Assistindo à cobertura da
Olimpíada de Londres, é engraçado ver como as pessoas se sentem desconfortáveis
vendo nossos atletas que fracassam chorar. Muita gente trata essa manifestação
de dor, decepção e sofrimento como um corpo estranho. Acho que isso está
relacionado ao fato de que pouca coisa é tão amada por nossa geração quanto o
analgésico. Criou-se pela primeira vez na História uma geração inteira que
absolutamente não sabe sentir dor e é capaz de enlouquecer quando ela chega.
Para um ambiente assim, fica cada vez mais difícil seguir o Deus bíblico.Afinal,
“no mundo tereis aflições” (João
16:33) é uma assertiva absolutamente incondicional.
Na última semana comentei aqui
que Jesus rumou para Jerusalém absolutamente certo do que iria acontecer e
nada, nem vitória nem derrota, nem satisfação nem decepção, foi capaz de
tirá-lo da estrada que O levaria a cumprir a vontade de Seu Pai, por
sacrificante que Lhe fosse. Bem, mas é verdade também que Ele levou Seus
discípulos consigo. Ele levou os discípulos para testemunharem tudo. Como disse
Oswald Chambers, Deus guiou os discípulos até o local onde eles teriam seus
corações partidos.
Em As Crônicas de Nárnia, o
épico de fantasia que C. S. Lewis escreveu para introduzir a fé cristã para as
crianças, Aslam, o leão que é um tipo de Jesus Cristo, ruma solitário para o
sacrifício, escapando furtivamente do acampamento de seu exército; apenas as
meninas Lúcia e Susana assistem à cena, porque o seguem. Bem, Jesus fez
diferente. Ele levou os onze, pediu que permanecessem alertas, com os olhos bem
abertos para ver tudo o que aconteceria e então foi aprisionado, espancado,
ridicularizado, injustiçado, torturado e morto bem na sua frente. O que se
seguiu foi desorientação, perplexidade e uma tristeza com a qual não tinham
ferramentas para lidar. A seco. Sem analgésico.
O coração partido daqueles
onze homens e das mulheres que os acompanhavam foi o estopim da transformação
que Deus operou neles.
Mas por quê? Haveria outra
maneira? Conhecendo a Deus, vendo o traço de caráter que Ele revela justamente
naquela cruz, sabemos que, houvesse outra maneira, Ele a teria empregado. Por
causa de nossa natureza pecaminosa, sempre desatenta à verdade por estar muito
focada no que gostaria que a realidade fosse, não havia outro método. Sabemos
também que Deus não obra o mal, mas não temos razões para ignorar que pode
haver situações em que Deus nos conduzirá ao local onde teremos nosso coração
despedaçado. Ele está olhando mais à frente e moldando a pessoa que não
queremos, mas que precisamos ser.
Deus não poupou Seus amigos
queridos das cruéis cenas de Sua paixão porque entre poupar a dor e vê-los
salvos, Ele preferiu a segunda opção. Em algum momento pode ser que aconteça o
mesmo com você e comigo. Sua reação a isso depende do grau de confiança que
você depositar sobre Ele hoje.
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