sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Sem analgésico


Assistindo à cobertura da Olimpíada de Londres, é engraçado ver como as pessoas se sentem desconfortáveis vendo nossos atletas que fracassam chorar. Muita gente trata essa manifestação de dor, decepção e sofrimento como um corpo estranho. Acho que isso está relacionado ao fato de que pouca coisa é tão amada por nossa geração quanto o analgésico. Criou-se pela primeira vez na História uma geração inteira que absolutamente não sabe sentir dor e é capaz de enlouquecer quando ela chega. Para um ambiente assim, fica cada vez mais difícil seguir o Deus bíblico.Afinal, “no mundo tereis aflições” (João 16:33) é uma assertiva absolutamente incondicional.

Na última semana comentei aqui que Jesus rumou para Jerusalém absolutamente certo do que iria acontecer e nada, nem vitória nem derrota, nem satisfação nem decepção, foi capaz de tirá-lo da estrada que O levaria a cumprir a vontade de Seu Pai, por sacrificante que Lhe fosse. Bem, mas é verdade também que Ele levou Seus discípulos consigo. Ele levou os discípulos para testemunharem tudo. Como disse Oswald Chambers, Deus guiou os discípulos até o local onde eles teriam seus corações partidos.

Em As Crônicas de Nárnia, o épico de fantasia que C. S. Lewis escreveu para introduzir a fé cristã para as crianças, Aslam, o leão que é um tipo de Jesus Cristo, ruma solitário para o sacrifício, escapando furtivamente do acampamento de seu exército; apenas as meninas Lúcia e Susana assistem à cena, porque o seguem. Bem, Jesus fez diferente. Ele levou os onze, pediu que permanecessem alertas, com os olhos bem abertos para ver tudo o que aconteceria e então foi aprisionado, espancado, ridicularizado, injustiçado, torturado e morto bem na sua frente. O que se seguiu foi desorientação, perplexidade e uma tristeza com a qual não tinham ferramentas para lidar. A seco. Sem analgésico.

O coração partido daqueles onze homens e das mulheres que os acompanhavam foi o estopim da transformação que Deus operou neles.

Mas por quê? Haveria outra maneira? Conhecendo a Deus, vendo o traço de caráter que Ele revela justamente naquela cruz, sabemos que, houvesse outra maneira, Ele a teria empregado. Por causa de nossa natureza pecaminosa, sempre desatenta à verdade por estar muito focada no que gostaria que a realidade fosse, não havia outro método. Sabemos também que Deus não obra o mal, mas não temos razões para ignorar que pode haver situações em que Deus nos conduzirá ao local onde teremos nosso coração despedaçado. Ele está olhando mais à frente e moldando a pessoa que não queremos, mas que precisamos ser.

Deus não poupou Seus amigos queridos das cruéis cenas de Sua paixão porque entre poupar a dor e vê-los salvos, Ele preferiu a segunda opção. Em algum momento pode ser que aconteça o mesmo com você e comigo. Sua reação a isso depende do grau de confiança que você depositar sobre Ele hoje.

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