sexta-feira, 31 de julho de 2015

O quadro na parede - missão

Acho que foi a partir dos anos 90 que se tornou modinha nas empresas pendurar quadros na parede com a missão, a visão e os valores da corporação. Num mercado com produtos e serviços cada vez mais padronizados, qualquer esforço para fazer cada subalterno ter ao menos uma centelha da visão e do sentimento que os fundadores ou sócios da empresa tinham a seu respeito tinha o potencial de servir de diferencial definitivo.

É claro que em muitas organizações a coisa não passa disso: um quadro na parede. É comum encontrar-se empresas em que a cultura arraigada é uma negação constante do que está escrito ali. Mas isso não parece ser um problema, o ser humano de há muito se conformou com a incoerência e a tal ponto que muitas vezes se sente é desconfortável num ambiente diferente disso.

Como as empresas, há muitas igrejas por aí. Você pode acreditar que o que as diferencia são suas doutrinas, mas o "mercado" a ser alcançado não tem muito clara essa distinção, pra ele é tudo igual, como os fabricantes de biscoito que usam farinha tipo A e os que usam farinha tipo B. Não só eles, mas os empregados dessas empresas não sabem necessariamente o que as distingue nem o que eles estão fazendo.

Como o sujeito que passou por um canteiro de obras na idade média e perguntou "o que você está fazendo?" a três operários. O primeiro, achando a pergunta idiota, disse que estava assentando tijolos. O segundo disse que estava erguendo uma parede, mas foi só o terceiro que respondeu: "estou fazendo uma catedral".

A igreja é nosso canteiro de obras. O que os operários vão responder? Será que os mestres de obras têm uma visão clara do projeto completo?

Uma resposta possível poderia ser: estamos louvando e engrandecendo o nosso Deus. Mas... é essa nossa missão? Ou isso seria uma consequência de estarmos desempenhando a missão? É "cultos bonitos" que Deus pede? O que diz o quadro que Ele pendurou na nossa parede?

Acho que você precisa encontrar na Bíblia a missão da sua igreja, mas se ela for muito diferente de Mateus 28:18-20 suspeito que os seus "cultos bonitos" ou o que quer que você entenda ser a missão de sua igreja são aceitos por Deus com o mesmo sentimento que Ele aceitava os sacrifícios daqueles nossos antepassados (Amós 5:21-24). 

Tragédia à vista.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Centrífuga

Hoje vou convidar você a repensar uns conceitos já bem enraizados. 

Se você é cristão, decerto está familiarizado com textos da Bíblia como “Eu afirmo a vocês que isto é verdade: se um grão de trigo não for jogado na terra e não morrer, ele continuará a ser apenas um grão. Mas, se morrer, dará muito trigo. Quem ama a sua vida não terá a vida verdadeira; mas quem não se apega à sua vida, neste mundo, ganhará para sempre a vida verdadeira” (João 12:24 e 25). Ou “para Deus, o Pai, a religião pura e verdadeira é esta: ajudar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e não se manchar com as coisas más deste mundo” (Tiago 1:27), ou “porém vocês, irmãos, foram chamados para serem livres. Mas não deixem que essa liberdade se torne uma desculpa para permitir que a natureza humana domine vocês. Pelo contrário, que o amor faça com que vocês sirvam uns aos outros” (Gálatas 5:13).


São exemplos pinçados a esmo, mas nos quais se pode ver um certo padrão, concorda? Uma dinâmica centrífuga (do centro pra fora, sendo que o centro, no caso, sou eu, é você). Jesus convida a vir e morrer, Tiago pergunta de que serve a religião se as viúvas e os órfãos continuam na miséria e Paulo argumenta que nossa liberdade, temperada com amor, nos lança ao serviço de outros.

A provocação que trago para você hoje tem a ver com a visão que você faz das coisas boas que Deus colocou no seu caminho. Bíblia, igreja, sábado. Esse tipo de coisas. Por que você gosta dessas coisas?

As respostas mais comuns têm sido: gosto da Bíblia porque ela me ajuda a aproximar de Deus e me dá paz. Gosto da igreja porque nela eu aprendo sobre Deus. Gosto do sábado porque ele recarrega minhas baterias espirituais.

Notou quantas vezes as palavras “me”, “meu” e “eu” aparecem nesse parágrafo?

Continuamos os pecadores renitentes de sempre a despeito dessas coisas fantásticas que Deus nos deu. Continuamos perseguindo a dinâmica centrípeta, que atrai tudo para o centro. Temos uma visão utilitária egoísta das ferramentas que Deus nos emprestou para nos habilitar a servir, a amar, a morrer.

Repense a forma como você se relaciona com esses presentes do Pai. Você pode colocar nesse bolo outros tantos elementos: música, livros, paisagens maravilhosas, amizades fantásticas, casamento, filhos, etc.
Como cada uma dessas coisas o torna um servidor melhor?

Como você pode participar dessas coisas todas para dar do muito que recebeu, e não para armazenar mais?

Como, filho de Deus, você pode cumprir o propósito alto que Ele traçou pra você?

sexta-feira, 17 de julho de 2015

O que Deus quer pra sua vida? parte 3

Eu havia até prometido a um amigo que mudaria de assunto hoje, mas durante toda a semana não pude espantar a impressão de que havia uma lacuna em minha abordagem do tema "como saber qual é a vontade de Deus para minha vida?"

Mencionei a direção da Bíblia, a opinião de pessoas piedosas, as impressões que a leitura da Bíblia provoca, as portas que se abrem e outros elementos que nos ajudariam a ter convicção de para onde ir, mas há dois elementos que não podem ser ignorados.

O fato é que Deus pode usar muitas maneiras de chamar sua atenção e passar os recados e sinais que Ele quer que você veja e escute, mas chega um momento em que tudo isso se afunila num gargalo para chegar até você e esse gargalo é a sua mente. Deus só pode se comunicar com você através de seu cérebro. Se você quer realmente conhecer a vontade de Deus para você, devia começar a se preocupar em manter essa maravilhosa antena com a qual Ele equipou você desobstruída, limpa e direcionada para Ele.

Não preciso mais fazer grandes contorcionismos retóricos para convencer você de que o estado geral de seu corpo afeta sua mente, a ciência é bastante conclusiva a esse respeito. A Bíblia afirma que nosso corpo é o templo do Espírito Santo, devemos zelar pelo templo assim como Jesus zelou pelo templo naquele episódio dos cambistas. Deus traçou em Sua Palavra um estilo de vida que favorece o bom funcionamento do seu corpo e, por tabela, de sua mente. Isso envolve o ar que você respira, o quanto de luz solar a que você se expõe, a comida que você come, o que você bebe, o quanto você ingere água, o quanto seu corpo descansa (diariamente e semanalmente), o quanto você se exercita, com quem e como você se relaciona, o quanto você confia nEle... 

É todo um estilo de vida. E há uma razão para ele estar erguido na Bíblia como modelo. É para que você e eu o imitemos e estejamos aptos a conhecer a vontade dEle quando a encruzilhada aparecer, quando bater em você uma vontade louca de seguir um rumo inusitado e inesperado.

O segundo elemento que me faltou mencionar é a obediência. Se você conhece a vontade de Deus mas em certos aspectos simplesmente a ignora, simplesmente opõe apartes a ela, simplesmente deixa a sua vontade - que é diferente da dEle - prevalecer, como pode pretender ouvir a voz dEle? "Sabemos que Deus não ouve a pecadores, mas ouve ao homem que o teme e pratica sua vontade" (João 9:31). Faz sentido, não faz?

Se há uma inquietação crescente em seu coração e você quer saber se ela vem de Deus, ocupe-se de estar plenamente apto a ouvi-lO e viva.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

O que Deus quer pra sua vida? (2a parte)

Na semana passada falei da difícil tarefa de ouvir a voz de Deus em um mundo cada vez mais repleto de vozes, de conhecer a vontade dEle em meio à gigantesca cacofonia de vontades e caminhos a seguir. Citei alguns autores, como Morris Venden e seus oito passos, e F. B. Meyer, que falou do encontro de três fatores: os textos claros da Bíblia, as impressões gerais que ela provoca e as circunstâncias. Acho que isso tudo pode ter ajudado, mas a verdade é que não existe fórmula 100% concreta, objetiva e eficaz para conhecer a vontade de Deus. Nem poderia ser diferente, quando um dos elementos que mencionei é algo tão subjetivo quanto "as impressões gerais que a Bíblia provoca".

Bem, não seria mesmo um textinho de três ou quatro parágrafos que colocaria um fim nessa conversa, mas minha intenção não é nem nunca foi ser definitivo sobre nada do que escrevo aqui. Ainda assim, podemos refletir um pouco para avançar em conhecimento e orar para que esse conhecimento se transforme em confiança, perseverança e esperança, aquelas coisinhas que nos estão prometidas na Bíblia.

Em Christilike, Bill Hull cita o sempre profundo Dallas Willard, que apresentou três características da voz de Deus. Quem sabe com elas nós não sejamos um pouco mais capazes de distinguir a voz dEle das outras todas?

A primeira característica é sua qualidade. Segundo Willard, a voz de Deus é sempre autoritária. Ela foi assim com Jonas, com Abraão, com Adão, com Caim, com Moisés e com Filipe. Por que será que justamente com você ela viria na forma de uma argumentação, como se Deus estivesse negociando com o seu subconsciente? A voz de Deus não fica pesando prós e contras, ela simplesmente ordena andar em uma direção.

O segundo elemento é o espírito da voz. A voz de Deus vem no espírito de Jesus, e o espírito de Jesus nunca vai menosprezar, diminuir ou ofender você. Você não presta, você não faz nada certo você não tem jeito mesmo são frases tipicamente humanas. Jesus Cristo foi a perfeita expressão da voz de Deus. Autoridade, sim, mas com amor.

O terceiro elemento é o conteúdo da voz. A voz de Deus jamais contradiz os princípios gerais de Sua palavra. Ele não vai resolver suspender o princípio do amor incondicional e universal especificamente com você. Ele não vai querer que justamente com você o mandamento do perdão seja inaplicável ou que o princípio da mordomia, inclusive sobre sua saúde, ou ainda o princípio de evitar o jugo desigual simplesmente não façam efeito - e estes foram apenas alguns exemplos. Esqueça, essa voz não é de Deus. A voz de Deus também não vai desdizer a assertiva cristalinamente clara de que "no mundo tereis aflições". Um quadro de felicidade utópica não poderia, portanto, estar sendo pintado por Deus ao apontar um caminho em sua vida.

Quando você reunir tudo isso num caldo só, vá em frente. Não permita que impressões, pensamentos ou medos repentinos tirem você do seu objetivo, eles não vêm de Deus, vêm do inimigo. Pise firme e regozije-se na certeza mais fantástica que pode haver: Deus tem um plano para você. Deus tem um sonho a seu respeito.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

O que Deus quer pra sua vida?

Dirigindo para o trabalho, ouço Laura Morena cantar "tudo que eu sei é nada/ e há beleza em não saber/ cria em mim necessidade/ de buscar reconhecer/ a vontade de Deus".

Abro meu e-mail ou o whats app e há alguém perguntando como pode descobrir o que deve fazer numa encruzilhada ou numa situação aflitiva.

Chego na livraria e dou com uma promoção de um livro chamado "Descontentamento santo: frustrações que impulsionam à mudança de vida" (claro que comprei, especialmente porque é do Bill Hybels, mas só empresto depois de ler).

Comentando com um amigo minhas próprias frustrações ele comentou a conversa que teve com o diretor de um curso de pós-graduação em teologia. Para reconhecer a vontade de Deus, disse ele, é preciso estar atento a três sinais: 1. as portas se abrem? 2. você não precisa fazer um enorme esforço para convencer pessoas-chave (por exemplo, seu cônjuge) do acerto dessa visao? e 3. você fica em paz quando imagina os resultados possíveis desse passo?

Um de meus autores preferidos, Morris Venden, dedicou todo um livro a esse assunto. "Como conhecer a vontade de Deus" lista oito passos: 1. deixe sua vontade de lado (começou difícil); 2. não se deixe guiar pelos sentimentos; 3. estude a palavra de Deus para saber se há alguma revelação clara sobre sua dúvida; 4. esteja atento às portas que se abrem; 5. consulte amigos que levam as coisas de Deus a sério; 6. ore muito; 7. tome uma decisão sem esperar que um raio caia do céu e 8. prossiga em sua decisão a despeito de uma ou outra porta se fechar na sua cara posteriormente.

Evidentemente essa tarefa de buscar ouvir a voz de Deus carrega uma alta carga de subjetividade. Tem a ver com impressões, coincidências e vontades que não largam você. Coincidências como esta que, além de todas as referências que já mencionei acima, ao abrir meu livro para ler ontem à noite, dou com esta citação de F. B. Meyer: "As impressões de Deus através de Sua Palavra e as impressões que Ele te dá fora de Sua Palavra sempre são corroboradas por Sua providência ao redor, e nós devemos aguardar em silêncio até que estes três elementos foquem em um só ponto. Se você não sabe o que deve fazer, fique parado até que estes três elementos coincidam. E quando chegar a hora de agir, as circunstâncias, como vaga-lumes, vão brilhar em seu caminho; e você terá tanta certeza de que está certo, quando três testemunhas de Deus concordam, que você não poderia estar mais certo se um anjo acenasse para você".

Sobretudo, se você chegou a uma encruzilhada ou se há uma vontade louca que não larga você e te acorda no meio da noite, depois de aplicar todas essas dicas, aplique também o conselho que mais vezes se repete na Bíblia: não temas, crê somente.