sexta-feira, 23 de outubro de 2015

XV anos

Quando eu era criança, o universo adulto me parecia extremamente chato e desinteressante porque, com raras exceções, os adultos me pareciam chatos e desinteressantes.Aí eu me tornei um adulto e percebi que é isso mesmo.

Antes, porém, na adolescência, já antevendo que aquele poderia ser meu fim, eu ouvia a canção XV anos, do Ira! no repeat até cansar e pensava: vou estocar muita tinta colorida dentro de mim, pra quando o cinza modorrento da fase adulta chegar eu ter com que colori-lo. E me apliquei exemplarmente a essa tarefa. Penso que fui relativamente bem sucedido nela, tive anos incríveis. 

Assim mesmo, é inevitável você se perguntar se sua vida é um sucesso. E isso é uma porta aberta para a amargura. Amargura porque a resposta pode ser não, sua vida não é um sucesso. Aquilo que você perseguiu durante dez, quinze, vinte anos, bem, você não chegou lá. Ou porque a resposta pode ser sim mas aí você se dá conta que perseguiu algo que não preenche e sacrificou na busca o muita coisa valiosa. Nesse caso você pode estar olhando para o lado, para amigos que não tiveram o tipo de sucesso que você alcançou e que parecem lidar bem demais com aquilo e se pergunta: será que eu estive correndo atrás do vento? Aquilo que é para mim fonte de orgulho, de onde tiro meu senso de dignidade e de valor, seria uma ilusão?

Não sei se tempos de crise são mais propícios para balanços dessa sorte, mas sei que para todo lado que olho a angústia parece ter se instalado em maior ou menor grau, as relações parecem estar abaladas e o que antes era ou parecia ser união está agora se esgarçando e virando pó.

Pergunto aos da minha geração: estamos nos tornando os adultos amargos que nos davam calafrios? Foi esse o profundo e fantástico conhecimento que adquirimos?

Talvez a crise seja o momento ideal para fazer como o cara da canção e voltar a ter 15 anos, voltar a ter aquele tipo de amor pela vida. Sem reproduzir o verso da canção "vivendo e não aprendendo". Talvez seja o momento - porque nunca é tarde para ele - de redescobrir o que é vida. Vida em abundância. Vida de quem se sabe salvo em Cristo Jesus. Vida de quem sabe que a vida é valiosa, custou tudo para Ele. Vida de quem se aliou ao que é eterno para fazer as coisas perenes aqui também.

Talvez o momento seja propício para decidir passar a correr atrás das coisas certas. E suplicar ajuda para conseguir fazer isso é só isso.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Papo cueca

Meninas, se me dão licença, vocês podem pular a leitura hoje, gostaria de falar hoje especialmente com os homens.

Rapazes, mais cedo estive lendo Gênesis 3 e a reflexão a que a leitura me conduziu mudou o curso dos meus planos e o que eu planejava escrever. Duas coisas me chamaram a atenção especialmente no relato da queda e ambas têm a ver com nosso papel de homens neste mundo.

A primeira é que quando Deus caminha procurando Adão e Eva, é a ele que Se dirige primeiro pedindo explicações sobre o que havia dado errado. Machista e chauvinista como possa parecer, o homem é o primeiro interlocutor, é aquele a quem o Senhor vai pedir explicações quando algo sair dos trilhos com nossa família. Não se trata exatamente de uma prerrogativa ou de um privilégio, mas de uma responsabilidade.

Temos o exemplo de Adão ao qual não seguir. Podemos fazer como ele e justificar o fracasso apontando para as escolhas dos demais membros da casa. É sempre uma opção... Ou podemos pedir sabedoria a Deus para tomar hoje as atitudes que vão aumentar significativamente a probabilidade de não haver fracasso no futuro. É o princípio da colheita, a gente colhe aquilo que plantou, não tem escapatória. A primeira dessas atitudes é nos jogarmos aos pés de Cristo e perguntar o que Ele quer que façamos, como Ele quer que apliquemos nosso tempo livre, a hora que Ele deseja que nós acordemos, que tipo de interação Ele quer que tenhamos com nossos filhos e com nossa esposa...

Aliás, a interação com a esposa tem a ver com a segunda coisa que hoje me chamou a atenção. Lembrei algo que Renato Cardoso havia observado em"Casamento blindado": a maldição do homem tem a ver com o elemento do qual foi tirado: a terra. A partir da queda ele teria que suar para trabalhar a terra. Uma consequência disso é que o senso de valorização e de sucesso do homem estaria atrelado de forma mais destacada ao trabalho, a conquistar e subjugar, a terra ou que quer que fosse. Só Ele sabe quantos homens estabeleceram como alvo principal de sua vida sucesso no trabalho! Quando fui dispensado da empresa na qual trabalhava, passei uns meses na consultoria de outplacement vendo uma procissão de homens com a autoestima em frangalhos. Perder o "sobrenome corporativo" era o mesmo que fracassar rotundamente para muitos deles (pra mim também foi, não me coloco acima disso).

Essa é uma razão adicional para pedir sabedoria a Deus e conseguir dosar essa busca incansável por conquistar coisas novas no campo profissional, afinal, Deus vai pedir contas de sua família, não esqueça.

Mas é curioso que a maldição que recaiu sobre a mulher também tem a ver com o elemento do qual ela foi gerada: o marido. Deus disse que a partir de então seu desejo seria para seu marido. A mentalidade do século XXI tentou desfigurar isso e estabelecer esse fato como uma realidade superada, mas a verdade é que o senso de valor, a autoimagem e a felicidade de milhões de mulheres continuam dependendo do que seus maridos pensam delas e de como elas são tratadas por eles.

Lembre que um dia, usando uma roupa esquisita e na presença de testemunhas, você jurou perante Deus zelar pela felicidade dela. Lembre que a felicidade dela está atrelada, por um ato do próprio Deus, ao que você diz a ela, ao grau de importância que ela recebe na escala de prioridades e valores que você cultiva, a como você a trata, a quanto você a elogia e ao quanto você mantém ativa na sua memória as virtudes dela.

Não pense que uma mulher com a autoestima quebrada poderá ser melhor manipulada. Deus vai lhe pedir contas disso também. Ele vai chegar e perguntar: "ei, marido, sua esposa foi feliz?"

Quando isso acontecer você vai olhar para o lado buscando alguém em quem botar a culpa e o mais triste é que não vai haver ninguém ali.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Como você deve gritar

Caravanas cortando o deserto caminhavam esparsadamente, os grupos guardando uma certa distância uns dos outros a fim de multiplicar as chances de encontrar água. Quando um grupo encontrava, gritava chamando os demais. É essa a imagem que Apocalipse 22:17 quando diz: "O Espírito e a noiva dizem vem, e quem ouve diga vem.Quem tiver sede venha, e quem quiser beba de graça da água da vida"

Quem acha água precisa necessariamente gritar chamando os outros. É a dinâmica estabelecida pelo Mestre. Sigam-me. Provem da água da vida. Agora vão e façam discípulos.

Mas não é só gritar. Aqui a ilustração se descola da realidade. Existe um método envolvido nisso.

Alguns cristãos, preocupados em tirar cinco na prova e passar de ano, aplacam a consciência distribuindo uma vez por ano uns livros na vizinhança sem contato pessoal algum com os presenteados, jogando o livro por baixo da porta do apartamento, por assim dizer. Há os que confiam que o "vem!" será dado pela TV ou pela Internet. Outros se preocupam em levar o potencial discípulo até o templo e, se a pessoa "gostar", oferecem um estudo bíblico, uma transmissão fria e puramente intelectual de grandes verdades.

Ok, tudo isso pode ter seu valor, mas se você quiser cumprir a missão dada pelo Mestre deveria usar as ferramentas que Ele usou. “Unicamente os métodos de Cristo trarão verdadeiro êxito no aproximar-se do povo. O Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: ‘Segue-Me’.” (Ellen G, White, A Ciência do Bom Viver, p. 143). 

É relacional. Requer tempo. Requer amor e disponibilidade. 

Pense nisto: nosso método envolve o interessado "aceitando Jesus", experimentando uma revolução comportamental e então integrando nossa comunidade. Jesus fazia o exato contrário. Primeiro integrava e aceitava, no relacionamento com Ele a pessoa estabelecia um relacionamento com Deus e só então as mudanças comportamentais apareciam.

"Unicamente os métodos de Cristo trarão verdadeiro êxito". Unicamente.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Abrindo os olhos para ver

"E Eliseu orou, e disse: Ó Senhor, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja. E o Senhor abriu os olhos do moço, e ele viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo e redor de Eliseu" (II Reis 6:17).

Há uma realidade invisível ao nosso redor e ela é magnífica. Se a pudéssemos ver, jamais trataríamos qualquer instante da vida que nosso Deus nos dá como banal. Me envergonho quando contrasto a forma alegre com que tantas vezes ignoro essa realidade com a atitude daqueles que não podem ignorá-la.

Apocalipse 4 descreve o trono de Deus no centro do Universo. Ele diz que ao redor de Deus há quatro seres, chamados em outros cantos da Bíblia de querubins, e também há 24 homens, ou anciãos. Eles estão pertinho de Deus, e o que fazem? Os querubins "proclamam sem cessar: 'Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, Aquele que era, que é e que há de vir!'" (Apocalipse 4:8). E o que fazem os tas 24 anciãos? "Eles lançam suas coroas diante do trono e declaram: 'Nosso Senhor e nosso Deus, tu és digno de receber a glória, a honra e o poder, porquanto tu és o Criador de tudo e, por tua soberana vontade, tudo o que há, foi criado e veio a existir'" (v. 10 e 11).

E eis que aparece na cena Jesus Cristo. Ele assume a forma de um Cordeiro, Ele morre, Ele ressuscita. Então os 24 anciãos começam a cantar exaltando Jesus pelo fato de haver comprado homens "de toda tribo, nação, língua e povo(5:9). O que João presencia então é impressionante.

"Então reparei e também ouvi a voz de grande multidão de anjos ao redor do trono e dos seres viventes e dos anciãos... eles proclamavam em alta voz: 'Digno é o Cordeiro de receber a plenitude do poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor!'  Em seguida, ouvi todas as criaturas existentes no céu, na terra e no mar e tudo o que neles há que exclamavam: 'Ao que está assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor ,a honra, a glória e o domínio pelos séculos dos séculos!" (Apocalipse 5:11-13).

Aqueles que estão frente a frente com a glória não fazem outra coisa senão louvá-la. E eu que, como o moço de Eliseu, dou crédito excessivo ao que meus olhos vêem, louvo pouco, louvo mal, bocejo, perco oportunidades de me juntar aos que louvam.

Nós não sabemos de nada, meus amigos. Nada.

Que isso mude!