sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Ídolos

É impossível ler a Bíblia, especialmente o Velho Testamento, e não ficar impressionado com a condenação que se faz da idolatria. A ênfase dada nisso é absolutamente desproporcional em relação a qualquer outro pecado. Ele parece estar no epicentro das decisões divinas por permitir que Israel seja subjugado, escravizado e levado em exílio por outros povos, e o mandamento, dos dez, que trata disso diretamente acrescenta uma advertência das mais curiosas: diz não farás imagens de escultura para os adorar "porque eu, o Senhor, o teu Deus, sou Deus zeloso, que castigo os filhos pelos pecados de seus pais até a terceira e quarta geração daqueles que me desprezam, mas trato com bondade até mil gerações aos que me amam e obedecem os meus mandamentos" (Êxodo 20:5 e 6). Uma coisa que merece tanto relevo assim na Palavra de Deus não poderia simplesmente desaparecer da face da Terra no tempo em que vivemos, correto?

Nunca vi ninguém falar ou escrever sobre isso sem tentar traçar um paralelo entre a idolatria do Velho Testamento e a prática moderna de colocar alguma coisa no lugar de Deus. Se você é cristão há algum tempo, certamente tem sido advertido de púlpitos, de revistas e de livros a não "idolatrar" o dinheiro, a TV, o esporte, o sexo, o trabalho, etc e etc. "Tudo o que você coloca no lugar de Deus se torna um ídolo para você". A gente até usa o termo ídolo para falar de astros pop. Eu concordo com essa tentativa de modernização da idolatria, mas temos que admitir que há um problema com ela.

Me parece que em momento algum existe menção na Bíblia a "adoração inconsciente". A adoração é sempre um ato consciente. O sujeito que se prostra perante uma estátua e reza a ela decidiu adora-la como uma divindade. Ele pode não acreditar no seu íntimo que aquilo é uma divindade, como a multidão na planície de Dura, que se prostrou perante a estátua de Nabucodonosor muito provavelmente porque a alternativa a isso era um decreto de morte (Daniel 3), mas o fato é que aquele monte de gente decidiu, conscientemente, tomar parte numa atitude de adoração.

A "idolatria moderna", contudo, segundo a visão geral cristã, é uma adoração inconsciente. Embora alguns de nossos "ídolos" requeiram algum tipo de culto, como acontece com certos torcedores de times de futebol, as outras coisas todas são objetos que amamos muito, mas que não tratamos conscientemente como uma divindade. Nenhuma adolescente reza a Justin Bieber pedindo que ele faça algum milagre, certo?

Não, eu ficaria mais preocupado com a possibilidade de estar adorando um deus falso. O  Novo Testamento adverte para falsos cristos,falsos profetas e uma falsa religião no final dos tempos. Pessoas que adoram o nome de Deus e de Jesus, mas que estão adorando um Deus e um Jesus falsos. "Nunca vos conheci", será a resposta dEle naquele dia.

Ultimamente tenho enxergado a idolatria como a adoração de um deus pela metade. Eu me conformo com o quanto aprendi dEle, com o quanto conheci dEle e então passo a louvar um deus distorcido. Um deus legalista demais ou liberal demais, um deus tipo "teologia da prosperidade" ou um deus distante e indiferente, um deus que não liga para coisas que Ele de fato dá muita importância ou o contrário. 

Quem é o Deus que eu conscientemente adoro? Quem é? Eu me conformei com duas ou três pinceladas de Seu retrato que um dia recebi e parei de procurá-lO? Eu perdi a sede e fome por conhecê-lO, eu liguei o ponto morto e me contentei com o deus que eu construí para minha maior conveniência? 

Isso é idolatria. "Conheçamos o nosso Deus, prossigamos em conhecê-lO" (Oseias 6:3).

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns querido amigo pelo novo viés sobre a idolatria!

Que Deus continue a te usar como instrumento de reflexão e mudanças espirituais!

Abraços,