sexta-feira, 1 de junho de 2012

O modelo (parte 2)


Pai nosso...
Mateus 6:9

Se com a primeira palavra da oração modelo Jesus colocou a relação com Deus em um patamar íntimo e próximo como não estávamos acostumados a perceber, com a segunda Ele dá a essa relação uma dimensão coletiva. Frequentemente distorcida, aliás.

Dizer que o Pai é nosso não deveria significar que Ele não é o pai “deles”, os outros, aqueles que são diferentes de nós. É, contudo, como parece querer dizer a muitos cristãos. Talvez inconscientemente esses cristãos sentem como O Pai sendo nosso, Pai dos da minha igreja, do meu grupo. Dos que gostam do tipo de música que eu gosto, dos que usam o cabelo no comprimento que eu uso, dos que têm a cor da pele parecida com a minha.

Em “Alma sobrevivente”, Philip Yancey conta que embora em sua igreja ele houvesse crescido cantando “Cristo ama as criancinhas/que no mundo inteiro há/ não importa sua cor, Ele as quer com muito amor...” seu pastor sulista fazia sermões e sermões explicando porque negros eram amaldiçoados e não podiam ser líderes. Em maior ou menor grau, esse tipo de intolerância e distorção do evangelho pode ser encontrada muito possivelmente em qualquer igreja cristã, para vergonha nossa.

Jesus esforçou-Se em Sua passagem por aqui para nos fazer entender que as barreiras que nos dividem foram inventadas por nós. Por esse esforço inaugurou o entendimento de que somos todos irmãos e é por isso que nos chamamos, infelizmente com um alto grau de hipocrisia, de irmãos e irmãs.

Essa parecia ser a principal preocupação durante o ministério público que culminou com a cruz. Ele não estava tão preocupado com a questão dos hábitos de saúde, com formas de adoração ou tergiversações teológicas. Embora não protestasse contra essas coisas, Seu foco primordial era o bombardeamento dos preconceitos, das hierarquias e castas.

Na parábola do filho pródigo, o filho não deixa de ser filho enquanto está longe. Pelo menos não aos olhos do pai – ele poderia até não sentir-se mais filho, mas nada no mundo poderia mudar seu status de filho na mente do pai. Contudo, aquele filho, enquanto longe, deixava de gozar das benesses da proximidade com o pai.

As benesses da proximidade do pai eu abordei no texto de ontem; para que isso valha alguma coisa, contudo, é preciso que o filho escolha estar perto e não há nada que o pai deseje mais. O que estou querendo dizer é que somos todos filhos de Deus, todos, embora muitos desdenhem do tipo de vantagens que isso traz. Se somos todos, perto ou longe, filhos, orar “Pai nosso” deveria significar um pedido desesperado para conseguirmos enxergar aquele nosso irmão como o Pai o enxerga.

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