Aquela mãe de amigos meus se incomodava profundamente com
minha postura desleixada na adolescência e achou um jeito bastante interessante
de me fazer conscientizar sobre a necessidade de vigiar minha postura: toda vez
que me via emulando Quasímodo, com os ombros projetados pra frente e a cabeça
entre eles, ela vinha por trás e empurrava com o nó do indicador a base de
minha coluna lombar. Num passe de mágica minha postura se emendava.
Por alguma razão lembrei disso lendo Atos 4. Os apóstolos
pregavam sobre Jesus, dizendo que Ele havia ressuscitado quando foram chamados
perante os líderes judaicos para responder com que autoridade falavam aquelas
coisas. Aparentemente, naquele tempo você precisava necessariamente ter
autoridade vinda de cima para fazer qualquer coisa. Eles queriam saber qual era
a escola rabínica à qual estavam afiliados e que lhes permitia a ousadia de pretender
ensinar quem quer que fosse.
Pedro responde com poucas palavras, sem rodeios: falamos em nome de Jesus Cristo, aquele que
vocês mataram, mas que Deus ressuscitou dos mortos. Não existe outro nome capaz
de salvar. Essa resposta me lembra muito alguém com a coluna muito ereta, o
peito estufado. Ousadia. Coragem. Confiança. Como está na Bíblia Viva, “Quando os membros do Sinédrio viram a
coragem de Pedro e João, e percebendo que eles eram evidentemente homens
simples e sem cultura, ficaram admirados e reconheceram o que a convivência com
Jesus havia feito neles” (verso 13).
Mas a coluna de Pedro nem sempre esteve assim retinha. No
dia do aprisionamento de Jesus, quando perguntado se O conhecia, Pedro se
encolheu todo e negou.
Anos atrás a revista Carta Capital publicou uma longa
matéria sobre evangélicos no Brasil e chegou a uma curiosa constatação: a elite
brasileira não gosta dos evangélicos porque há algo na fé deles que melhora sua
autoestima, os faz empinar o peito e exigir seus direitos.
Que lindo paradoxo temos aqui: seguir o humilde galileu,
assumir o tipo de humildade que Ele praticou, deveria melhorar, e não piorar
nossa autoestima, deveria nos encher de uma santa ousadia e de um destemor
sobrenatural.
A graça veio com seu dedo indicador e empurrou nossa coluna
pra frente. A graça veio e nos mostrou quem somos e o que somos é muita coisa. Agora
estufamos o peito, erguemos o pescoço não por nos sentirmos superiores a quem
quer que seja, mas por saber que não somos inferiores a ninguém, nem mesmo aos
que o mundo aplaude como vitoriosos. Acertamos nossa postura com a certeza de
que somos valiosos porque somos filhos de Deus e que Ele nos viu dignos de
enviar Seu próprio Filho para morrer em nosso lugar.
E o fato de estarmos sempre prontos a nos curvar e servir não
significa que nos sentimos menores do que efetivamente somos. Antes, bem ao
contrário.
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