sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Aquela tentação

Para os adeptos da filosofia da Nova Era, a história do mundo está dividida em eras, cada uma delas tendo um avatar, um líder espiritual proeminente. Jesus seria o avatar da era cristã, e antes dele o avatar seria ninguém menos que Moisés. Moisés é apontado por gente que respeito como o maior líder que a raça humana já viu. Ele não apenas conduziu um povo inteiro para a liberdade de um cativeiro injusto, a exemplo de um Gandhi, mas liderou esse povo em condições adversas por décadas, lapidando sua cultura como legislador e juiz. Moisés não tem paralelos na História. Mas Moisés nem sempre quis ser esse Moisés. Na verdade ele tentou com todas as forças evitar ser esse Moisés pela força da tentação da mediocridade.

Êxodo 4 narra o episódio. Depois de deixar para trás aquele primeiro Moisés, impulsivo e violento, vamos encontrá-lo exercitando uma profissão que Gênesis 46:34 refere ser abominável a um egípcio: a de pastor de ovelhas. Ele vê a sarça ardente e Deus fala através dela. Em suma, Ele diz: "vamos voltar àquele seu plano original. Vamos libertar o povo hebreu do cativeiro e você vai liderar esse movimento ". Mas quarenta anos haviam se passado e tudo o que Moisés mais queria agora era um dia tranquilo com suas ovelhas e depois comer o kebab com coalhada que Zípora fazia. A tentação da mediocridade é tão forte que ele "peita" o Deus que fala através de uma sarça que arde e não se consome.

"- E se não acreditarem?" 

"- Então você fará estes sinais incríveis e miraculosos". 

"- Mas eu não sei falar, sou um péssimo orador".

"- Quem fez a boca? Eu te ajudarei!"

"- Certo mas... envie outra pessoa assim mesmo!"

O Moisés confortável na pele de pastor de ovelhas não queria de modo algum ser um avatar ou o maior líder de lugar algum. A zona de conforto, a pequenez, o anonimato eram magnéticos a ponto de ele peitar o próprio Deus, a despeito de seus argumentos serem todos facilmente refutados.

Nesse caso específico, Deus estava disposto a insistir. 

Cada santo dia na minha vida e na de minha família, no cuidado que Ele nos dedica, na proteção e na condução serena para atingir os Seus propósitos, há uma sarça ardente. Deus fala através dela. Cada dia Ele me lembra que quer voltar ao plano original, aquele no qual eu lidero outras pessoas para fora do cativeiro. Ele chama isso modernamente de discipulado.

A mediocridade de não ser líder do que quer que seja me atrai com uma força incrível. Minhas ovelhas são meu tempo, meus hobbies e o conforto indizível de não ser referência para ninguém e assim poder alimentar minhas incoerências e minha obediência parcial e indecisa a Seus mandamentos. 

Até quando será que Ele vai insistir?

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