sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Novos começos

O ano novo pela frente, com sua multidão de páginas em branco, convida a respirar fundo e recomeçar. Começos são sempre espinhosos, requerem adaptação e força de vontade, sem falar que muitas vezes os desafios que assumimos botam um medo terrível na gente.

Nessas horas é muito bom lembrar de Josué, meio assustado por ter sido guindado à posição de líder máximo da multidão israelita que marchava sobre Canaã, e das palavras de Deus a dizer-lhe, repetidas vezes, por entre toda a perplexidade do rapaz: "não temas. Sê forte e corajoso, porque Eu sou contigo". Não importa o tanto de bichos de sete cabeças que apareçam no seu novo começo, não há de haver desafio maior que o poder do Senhor para que você dele dê conta.

Podemos, sem qualquer medo de errar, perscrutar o horizonte incerto e sorrir confiantes. Não importa o tanto de novos começos que apareçam até que O vejamos; não importa sua complexidade, seus traumas e impasses; temos um Deus que nos convida a descansar em Sua divina Providência.

Não precisamos jamais temer novos começos. Ele mesmo, nosso Criador e Redentor, promete que o princípio de nossa felicidade suprema começa com isto, um novo começo, e o faz nessas magníficas palavras: "Faço novas todas as coisas" (Apocalipse 21:5). Que beleza! Tudo o que Ele quer é fazer um último e definitivo novo começo para nós, mas até lá nos há de guiar, capacitar, proteger e cuidar. Você costuma desconfiar da validade das promessas feitas por quem o ama? A promessa é sua, aproprie-se dela e toque em frente!

Neste recomeço, desligue o som do mundo e ouça a voz serena do Pai: "Esforça-te e tem bom ânimo; não te atemorizes, nem te espantes; porque o Senhor teu Deus está contigo por onde quer que andares." Josué 1:9.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Sim!

Então Calebe, fazendo calar o povo perante Moisés, disse: Subamos animosamente, e apoderemo-nos dela; porque bem poderemos prevalecer contra ela.
Números 13:30

O telefone tocou e do outro lado da linha alguém me chamando por um nome que ninguém usava havia uns dezesseis anos, fazendo mistério pra ver seu eu adivinhava quem era.

- Quem?! eu havia escutado certo: Robson Tatimoto. De que tumba ele teria saído? Estudei com ele até acho que a sétima série do fundamental e depois nunca mais havia ouvido falar dele. Disse que encontrou alguém daquele tempo longínquo e logo foram trocando informações sobre os colegas com quem mantinham ainda algum contato e a vontade de ver o povo foi crescendo e os contatos foram acrescentando pessoas e em cinco dias recebi ligações de uma porção de gente que até então era apenas uma lembrança amarelada num baú bem guardado. Fizeram uma página na Internet pra colocar fotos, começou uma corrente de e-mails nostálgicos e desse jeito eu fui mais uma vez transportado para os idos de 1986, 1987.

Pensar no assunto me liberou endorfinas suficientes para muitos dias. Relembrei rostos, vozes, fatos, músicas e sensações gratas. Entre tantas lembranças, contudo, veio a de uma dessas colegas que acabou coincidentemente, depois do intervalo do ensino médio, fazendo faculdade comigo. A gente nunca tinha sido muito próximo e no dia em que toquei no assunto de nosso passado em comum na frente de outros colegas da faculdade, ela se pôs a contar aos outros as exóticas normas da escola em que havíamos estudado. Enumerou milhões de "nãos", alguns dos quais eu nem lembrava mais. Falou da saia que tinha de usar, da proibição do uso de adornos, da ausência de carne na dieta, dos rígidos padrões morais, das aulas de religião e mais uma penca de coisas, tudo como se tivesse sobrevivido ao inferno.

Fiquei decepcionado e jamais voltei a tocar no assunto com ela. Diferentemente da impressão que lhe ficou, para mim eu não havia sobrevivido ao inferno, mas caído do Céu, depois que saí de lá. A porção de "nãos" para mim nunca havia disputado nem de longe com a multidão de "sins" que eu trazia do tempo das espinhas na cara. Cada nuance daquele tempo bom era para mim um sonoro e retumbante sim!

Fiquei muito feliz de perceber que a minha opinião é compartilhada por um monte dos colegas de então, mas não posso deixar de estranhar em como uma mesma situação, um mesmo contexto, pode ter ressonâncias tão distintas para pessoas que o viveram teoricamente nas mesmas condições.

Também isso aconteceu entre os doze espiões de Moisés que foram vasculhar Canaã. Dez viram uma terra inalcançável e dois, que enxergaram tudo pelo mesmo ângulo e nas mesmas, digamos, condições climáticas que os demais, viram algo facilmente conquistável mediante o poder do Deus que os tirara do Egito. A diferença, aí, estava no quanto esses dois conheciam ao Deus que ia com eles.

O que determina a diferença? O que faz com que as situações da vida sejam sim ou não para alguém, e para a pessoa do seu lado o perfeito oposto?

Fico pensando em como olharemos para o hoje daqui a algum tempo. Veremos "nãos" ou "sins"? Ora, o mesmo Deus que estava lá, atrás dos israelitas, empurrando-os para Canaã e o tranquilizando com Seu braço forte, o mesmo Deus que me cercou de coisas boas há dezesseis anos, sabendo que elas haveriam de ser preciosas na dura caminhada que eu ainda nem desconfiava que assomava à minha frente, bom o mesmo Deus está agora dizendo coisinhas como "mas tu, meu amigo, não temas porque sou contigo, não te assombres porque eu sou teu Deus" (Isaías 41).

Voltei de 1987 não apenas cheio de endorfinas, mas também disposto a ver muitos "sins" no meu caminho de hoje. E graças a Deus eu os vi! E você, o que vê?

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A pirâmide

Como foi sua alimentação este ano? Você conhece o ditado: você é o que você come, e talvez você conheça também a pirâmide alimentar, aquela representação gráfica que coloca na base do triângulo pães, cereais e carboidratos e lá na pontinha dele açúcares e gorduras, indicando que a alimentação tem que ser aqueles como regra e estes como exceção. A proporção dos alimentos que você comeu este ano foi saudável?

Para além da dica de resolução de ano novo (“em 2011, vou me alimentar melhor!”), minha intenção é lembrá-lo que Jesus Cristo afirmou ser “o pão da vida” (João 6:35). Ele sabe que você é o que você come e por isso Ele se identificou com o alimento mais trivial e básico que existe, aquele que comemos todos os dias.

No começo do século passado, Oswald de Andrade e outros intelectuais paulistas assinaram o “Manifesto Antropofágico”, um libelo artístico e literário que enaltecia o espírito criativo humano e convocava a todos que alimentassem seu espírito com os frutos da verve de outros homens. Não é exatamente o que temos feito? De que alimentamos nosso espírito? O que comemos todos os dias? Mais que isso: nossos valores e princípios, a forma como entendemos o mundo e aquilo que reputamos como verdade e como conhecimento, são fruto de quem? De Deus ou dos homens?

Alguns cristãos pregam que só devemos comer pão, que tudo o que pessoas que não temem a Deus fazem não presta e não devemos “comer”, mas esse me parece outro extremo nada saudável. Paulo conhecia as obras dos pensadores de seu tempo e Deus sempre nos inspirou através das formas artísticas conhecidas. Deus ama a poesia, a pintura, a música e a literatura e não poderia ser diferente, já que a criação de Suas mãos exala uma arte superior por cada mínimo poro.

Acontece que Ele é pão e as obras dos homens são açúcar. Um é regra, o outro é exceção. Um é para ser comido todos os dias em quantidades generosas, o outro não é essencial.

Em 2011, garanta o essencial.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O sábio e o esperto

Costumamos dizer que Salomão foi o homem mais sábio que já existiu. Bem, o tal “homem mais sábio que já existiu” realmente conhecia muito de botânica, biologia e astronomia, conseguia decifrar enigmas complicados e tinha habilidade em julgamentos para desmascarar a mentira – como vimos no caso das duas mulheres que disputavam a maternidade de um bebê - mas isso tudo é sabedoria?

Quando Deus lhe perguntou o que ele queria ganhar, Salomão pediu “um coração cheio de discernimento para governar o teu povo e capaz de distinguir entre o bem e o mal” (I Reis 3:9). Por outras palavras, Salomão pediu para ser esperto, e não apenas um jovem inexperiente. A resposta de Deus foi: “eu lhe darei um coração sábio e capaz de discernir” (verso 12). Deus acrescentou não apenas riquezas e poder ao pedido de Salomão, mas sabedoria propriamente dita.

O que ele fez com ela, contudo? Depois que Salomão construiu o templo, I Reis 9 diz que Deus lhe apareceu e lembrou que a promessa de proteção e cuidado sobre ele e seus descendentes dependia da obediência dele aos estatutos divinos. Falta de aviso, portanto, não foi, porque dois capítulos adiante somos informados que Salomão tomou 700 mulheres e 300 concubinas; “elas eram das nações a respeito das quais o Senhor tinha dito aos israelitas ‘vocês não poderão tomar mulheres dentre essas nações...” “À medida que Salomão foi envelhecendo, suas mulheres o induziram a voltar-se para outros deuses, e o seu coração já não era totalmente dedicado ao Senhor, o seu Deus.” (11:2 e 4).

Casar-se com princesas era uma ótima forma de garantir a paz entre as nações, e permitir que essas princesas conservassem sua cultura era certamente a forma mais fácil de mantê-las satisfeitas. Isso era mera esperteza, não era sabedoria. Afinal de contas, o “homem mais sábio que já existiu” escreveu que “o temor do Senhor é o princípio do conhecimento” (Provérbios 1:7). O discernimento sem temor do Senhor é mera esperteza. Salomão só foi sábio enquanto ouviu mais aos conselhos divinos do que às conveniências políticas.

É difícil reconhecer a verdadeira sabedoria entre seus genéricos disfarçados. Como saber o que é sabedoria, de fato, e o que é mera esperteza? Bem, Paulo dá uma ótima dica: “Porque desde criança você conhece as Sagradas Letras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus” (II Timóteo 3:15).

Sabedoria de fato é aquela que opera a salvação, e o princípio dela é o temor do Senhor. O resto engana bem, mas não é sabedoria.

Feliz sábado, @migos!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O terror e a gratidão

A semana começou com uma cena histórica: homens das forças policiais e militares hasteando uma bandeira brasileira no alto do complexo de favelas do Alemão, no Rio de Janeiro. Para todo mundo nascido desde a década de 70, a existência de bolsões onde o Estado não existe (lugares onde a ordem é mantida por um código de valores e por leis totalmente diferentes dos que vigoram no restante da sociedade organizada) é algo natural, faz parte da paisagem. O que possibilitou a existência dessas zonas cinzentas foi uma conjugação de alguns fatores: a geografia carioca, que torna os morros inexpugnáveis e que mistura favela com as outras partes da cidade em todas as suas zonas, o descaso histórico do Estado pela população humilde que foi obrigada
a subir os morros para encontrar onde morar e a estratégia de dominação dos traficantes.

Os traficantes escolheram o caminho mais curto para garantir o exercício do poder nos seus feudos: uma mistura de terror com assistencialismo. De um lado, invadem casas, espancam, torturam, ostentam seus fuzis e metralhadoras livremente, ameaçam e matam sem pestanejar. De outro, cuidam da segurança dos habitantes da favela,
coíbem o roubo em seus domínios, exercem uma justiça paralela, distribuem presentes, trocam favores. Com isso, garantem uma fórmula infalível para ganhar respeito e obediência, manejando com uma mão o medo e com outra a gratidão.

Quando as tropas subiram o morro, contudo, viu-se que terror e gratidão, embora garantidores de obediência e servilismo instantâneos, constituem uma motivação frágil para isso. Traficantes presos foram insultados abertamente por parte da população e uma enxurrada de denúncias anônimas por telefone vinda de moradores do bairro apontou esconderijos e rotas de fuga dos marginais. Moradores aliviados foram
entrevistados.

Conhecemos bem o caminho mais fácil para a obediência. O mesmo não se pode dizer do caminho mais difícil, aquele que Jesus trilhou. Jesus sabe que a obediência que nasce do medo é precária e corrompida. “No amor não há medo, antes o perfeito amor lança fora o medo; porque o medo envolve castigo; e quem tem medo não está aperfeiçoado no amor“ (I João 4:18). Jesus sabe também que a obediência por simples
gratidão também não é suficiente. A gratidão é imprescindível para nossa sanidade mental, mas não é ainda o motivo correto para a obediência. Só o amor é.

Por isso é que Jesus não carrega nas cores quando fala do juízo. Ele não fica esfregando fogo e enxofre na nossa cara. Quando fala do juízo, algo que é real e que está acontecendo e que, portanto, sobre o qual seria falta de amor calar, ele enfatiza a vitória que será para os que forem aprovados. Por isso também é que Jesus não compra nossa obediência com dinheiro e saúde como os adeptos da teologia da prosperidade advogam. Em lugar disso Ele nos ama, nos pega nos braços, nos aquece, nos consola, nos dá esperança. Amor gera amor e a obediência e o respeito que nascem do amor são indestrutíveis.

Por um caminho mil vezes mais difícil do que aquele que nós escolheríamos Ele subiu e cravou sua bandeira em nosso coração. Louvado seja.