barco pela incerteza das águas? As razões para não dar esse passo são ótimas, são razoáveis, são confortáveis. Eu tento sufocar a voz que me chama para andar sobre as águas. Eu tento não ouvir, tento negar. Se eu não ouvi esse convite, então estou no barco ainda. Se eu não ouvi, estou onde Tu não estás e minha vida jamais vai ser diferente do que foi até aqui. Posso, no máximo, almejar repetir a melhor alegria que já tive. Sem nenhuma certeza de conseguir, mas se conseguir, bem, essa terá sido toda minha recompensa.
Crise.
And there I find you in the mystery, in oceans deep my faith will stand. Porque é se permitindo deixar que o Autor do chamado me reinvente, é permitindo que a crise se instale e que meus pés se movam por terreno desconhecido que eu O encontro. E sobre as águas profundas minha fé endireita sua espinha, se põe totalmente de pé e respira fundo. Nas águas profundas ela pode vicejar. Your grace abound in deepest waters. Tua graça, que alguém que já esteve lá chamou de maravilhosa, é mais abundante nas águas mais profundas. Se eu fico no rasinho tenho um pálido vislumbre dela. Se eu fico no raso da zona de conforto, se eu fico no raso das noções enlatadas sobre quem Tu és, se eu fico no raso das opiniões de outros, do contato frio, semanal contigo, se eu não avanço sobre as águas mais profundas... terei me conformado em ver muito de longe a terra prometida.
And I will call upon Your name/and keep my eyes above the waves/when oceans rise/my soul will rest in Your embrace/For I am Yours and You are mine. É que depois da crise não há a menor chance de eu querer retornar. Eu Te encontrei. Senti a doçura incomparável de pertencer a Ti. Mas o barco lá atrás tem seu clamor, eu sei. Eu sinto. Então preciso me lembrar constantemente para manter os olhos sobre as ondas, fixos nAquele que me chamou.
Your sovereign hand will be my guideTua soberana mão me guiará. Por onde? Talvez where feet may fail and fear surrounds me (para fora da zona de conforto, onde os pés vacilam e os medos me cercam), mas You’ve never failed and You won’t start nowAh, não, não será agora que Aquele que jamais falhou falhará!
A entrega é um ato de coragem, não de fraqueza. Permitir que a crise se instale e deixar que ela cresça até assumir a forma inequívoca de um chamado inignorável para sair do barco e andar sobre águas escuras, águas profundas, no meio da noite... meu amigo, isso requer valentia. Que eu não tenho. Que Ele dá.
Spirit lead me where my trust is without borders. Espírito, me guie até o local onde minha confiança não conheça limites. Me leve ao local mais profundo. Sobre a fossa das Marianas, onde minha fé seja obrigada a malhar loucamente para adquirir músculos e se tornar maior bem maior do que eu. Me leve onde Tu estás. Me faça esquecer o conforto estéril daquele barco, não posso, não quero voltar lá nunca mais, não quero tirar os olhos de Ti e afundar, não quero a solução fácil de uma certeza calçada na ilusão.
Que eu veja (que não esqueça) que o barco é ilusão, por mais que meus sentidos o apalpem. Amém.

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Que horas são?

Bulletin of the Atomic Scientists mantém o chamado "Relógio do Apocalipse", ou "Relógio do Juízo Final", indicando quantos minutos faltam para a meia-noite, ou seja, para o fim do mundo. Em 1953, quando EUA e URSS divulgavam testes com bombas termonucleares, esse relógio esteve posicionado em 23h58. Com o alívio das tensões nucleares o relógio recuou um pouco. A série de quadrinhos dos anos 80 (quando o relógio do apocalipse foi adiantado graças à corrida armamentista no governo Reagan) Watchmen, de Alan Moore, brinca com esse relógio. O pingente "have a nice day" de um dos personagens recebe um respingo de sangue em forma de um ponteiro próximo à meia-noite e isso se torna o símbolo de toda a saga e planta logo no seu começo um curioso easter egg de seu final. Em 2015, o relógio do Juízo Final foi posicionado às 23h57 indicando que uma tragédia está prestes a acontecer, agora nem tanto por conta de bombas atômicas, mas de mudanças climáticas.

Mas você conhece as profecias e tem uma ideia do caminho para o qual este mundo está rumando. Onde você posicionaria o ponteiro dos minutos no relógio do Juízo Final? 

Em Watchmen, uma frase que aparece pixada nos muros é "who watch the watchmen?" (quem vigia os vigilantes?) Boa pergunta.

Os vigilantes da profecia dos tempos de Jesus tinham boas e sólidas razões para crer que o Messias viria de uma forma específica. Razões bíblicas, eu diria. Mas Jesus apareceu de um jeito completamente diferente. Será que os teólogos de então eram piores que os de agora? Jesus deixou uma série de sinais a respeito do tempo de Sua segunda vinda, sinais eloquentes. Se você está acompanhando o ótimo devocional de Marcos de Benedicto, viu esta semana que os habitantes de Pompeia falharam em enxergar uma série de sinais de que o Vesúvio estava ficando nervoso. O filme A grande aposta mostra como apenas uma meia dúzia de visionários enxergaram o colapso do sistema financeiro mundial em 2007/2008. 

Sabe, não acredito que a ênfase sublinhada, negritada, com setinhas piscantes em neon que Jesus deu à recomendação "vigiai, pois não sabeis a hora", foi dada sem propósito. O elemento surpresa estará presente e apenas a postura vigilante determinará sua salvação. Quem vigia os vigilantes? Jesus responde: você. E vigiar, aqui, não significa fazer sensacionalismo a cada espirro do papa ou a cada movimento do presidente dos Estados Unidos. Significa relacionar-se pessoalmente com Jesus Cristo e desenvolver uma confiança sem limites nEle.

Que horas são, amigo? 

Não sei quanto falta para a meia-noite, mas posso responder com segurança: é hora de conhecer a Jesus Cristo e colocá-lO como prioridade na sua vida.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Minha ambição

Aos pés do Sinai, Deus pede a Moisés que realize um censo do recém liberto do cativeiro no Egito povo de Israel. O resultado é de 603.550 homens de 20 anos para cima (Números 1:46). Depois disso, o povo sai daquele deserto e começa uma história triste e longa.

Eles resmungam por carne, Deus manda uma nuvem de codornizes, mas manda também uma "praga mui grande" e morre "muita gente" (Num 11:33). Na sequência, vão doze homens espionar Canaã e na volta dez deles fazem aquele relatório negativo, enaltecendo os gigantes e as cidades fortificadas e a aparente incapacidade de Israel guerrear com eles. O povo que tinha passado pelo mar Vermelho e visto o que acontecera ao exército que o perseguia simplesmente decide voltar para o Egito! Então Deus diz que aquela geração inteira vai morrer no deserto (Num 13 e 14), à exceção dos únicos dois dos doze que deram um relatório positivo, Josué e Calebe.

Segue-se uma guerra que Israel perde (14:39 em diante), a rebelião de Corá, Datã e Abirão, onde morreram cerca de 15.000 homens (Num 16). Nova murmuração pela dureza do caminho e pelo "miserável pão" (o maná) faz Deus tirar a proteção sobrenatural que os acompanhava por um tempo e o arraial se enche de serpentes "e morreu muita gente em Israel" (Num 21:6). Depois eles participam de algumas guerras e agora estão chegando às portas de Canaã. Estavam tão pertinho que começaram a se envolver com as mulheres de lá, no que parecia ser uma estratégia deliberada dos moabitas e midianitas para não serem destruídos por Israel. Mandaram as mulheres seduzirem os israelitas e mostrarem seus rituais pagãos tão mas interessantes que o ritual austero do santuário. A praga que se seguiu matou nada menos que 24.000 (Num 25:9).

Tudo isso aconteceu e agora Israel está "à altura de Jericó", só que do outro lado do Jordão (26:3), ou seja, estão prontos para finalmente invadir Canaã, 40 anos depois do êxodo. Ali Deus pede um novo censo. Toda uma geração havia morrido, passado por aquelas guerras todas e pragas e ainda assim o resultado do censo foi de 601.730 (26:51), ou seja, apenas 1.820 homens a menos.

Que chances haveria de um povo desse tamanho permanecer unido em uma situação inóspita e sofrer uma alteração tão estatisticamente irrelevante como essa se Deus não estivesse na equação?

Mas mais do que essa reflexão a respeito dos homens a menos, me impressiona a reflexão a respeito dos homens que continuavam. De todos que estavam no primeiro censo, só restaram Moisés, Josué, Calebe e Eleazar, o filho de Arão. Quatro homens, de toda aquela geração de mais de 603 mil. O Senhor conhece os seus (II Timóteo 2:19).

Confesso aqui minha ambição: quero ser dEle. Quero passar pelas guerras e pelos desertos sem murmurar. Quero conhecê-lO a tal ponto que nem me ocorra outra reação qualquer.

E quero companhia. A sua.