Mas
livra-nos do mal
Mateus 6:13
Definitivamente, por mais
que isso violente os axiomas tidos por razoáveis e verossímeis pela
racionalidade de nosso tempo, o mal existe. Ele é nominado por Jesus,
considerado uma realidade suficientemente relevante para ser incluída na oração
modelo. Depois de se preocupar com a entrega dos próprios caminhos nas mãos de
Deus, com o sustento diário e com o perdão - essencial à nossa saúde emocional
e até mesmo física, Jesus nos orienta a terminar nossos contatos com o Pai
suplicando força para vencer a tentação e libertação do mal.
Pela colocação da frase (“não nos deixes cair em tentação; mas
livra-nos do mal”) podemos ver esse “mal” como algo além dos perigos
físicos que nos cirandam todo dia, envolve a tentação também. Assim, a súplica
por livramento do mal envolve suas facetas mais materiais e também as
espirituais.
Mas por que eu preciso pedir
ao meu Pai, que me ama, que me proteja? Não é desnecessário? Talvez a utilidade
disso não esteja em alcançar aquilo que estamos pedindo, já que o teríamos
mesmo sem pedir, mas a importância de repetirmos esse pedido dia após dia
reside no fato de que isso nos ajuda a lembrar que estamos sujeitos ao mal,
seja ele físico ou espiritual.
Um mês antes de eu escrever
este texto meu sogro caminhava pela calçada próxima a sua casa. Queria perder
umas últimas gramas para estar o mais esbelto possível no casamento de sua
filha do meio, no dia seguinte. De repente ele se viu no chão, esvaindo em
sangue, sem saber exatamente o que havia acontecido. Um garoto dirigindo
perigosamente o atropelou sobre a calçada, fugindo em seguida. Ele está fora de
perigo hoje, mas a cada mínimo movimento de sua perna ou de seu braço
fraturados uma dor lancinante injeta nele a dolorosa consciência da
vulnerabilidade.
Para não precisarmos
depender de chacoalhões trágicos como esse para só então volvermos o rosto para
cima e zelar pelo relacionamento com o Pai é que nos é útil repetir a cada dia,
várias vezes ao dia, a súplica que serve como um auto-lembrete de que estamos
todos constantemente sujeitos ao mal. O lembrete de que o mal é maior que nós e
de que todos os nossos planos, projetos, estratégias e aspirações são pó e a
isso podem ser reduzidos por um instante em que as coisas fogem ao controle.
A tentação de esquecer isto
é enorme, porque todos os dias abrimos os olhos e estamos vivos, o sangue
percorrendo as veias, as coisas em seus devidos lugares.
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