quinta-feira, 14 de junho de 2012

Maus heróis

Há algumas semanas eu falava aqui sobre heróis e a influência que eles tiveram sobre mim. Ainda lembro do tema da redação do vestibular que prestei para a ESPM em São Paulo há... bem, há alguns anos, não importa quantos: "pobre do país que precisa de heróis". A época era a derrocada de Collor e estávamos todos aturdidos com a queda do caçador de marajás. Mas se é pobre o país que precisa de heróis, quem não é pobre, então? Porque todos precisam. Ninguém vive sem se inspirar em alguém ou em algum ideário.




Goethe dizia, com impressionante acerto, que "somos moldados por aquilo que amamos". Em outras palavras, nossos heróis nos transformam a sua imagem e semelhança e dizem muito, talvez tudo, sobre nossos valores. Os de Cazuza, por exemplo, morreram de overdose ele palmilhou um caminho parecido. Refletir sobre quem são os seus heróis pode ser um exercício muito revelador.



Em 3 de setembro de 1932, um jovem de 15 anos chamado Pavlik Morozov foi encontrado morto a facadas em sua vila, no oeste da Sibéria. É praticamente impossível descobrir quem ou em que circunstâncias o crime realmente aconteceu, mas sabemos bem o que a propaganda comunista fez da história. A imprensa disse que Pavlik havia sido morto por parentes porque dias antes ele havia delatado o próprio pai à polícia política.



A história de Pavlik passou a ser contada à exaustão às crianças soviéticas e publicada com tintas cada vez mais impressionantes na imprensa. Ele se tornou o principal herói nacional para as novas gerações, a pessoa a ser imitada, o exemplo em que se inspirar: alguém que ama mais à revolução do que os próprios pais. Milhares de milhares de pais acabaram presos, condenados a trabalhos forçados ou até mesmo fuzilados após seus seus filhos relatarem à polícia tê-los ouvido criticar o Partido ou terem qualquer atitude de um "inimigo do povo". A influência da versão oficial da história de Pavlik sobre toda uma geração de soviéticos foi devastadora. Mesmo depois de Perestroika, algumas das pessoas que cresceram naquela época tinham dificuldade para se referir à história de Pavlik de forma negativa. E, no entanto, para a maioria de nós a ideia de filhos que traem seus pais parece ignominiosa, parece desumano e incrível que alguém possa assimilar valores assim. Bem, a História prova que coisas assim são, sim, possíveis.



Todos precisam de heróis, mas a verdade é que alguns heróis que tentam nos vender não são dignos da adoração que pedem. A propaganda que os envolve pode nos fazer parecer que seus valores são os mais nobres e altos, os mais dignos de nossa veneração, mas isso tudo pode ser só propaganda. Ou será que você é imune à propaganda?



Jesus promete o colírio para ver. Passe tempo com Ele e ponha seus outros heróis à prova. Talvez você fique surpreso em notar que faria melhor em descartar alguns deles...

Nenhum comentário: