sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Na praia

Mesmo que a centenas de quilômetros da praia mais próxima, o 1º de janeiro para mim sempre tem cheiro de mar. Em primeiros de janeiro idos, eu acordaria mais cedo que a maioria das pessoas e iria para a praia. Ela estaria vazia, a enorme população que acorre ao litoral nessa época do ano estaria ainda se refazendo dos excessos da virada. Eu passaria por uma infinidade de garrafas, tocos de velas, restos de rojões disparados e acharia um cantinho limpo na areia para me assentar e encarar o mar.

Janeiro recebe seu nome do deus romano Janos, o deus da porta, representado nas gravuras como tendo dois rostos, um encarando o passado e o outro o futuro. Ali, na inauguração de um novo ano, eu faria como ele e olharia para trás e para a frente.

Olhando para trás eu pesaria o que passou, as batalhas perdidas, as ganhas, tentaria contar as bênçãos, fazer balanços, assentar decisões, dissecar erros.

Olhando para a frente eu veria o mar. O mar de azul imaculado a proferir seu discurso repetitivo e sábio. Eu olho para o mar e não sei o que ele está dizendo, não entendo sua linguagem. Não sei o que o ano me reserva. A promessa do Pai foi de uma lâmpada para os pés, não um holofote. Aí eu me perguntaria se o olhar para trás terá algum real proveito. Será que eu vou saber evitar as pedras soltas do caminho, que me fizeram cair no último ano? Será que vou alcançar aquela conformidade com os desígnios de Deus capaz de me colocar em indestrutível harmonia com o Céu, conferindo confiança e esperança haja o que houver?

Eu sorriria e pensaria que estou começando a aprender a pedir as coisas certas. Em outros primeiros de janeiro eu pedia que Deus me poupasse de sofrer com tempestades, que não deixasse o vento sacudir minha embarcação e que me desse o que eu achava que precisava. Não, o que eu hoje quero, Senhor, não tem nada que ver com o que está fora de mim mesmo; não interessa o que vai me acontecer, ou pelo menos isso não é o que mais me interessa. Interessa o que vai aqui dentro.

Interessa, e isso peço, o tipo de patrimônio espiritual que vai determinar como vou encarar as situações que estão aí na frente e eu não conheço.

Eu olharia o sol que sobe e lembraria das palavras de Salomão: "porque a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito" (Provérbios 4:18).

Vou estar aqui, nesta praia, no próximo primeiro de janeiro? Se sim, qual o resultado de meu olhar para trás? Vou sentir-me havendo crescido um pouquinho na direção do dia perfeito? Se Ele disse, é porque pode ser assim! Eu confio. Eu sorrio. Eu louvo Seu nome e me ponho de pé.

Venha, ano novo, com tudo que esconde. Venha, que meu destino é um dia estar assentado na praia de um mar de vidro misturado com fogo, então você não me assusta mais.

Um comentário:

Lux disse...

Feliz ano novo, meu amigo!