sexta-feira, 19 de abril de 2013

A necessidade do outro

O terapeuta Willard F. Harley Jr. realizou uma pesquisa que serve como uma eloquente comprovação de que "Deus os fez homem e mulher" (Marcos 10:6, ou seja, duas coisas diferentes que, juntas e em harmonia, formam uma outra coisa muito melhor). Em sua prática profissional, chegou a dez necessidades emocionais básicas que o ser humano tem em relação ao cônjuge: diálogo ou atenção, afeto, realização sexual, segurança financeira, apoio doméstico, aparência atraente, companheirismo, honestidade, admiração e comprometimento com a família.O ponto curioso dessa pesquisa, e que serve como mote principal de seu livro "Ela precisa, ele deseja", é que se você der às pessoas casadas um papelzinho com esses dez itens pedindo-lhes que façam um ranking do que eles acham mais importante atribuindo números de 1 a 10, com poucas variações as cinco primeiras necessidades apontadas pelas mulheres serão as cinco últimas apontadas pelos homens e, claro, vice versa.

Eu fiz o teste em um grupo de amigos e cheguei praticamente ao mesmo resultado. Se as mulheres costumam apontar o afeto como a necessidade número um, os homens, mais previsíveis, colocam realização sexual no topo. A lista das mulheres geralmente continua com diálogo, segurança financeira, apoio doméstico e comprometimento com a família, justamente os itens que estarão mais para o final da lista dos homens.

E. no entanto, pessoas feitas diferentes e com necessidades tão diferentes são colocadas por Deus para viverem juntas. Mais que isso, Ele as fez sentirem-se atraídas uma pela outra, as fez desejarem viver juntas. Por que?

A regra de ouro da Bíblia talvez seja a chave para a resposta. "Ame a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo". A regra de ouro, o mandamento do qual dimanam todos os outros, mostra que nossos afetos devem estar divididos entre nós mesmos e objetos externos a nós. O pecado inaugurou um centro de gravidade fortíssimo dentro do nosso peito que faz com que só olhemos para fora e só admitamos cuidar das necessidades e interesses de qualquer outra criatura do Universo quando estivermos de barriga cheia, e olhe lá... Para o Criador, contudo, a plenitude de nossa realização como criaturas Suas só é alcançada quando vivemos para os outros, quando o egoísmo típico do pecado é pisado e reduzido a pó.

O casamento, portanto, com seu descasamento entre as necessidades de homem e mulher, é uma escola fantástica. A paternidade leva esse conceito a um patamar muito mais radical, fazendo que não interesse o quanto estamos cansados ou doentes, se nosso filho está chorando a prioridade absoluta passa a ser automaticamente ele, mas tenho pra mim que a lição de serviço dada pela paternidade só é absorvida em toda sua envergadura quando antes você absorveu essa outra lição: a de amar um semelhante seu a um ponto tal que passe a querer abrir mão de seus interesses para satisfazer as necessidades dele. E, fazendo, sentir-se mais feliz do que estaria se estivesse cuidando de si somente.

Quando se dá conta disso, as diferenças entre homens e mulheres passam a deixar de ser motivo para piadinhas e se tornam motivos para louvor. 

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Um brinde à diferença

Em seu livro "Educando meninos" (leitura imprescindível para quem, como eu, tem três dessas criaturas maravilhosas para educar), James Dobson narra a guinada ideológica que o movimento feminista imprimiu à forma como as famílias tradicionalmente criavam seus filhos. Livros como "Free to be you and me", de Marlo Thomas, e "The female Eunuch", de Germaine Greer, e a forma como a mídia encampou as novas ideias, tentaram abolir para sempre as diferenças entre os sexos. Essa diferença seria um produto cultural, e não biológico, com o propósito de rebaixar as mulheres, de modo que o correto seria que os pais criassem seus filhos meninos como se fossem meninas. Lojas de brinquedos começaram a ser processadas por dividir suas gôndolas entre "brinquedos para meninos" e "brinquedos para meninas". Curiosamente, todos os expoentes desse movimento eram mulheres solteiras, sem filhos.

Embora no final da década de 80, com o advento de tecnologias como a ressonância magnética, a ciência tenha descoberto que o cérebro de homens e de mulheres funciona de forma radicalmente diferente, em que os mesmos estímulos ativam áreas distintas do córtex cerebral, a falácia da diferença entre os sexos como sendo uma imposição social continua muito popular, mais popular do que nunca, aliás, a ponto de muitas famílias criarem seus filhos de forma mais assexuada possível, para que essas crianças oportunamente possam "descobrir seu caminho".
Como cristãos, contudo, temos uma visão diferente. Entendemos que "criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou" (Gênesis 1:27). Este verso foi posteriormente citado (e, portanto, confirmado) pelo próprio Jesus (Marcos 10:6). Em Sua sabedoria, Deus nos fez propositalmente diferentes.Logo, o problema não pode estar na diferença em si, mas no que fazemos com ela. A diferença, per si, é uma grande benção. 

A diferença implica em que, juntos, homem e mulher sejam muito mais eficazes, porque o raciocínio e a sensibilidade masculinas serão úteis em algumas situações e as femininas em outras. A diferença implica em que homens e mulheres tenham necessidades emocionais diversas, o que, para um convívio harmônico, nos força a um exercício de alteridade, de se colocar na pele do outro e de algumas vezes abrir mão de nossas conveniências para satisfazer as necessidades do outro. A diferença, portanto, é um tiro no egoísmo, uma escola de tolerância e respeito com a diferença.

Há hoje uma série de bons livros que tratam dessas diferenças, não temos a desculpa da ignorância para as desprezarmos. Toda vez, portanto, que seu cônjuge agir de forma muito típica de seu sexo, ao invés de reclamar agradeça a Deus por ter um cônjuge normal. Acredite, seria uma tragédia se fosse diferente.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Um nome

Lá na escola tinha o Beção, o Peru, o Bacu, o Shao Lin, o It´s a Gay, a Marilú, o Meio Quilo e o Newman. Mais atrás sentavam o Tim Tones e o Salsão. A criatividade da molecada para atribuir apelidos a seus colegas era impressionante e a efetividade com que esses apelidos substituíam os nomes de batismo também. Com raras exceções eu não recordo o nome correto desses meus colegas de décadas atrás, mas uma coisa eu recordo bem: nenhum deles gostava muito de ser chamado pelo apelido.

Conheci um homem cuja esposa estava grávida do sexto filho. Ele a flagrou conversando com a mãe dela sobre como seria o nome do bebê. Sentindo-se alijado do processo de escolha do nome da própria filha (e com toda razão), ele simplesmente esperou o momento do parto e, na hora de registrá-la, em lugar de escolher o nome mais normal que a esposa e a sogra haviam escolhido, a registrou como alguma coisa parecida com Sherwin, só pra se desforrar.

Há esse paradoxo: o nome parece ter perdido sua importância simbólica, a ponto de muitos pais soltarem a imaginação e tascarem nomes esdrúxulos e sem significado algum nos filhos; por outro lado, há muita gente tentando trocar os nomes que receberam na Justiça e muita gente se sente desconfortável quando lhes atribuem um apelido e passam a chamá-los de outra forma qualquer. Afinal, o nome é importante ou não é?

Para Deus é. Ele Se preocupa em escolher, Ele mesmo, os nomes de João e Jesus. Ele muda os nomes de Jacó, Sarai, Abrão, Simão e Saulo, e os agora Israel, Sara, Abraão, Pedro e Paulo são pessoas completamente diferentes, com missões importantes e um futuro glorioso. Seu próprio nome é envolto numa aura de mistério que impõe reverência. Os hebreus não o escreviam, apenas redigiam quatro das letras que compunham seu nome real, YHWH (que se convencionou rechear de vogais para formar o som de Yaweh, ou Jeová), o que leva muita gente hoje a preferir escrever D-us com medo de, fazendo diferente, estar incorrendo em transgressão a um dos dez mandamentos, que ordena jamais tomar o Nome em vão. Quando Manoá e sua esposa perguntaram o nome do anjo que anunciava o nascimento de seu filho Sansão ele respondeu: "por que perguntam meu nome, visto que é um nome maravilhoso?" (Juízes 13:18).

Para Deus o nome é uma coisa especial. Encontro aí a razão pela qual a forma como nos chamam nos afeta, sempre. A razão pela qual quando alguém nos chama por "psiu" ou "ei, você aí" nos sentimos agastados. E é por isso que não entendo as músicas cristãs que evitam a todo custo mencionar o nome Deus ou, pior ainda, o nome Jesus, já que "não há nenhum outro nome dado entre os homens pelo qual devamos ser salvos" (Atos 4:12). Somos salvos por um nome. 

Quando Deus dá um nome novo para a pessoa, a vida passada dela toda é descartada, ela vive uma vida nova, muito mais alta. É por isso que tenho como inefável a promessa que Ele faz em Apocalipse 2:17: "Ao que vencer... darei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito". Que nome será que Deus sonha em me dar? Eu quero descobrir.