sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Na academia

Visitar uma academia de ginástica pode ser uma atividade extremamente espiritual. Na verdade, acho que as academias são um bom exemplo de igrejas da nossa geração; ou você não sente uma atmosfera meio mística, de adoração e veneração em uma academia?

Há espelhos por toda parte e os adoradores os usam sem parar. O jeito com que veem a evolução de seus esforços nos próprios corpos revela uma indisfarçada satisfação consigo mesmos. Ora, a grandeza de uma geração pode ser medida por aquilo que ela adora. Se o que adoramos é tão bom quanto nós mesmos, não temos nenhuma chance de querer ser algo melhor.

E há outro fato espiritual numa academia: ela é uma celebração da vida que se escora na ilusão do diferimento da morte. A satisfação de estar tratando bem a saúde frequentemente descamba para a ilusão da eternidade. Nossa geração se comporta como se fosse viver para sempre ao invés de procurar aquilo que lhes pode fazer viver para sempre. É como se fingíssemos ter aquilo que mais precisamos e queremos, uma espécie de "jogo do contente de Pollyanna" com consequências mórbidas.

Jesus advertiu certa vez os Seus contemporâneos de então: "vocês examinam as Escrituras por acreditam que acham nelas a vida eterna, e são elas que falam de mim, mas vocês não querem vir até mim para ter vida!" (João 5:39 e 40). Ele os criticava por ficarem só na Bíblia, sem desenvolver um relacionamento com o Autor dela. O que Ele diria a nós, que não fazemos nem uma coisa nem outra?

Volto da academia com estes conselhos ecoando na mente: Adore o que merece ser adorado. Viva como quem de fato não tem aquilo que mais falta lhe faz. Busque-a em Quem a pode dar. Fuja da mediocridade de sua geração.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A falta que Deus sente

Se entendi bem as lições de filosofia da faculdade, para Platão Deus seria uma espécie de pensamento, algo incorpóreo, espiritual. Mas para ser Deus, para ser o ente que coloca em movimento todas as coisas, pré-existente a elas, Deus teria que ser um pensamento que se pensa a si mesmo, alheio a todo o resto, que ele cria sem notar, sem perceber.

Platão achava inconcebível que um ser imanente, transcendente como Deus, pudesse se ocupar de qualquer coisa menor que Ele.

Evidentemente, o quadro que minha Bíblia pinta de Deus é bastante distinto. Ela mostra um Deus completamente debruçado sobre este mundo , envolvido em suas grandes questões mas também nas minúsculas e aparentemente insignificantes. Mas mesmo a minha Bíblia deixa claro um ponto: Deus é infinitamente superior às criaturas que fez a Sua imagem e semelhança. Ele é onipotente – nós, fora dEle, somos completamente impotentes; Ele é onisciente – nós temos grandes dificuldades para
interpretar corretamente aquilo que nossos sentidos alcançam; Ele é eterno – nós somos dolorosamente finitos, aprisionados a uma cápsula de tempo chamada presente; e Ele é onipresente – nós somos aprisionados ao espaço físico que ocupamos. Enfim, Deus não precisa de nós, mas nós precisamos desesperadamente dEle.


De fato, Deus não seria Deus se precisasse de alguma coisa nossa. Ele, por definição, não precisa. Mas o mais curioso é que algumas vezes vejo Deus Se comportando como se preciasse. Quando Adão e Eva viram-Lhe as costas, Ele vai atrás deles no jardim; quando o povo dEle se desviava da rota segura, Ele tentava os mais diversos métodos para capturar de novo seu coração e mente. Ele afirma coisas como “pois que com amor eterno te amei, também com amorável benignidade te
atraí" (Jeremias 31:3). Eu poderia continuar dando uma extensa lista de exemplos dessas atitudes surpreendentes de Alguém com tais caracteristícas.


Mas o que explica essas reações inusitadas de um Deus transcendente, a característica com Platão não contava e que faz com que Ele Se ocupe de criaturas insignificantes que insistem em ignorá-lO e desprezá-lO, é tao simples como o amor. Não há dúvidas, Deus ama. O que mais poderia fazê-lo apropriar-se das necessidades de outros? É o amor que faz isso. A necessidade que Deus expressa de nos ter por perto, de ter nossa companhia, na verdade é a nossa necessidade de estar com Ele,
mas porque Ele nos ama tanto, acaba pegando para Ele nossa carência mais profunda, acaba sofrendo se não tem aquilo cuja ausência é a fonte de nosso sofrimento.


O amor, no fim, subverte a lógica. Porque ama, Deus sente falta de mim. Quando eu reconhecer que minha maior angústia é justamente sentir falta de Deus, verei que o que eu mais quero é exatamente o que meu Deus – o onipotente – quer, e serei feliz.