sexta-feira, 29 de julho de 2011

Quem pergunta quer ensinar 3

Jacó ganhou seu nome, que significa “suplantador”, ou “mentiroso”, quando nasceu agarrado ao calcanhar de seu irmão gêmeo, Esaú. Ele fez jus ao nome quando comprou do irmão faminto seu direito de primogenitura, pagando por isso um prato fumegante de lentilhas e também quando se travestiu de Esaú para enganar seu pai Isaque e receber a benção que era, por direito, de Esaú. Ganhou a benção, mas a consequência imediata dela foi ter de fugir para muito longe, onde a ira de seu irmão ludibriado não poderia alcançá-lo.

Agora Jacó está retornando para casa. Ele atravessou o Jaboque da primeira vez apenas com um cajado e agora está retornando com muitos servos, uma família grande e muito gado. Ele manda servos à frente para levar presentes ao irmão e esses servos voltam dizendo que Esaú está a caminho, e com ele 400 homens.

Jacó se angustia. Separa sua caravana em dois grupos para que pelo menos um deles seja poupado e fica sozinho, orando, reconhecendo que não era digno de estar ali com tantas bênçãos materiais e lembrando a Deus as promessas que lhe fizera. De repente aparece alguém e Jacó começa a lutar com o estranho. Ele luta por um longo tempo com o próprio Jesus e, quando percebe que estivera lutando com alguém que não era humano, agarra-o e reclama uma benção.

É nesse instante que ouvimos outra das inquietantes perguntas de Deus: qual é o seu nome? Ele sabia muito bem o nome de Jacó, então por que a pergunta? Bem, da primeira vez que Jacó obtivera uma benção fora na base da mentira. Ele agora está reclamando outra, mas Deus quer que ele comece reconhecendo quem ele é. Jacó precisa responder perante Deus, em alto e bom som, que ele é um suplantador, um mentiroso. É ali,na sequência, que Deus muda seu nome para Israel, ou “aquele que luta com Deus”.

Deus hoje sai ao nosso encontro com a mão cheia de bênçãos e uma ideia a nosso respeito que é muito mais alta do que a que nós mesmos fazemos. Mas é preciso que reconheçamos nosso erro. Que admitamos quem somos de fato. Que tiremos a máscara que colocamos para os outros verem, a máscara de respeitabilidade, de santidade. É preciso responder com nosso nome real antes de recebermos um outro nome, muito melhor. Este é o primeiro passo da jornada para cima, sem confissão não há perdão.

Se você anda lutando com Deus, responda-Lhe quem é você de verdade. E então levante-se como nova criatura.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Quem pergunta quer ensinar 2

A segunda das curiosas perguntas que Deus faz e que estão registradas na Bíblia aparece logo no capítulo seguinte, Gênesis 4:7: Então o Senhor perguntou a Caim: Por que te iraste? E por que está descaído o teu semblante? Caim estava furioso porque Deus havia aceito o sacrifício de Abel e não o dele.

Abel havia sacrificado aquilo que Deus havia exigido, um cordeiro, como lembrete de que a solução para o problema da humanidade envolvia a morte de um inocente. Caim levou frutas de seu pomar. Não havia problemas em levar algo que Deus não havia pedido. Ele gosta de tudo que levamos a Ele, como gostou do vidro de alabastro caríssimo que foi derramado em seus pés na casa de Simão. O problema é deixar de levar aquilo que Ele solicita. Caim não levou, se enfureceu e Deus arrazoou com ele: é razoável você se enfurecer por isso?

Mas a pergunta vital de Deus para Caim aparece depois que ele assassina Abel: Onde está Abel, teu irmão? (verso9). Deus sabia muito bem onde Abel estava, não precisava da resposta de Caim. O que Ele queria com a pergunta? E por que não perguntou apenas onde estava Abel, mas acrescentou “teu irmão”? Ao pensar no que responderia, Caim seria forçado a se dar conta do que fizera: assassinara um homem; e a quem fizeram: o homem era seu irmão! Ao perguntar aquilo Deus parecia querer que Caim admitisse o tamanho da atrocidade que havia cometido e para a qual estava avisado pelo próprio Deus.

Caim respondeu: acaso sou eu guardador do meu irmão? Ele escolheu ignorar o fato, insistir na tentativa de enganar o próprio Deus.

Bem, hoje ainda Deus sai ao nosso encontro e nos pergunta “onde está o teu irmão?” Podemos imitar Caim. Podemos dar de ombros e dizer “ema, ema, cada um com seus problema”. Podemos ignorar que fomos chamados para pertencer a um corpo, um corpo no qual nenhum membro esquece a existência do outro membro. “Desse modo não existe divisão no corpo, mas todas as suas partes têm o mesmo interesse umas pelas outras.Se uma parte do corpo sofre, todas as outras sofrem com ela. Se uma é elogiada, todas as outras se alegram com ela.” (I Coríntios 12:25 e 26).

Ou podemos fazer diferente, porque Caim não é uma boa pessoa para ser imitada. “Portanto, animem e ajudem uns aos outros, como vocês têm feito até agora... Pedimos a vocês, irmãos, que aconselhem com firmeza os preguiçosos, dêem coragem aos tímidos, ajudem os fracos na fé e tenham paciência com todos.” (I Tessalonicenses 5:11 e 14).

Onde está o teu irmão? Aquele que costumava sentar perto de você na igreja, talvez? Onde está?

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Quem pergunta quer ensinar 1

Deus é onisciente. Exemplificando: isso significa que Ele sabe muito bem como vai o seu pâncreas nesse momento. Ele sabe como vai o seu pâncreas, o seu fígado, o baço, o pulmão, o coração, o cérebro, as córneas e quantos fios de cabelo há na sua cabeça. Ele sabe isso tudo a respeito não só de você mas de todas as pessoas que estão vivas na Terra neste instante. Ele sabe isto tudo não só sobre todas as pessoas vivas mas também sobre todas que já morreram e sobre as que ainda vão existir. Afirmar que Deus é onisciente vai muito além do alcance de nosso intelecto limitado. Ainda assim, encontramos uma série de perguntas feitas por Deus na Bíblia e, se Deus é onisciente, aqui não se aplica a expressão “quem pergunta quer saber”. O que Deus pretende ao fazer perguntas a seres humanos?

A primeira delas aparece no capítulo 3 de Gênesis: “Mas chamou o Senhor Deus ao homem, e perguntou-lhe: onde estás?” Naquele instante, Adão e Eva estavam escondidos no jardim, atrás de algum arbusto. Nas mãos tinham folhas de figueira, que tentavam costurar estabanadamente para cobrir sua nudez; nudez que eles acreditavam que era a fonte do desconforto que sentiam. Não era, claro. A fonte daquela angústia era a separação de Deus ao escolher outra coisa qualquer quando havia um “assim diz o Senhor” apontando em outra direção. Eles foram os primeiros a descobrir que quando estamos separados de Deus não temos paz, temos um buraco no peito.

Quando Deus perguntou “onde estão vocês?”, o que deve ter acontecido no íntimo de Adão e Eva? Aquela pergunta foi a forma sábia de Deus de confrontar o primeiro casal com a verdade avassaladora: veja onde estou, veja onde eu vim parar – estou longe de meu Criador, estou me escondendo dEle!

Deus fez vestes de pele para que eles se cobrissem. Era como se dissesse: “só Eu resolvo o seu problema. Sua tentativa de dar um jeito na situação é ridícula, ridículo como andar vestido com folhas de figueira. Isso não são roupas, veja, eu dou roupa de verdade a vocês, roupa que custa a vida de um inocente”.

A pergunta que cortou o silêncio naquela tarde no Eden cortou também o coração de nossos pais. A pergunta que Deus fez confrontou-os com o que haviam feito, com a escolha que tinham feito, com o lugar para onde ela os havia levado e com a estupidez que é revoltar-se com Aquele que os havia feito para serem felizes.

Gosto de pensar que, da mesma forma como Deus não desistiu de Seus primeiros filhos quando eles Lhe viraram as costas, fizeram o que Ele havia falado para não fazerem e se esconderam dEle, ao contrário, foi atrás deles e os chamou, bem, gosto de pensar que Deus não desiste de mim e que às vezes Ele me pergunta “onde você está?”

Ele tem a solução do seu problema nas mãos e pergunta: onde você está? Ele não precisa da resposta, porque Ele sabe onde você está. Ele quer que você descubra isso.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

As duas últimas disciplinas: guia e celebração

As duas últimas disciplinas sobre que Foster escreve são as disciplinas da condução divina (guia) e a da celebração.

Estamos acostumados a procurar a condução divina num âmbito individual, mas Foster se refere a um outro tipo de guia, aquela que conduz coletivamente um corpo de crentes. Assim como o povo de Israel era guiado pela coluna de fogo à noite e pela nuvem de dia, assim como a igreja primitiva era guiada pelo Espírito Santo, podemos ter a experiência de ser conduzidos corporativamente.

Não se trata do tipo de condução denominacional a que estamos acostumados, em que alguns delegados e pastores votam esta ou aquela proposta, mas o tipo de experiência retratada em passagens como Mateus 18:19 e 20 e Atos 13:1-3. Algumas igrejas têm o costume de, após uma reunião de oração, meditação e louvor, talvez após algum tempo de jejum, abrir espaço para que qualquer membro que queira partilhe com os outros sua visão a respeito de um novo ministério ou alguma iniciativa que na qual ele próprio gostaria de se envolver. Qualquer outro membro então pode se aproximar e “testar o chamado”, inquirindo e orando até ver se não se trata de um entusiasmo passageiro.

A verdade é que passamos tempo demais na igreja e meditamos muito pouco em qual é a missão dela, para que ela serve, qual a sua finalidade. Se praticássemos a Disciplina da busca da condução divina em um âmbito coletivo, não correríamos o risco de tirar a igreja dos trilhos, de errar o alvo para o qual Deus a suscitou.

Por fim, temos a Disciplina da celebração. Em minha igreja, a Santa Ceia é um evento solene. Há todo um processional, a igreja permanece em silêncio, a música costuma ser grave e meditativa. Um dia um pastor visitante tentou dar-lhe um ar mais alegre, argumentando que aquele era um momento de festa, mas ele não teve muito sucesso. A seus rompantes eufóricos a igreja respondia com testa franzida.

Eu amo as Santas Ceias de minha igreja, são sempre um momento de reflexão e de reatamento dos laços que inauguramos um dia e confirmamos no batismo, mas sinto falta da celebração. Sinto falta de momentos em que podemos ser alegres pela redenção que já aconteceu e vai se consumar em breve.

Em II Crônicas 20 vemos como a festa começou antes do livramento acontecer, começou quando ele foi anunciado. Da mesma forma há um momento em que temos que jogar fora toda ansiedade, toda preocupação, e celebrar porque já somos alvos das maiores bênçãos. Como diz Augustine de Hippo, “o cristão deveria ser uma aleluia dos pés à cabeça”.

A celebração é a última Disciplina porque é a ela que as outras todas conduzem. Alegria é um fruto do Espírito. As outras disciplinas todas servem para nos levar à mais importante de todas as experiências, aquela que pode ser apontada como o sentido da vida: a experiência de aprender a confiar em Deus. E quem confia em Deus é alegre, é leve, celebra.

Minha igreja nasceu no auge do racionalismo do século XIX e por isso, toda forma de expressão de alegria, que é emocional e não racional, é visto com desconfiança. Cantar tirando os pés do lugar já deixa muita gente se coçando. Para piorar, nos últimos tempos têm surgido igrejas que enfatizam demais as emoções e o êxtase e que têm uma teologia distorcida, então toda manifestação de alegria cheira a isso. Bem, temos muito a aprender. Se meus filhos ao receberem presentes respondessem com o tipo de alegria que estamos acostumados a mostrar em nosso culto, eu ficaria extremamente frustrado.

Ao ser confrontado com a magnitude da salvação, louve, cante, celebre. Aja em harmonia com o que você sente, porque Deus se agrada de quem é honesto com o que sente!

Feliz sábado, @migos!
Marco Aurelio Brasil, 08/07/11

sexta-feira, 1 de julho de 2011

A décima disciplina: louvor

“Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas forças” (Marcos 12:30). Este mandamento é prefaciado por Jesus com estas palavras: “O mais importante é este” (v. 29). Note que, embora o louvor tenha sido posicionado aqui nesta sequência depois da disciplina do serviço, ele vem antes. A prioridade divina é o louvor, serviço vem depois. Você primeiro ama a Deus (e quem ama expressa o amor, não existe amor calado), depois você ama o seu próximo.

Outra importante afirmação de Jesus é: “Está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura” (João 4:23). Confesso que até esta manhã eu nunca havia reparado na frase com que este verso termina. Jesus afirma claramente que Deus está à procura de adoradores.

Primeiro porque a adoração a Deus é uma questão de justiça. Ele merece ser adorado, por tudo o que é e por tudo o que fez, faz e fará. Segundo, porque a adoração é a resposta que podemos dar a tudo o que Ele fez, faz e fará. Como diz Foster, “No Gênesis, Deus andou no jardim, procurando por Adão e Eva. Na crucifixão, Jesus atraiu todos os homens para Ele (João 12:32). As Escrituras estão repletas de exemplos dos esforços divinos para iniciar, restaurar e manter o companheirismo com seus filhos”. O louvor é a resposta que damos a esses esforços. Ou, como afirma Valdecir Lima, em uma de suas inspiradas poesias, “o louvor é o sorriso da alma”.

Importante destacar que louvor não é sinônimo de cantar e cantar, mesmo hinos, está longe de ser sinônimo de louvor. Em “Viagem ao Sobrenatural”, Roger Mournau narra o culto a Satanás de que participou em uma igreja satanista. Ele se surpreendeu com o fato de eles cantarem os mesmos hinos que se cantam em uma igreja cristã, sem sequer mudar a letra. Aquilo era ofensivo a Deus, lhe explicaram. Para Ellen G. White, nada é mais ofensivo a Deus do que um louvor descuidado, em que o adorador não está “fazendo melodia em seu coração”. Porque adoração é uma coisa que só faz sentido se for em espírito e em verdade. Se sua mente e seu espírito estiverem naquilo. Se for de outra forma, não será adoração, não será louvor. Será uma afronta ao Criador.

Você pode adorar a Deus apenas meditando nos nomes que lhe são dados na Bíblia, ou os recitando em voz alta. Você pode adorar a Deus com música. Você pode adorar a Deus com uma atitude de gratidão sobre tudo, até mesmo pela criança que não para de chorar na igreja (porque é bom que haja crianças na igreja e é bom que elas estejam vivas e sejam normais!).

O louvor é central, e o melhor: é uma disciplina que você pode desenvolver em conjunto. Você pode convidar alguém para adorar com você. É estranho que façamos reuniões para estudar a Bíblia, reuniões para orar, mas dificilmente façamos reuniões só para louvar e adorar.

Há uma última coisa sobre louvor. A Bíblia mostra pessoas adorando em todas as posições e formas possíveis e imagináveis. Há gente adorando de joelhos, há gente adorando deitada, há gente adorando de pé, dançando e até mesmo vestido de saco e com cinzas na cabeça. Não há evidência de que Deus haja aceitado melhor aquela adoração do que esta. Você não sorri apenas com a boca e o louvor não requer de você apenas a voz e talvez um gesto de sobrancelha. Você só responde ao amor de Deus completamente se adorar com seu espírito e com seu corpo. Comendo ou bebendo, fazendo tudo para glória de Deus. O louvor não precisa ser, como se diz em muitas igrejas, “para nosso deleite espiritual”. É para seu deleite completo, porque o deleite do corpo não é pecado. Ofereça tudo o que você é em louvor a Deus.

Ficou difícil? Davi afirma: “preparado está o meu coração, ó Deus; cantarei e salmodiarei de toda a minha alma” (Salmo 108:1). Peça que Deus prepare seu coração e faça aquilo que você foi criado para fazer: adorar o Senhor.