Pai
nosso...
Mateus 6:9
Se com a primeira palavra da
oração modelo Jesus colocou a relação com Deus em um patamar íntimo e próximo
como não estávamos acostumados a perceber, com a segunda Ele dá a essa relação
uma dimensão coletiva. Frequentemente distorcida, aliás.
Dizer que o Pai é nosso
não deveria significar que Ele não é o pai “deles”, os outros, aqueles que são
diferentes de nós. É, contudo, como parece querer dizer a muitos cristãos.
Talvez inconscientemente esses cristãos sentem como O Pai sendo nosso, Pai dos
da minha igreja, do meu grupo. Dos que gostam do tipo de música que eu gosto,
dos que usam o cabelo no comprimento que eu uso, dos que têm a cor da pele
parecida com a minha.
Em “Alma sobrevivente”,
Philip Yancey conta que embora em sua igreja ele houvesse crescido cantando
“Cristo ama as criancinhas/que no mundo inteiro há/ não importa sua cor, Ele as
quer com muito amor...” seu pastor sulista fazia sermões e sermões explicando
porque negros eram amaldiçoados e não podiam ser líderes. Em maior ou menor
grau, esse tipo de intolerância e distorção do evangelho pode ser encontrada
muito possivelmente em qualquer igreja cristã, para vergonha nossa.
Jesus esforçou-Se em Sua
passagem por aqui para nos fazer entender que as barreiras que nos dividem
foram inventadas por nós. Por esse esforço inaugurou o entendimento de que
somos todos irmãos e é por isso que nos chamamos, infelizmente com um alto grau
de hipocrisia, de irmãos e irmãs.
Essa parecia ser a principal
preocupação durante o ministério público que culminou com a cruz. Ele não
estava tão preocupado com a questão dos hábitos de saúde, com formas de
adoração ou tergiversações teológicas. Embora não protestasse contra essas
coisas, Seu foco primordial era o bombardeamento dos preconceitos, das
hierarquias e castas.
Na parábola do filho
pródigo, o filho não deixa de ser filho enquanto está longe. Pelo menos não aos
olhos do pai – ele poderia até não sentir-se mais filho, mas nada no mundo
poderia mudar seu status de filho na mente do pai. Contudo, aquele filho,
enquanto longe, deixava de gozar das benesses da proximidade com o pai.
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