...assim
como nós também temos perdoado aos nossos devedores. Mateus
6:12
Finalmente chegamos ao ponto
da oração modelo em que aparentemente Jesus nos incentiva a continuarmos
fazendo o que mais gostamos de fazer quando oramos: barganhar. “Veja, Senhor,
já que eu tenho perdoado aos outros, mereço o Teu perdão também”. Somos
exímios em mostrar a Deus a conveniência de atender os nossos pedidos. Ainda
que eventualmente não tenhamos a cara de pau de listar nossos bons atos como
que nos recomendando a Deus, somos hábeis em tentar dar a entender que pode ser
bom para Ele fazer o que pedimos. Por absurda que seja essa ideia.
Ocorre que essa hipótese não
faz o menor sentido na moldura da relação pai-filho, especialmente quando o que
está em jogo é perdão. Como tentei defender ontem, o perdão do pai que ama seu
filho já está dado antes que ele o peça. É incondicional, independe de qualquer
ato anterior dele.
Paulo parece concordar
comigo. Em dois momentos (Efésios 4:32 e Colossences 3:13) ele insta com os
cristãos para que pratiquem o perdão porque já foram perdoados eles também. Ou
seja, o perdão divino, para Paulo, é anterior ao perdão entre homens. Não
apenas isso, mas o perdão divino é o verdadeiro impulsionador, é o princípio, é
o que torna possível o perdão entre homens.
Vejo na preocupação de Jesus
em colocar a questão do perdão no nível “horizontal” dentro da Sua oração
modelo uma derramada súplica para que Sua igreja fizesse justamente o que não
está mostrando ser capaz de fazer hoje: multiplicar o perdão que recebeu. Essa mesma
preocupação Ele transformou em parábola quando contou do grande devedor
perdoado que não conseguia ele próprio perdoar a dívida muito menor do outro.
Se a igreja fosse capaz de perdoar aos seus “devedores”, estaria de braços e
sorrisos abertos a pessoas diferentes do padrão (moral, racial ou simplesmente
estético) que ela prega, sem falar na nova dimensão que o relacionamento entre
os próprios membros da igreja teria.
Penso que é justamente
porque os cristãos não se sentiram verdadeiramente perdoados, ou não perceberam
a imensidão da amplitude desse amor, que não sabem ser multiplicadores da
graça. “O amor de Cristo nos constrange”,
disse o mesmo Paulo (II Coríntios 5:14). Se você e eu não nos sentimos
constrangidos a enxergar o outro de forma diferente – de forma
inclusiva, perdoadora, tolerante e com amor – é porque não conhecemos o amor de
Cristo.
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