sexta-feira, 1 de agosto de 2014

O chefe

Existe um clichê cristão repetido ad nauseam: tudo o que você precisa fazer é aceitar Jesus como seu salvador pessoal. Essa coisa de "aceitar Jesus como seu salvador pessoal" não aparece na Bíblia nem uma só vez e confesso que às vezes me causa uma certa irritação.

Porque a repetição à exaustão dessa meia verdade pode ter efeitos colaterais. Vamos dizer que você tenha aceitado Jesus como seu salvador pessoal e agora vai à igreja uma vez por semana. Você consome alguns produtos cristãos e talvez até direcione uma parte de seu dinheiro para a igreja. Mas no fundo você sabe que é o velho cara que costumava ser antes de ter "aceitado Jesus". Seus gostos permaneceram intocados. Sua escala de valores não sofreu qualquer mudança radical. Você engorda aquele pecado escondido porque "ninguém é de ferro" ou porque talvez isso seja uma questão da sua personalidade ou porque você acha que não é pecado, e, neste mundo pós-moderno, qualquer um pode pretender ser um juiz de certo e errado melhor do que o "assim diz o Senhor"... Mas está tudo bem, porque você aceitou Jesus como seu salvador pessoal.

Um amigo, advogado criminalista, tem a forte impressão de que algo na forma como tocamos nossa fé nos faz inconsequentes. Essa percepção vem do fato de ele haver atendido "bons cristãos adventistas" que traficavam drogas, roubavam carros ou passavam cheques sem fundo. Bons mesmo, do tipo que lê Grande Conflito e prega na igreja. São casos extremos, sim, mas estou convencido de que são representativos dessa leniência que advém do fato de que já fizeram o que era exigido: já aceitaram Jesus como salvador pessoal e tomaram aquele banho público, se comportando de forma mimética como o resto do clube. Estão salvos!

Pedro, que teve aquela fantástica história pessoal com Cristo, não enxergava nele seu salvador, só. Isso seria só uma parte do pacote. Por quatro vezes na sua curta segunda epístola ele se refere a Jesus como nosso "Senhor e Salvador". Ah, sim, há uma grande diferença aí. Ele me salvou, e por isso tem autoridade sobre mim. Sobre tudo o que sou e não apenas sobre a casca que me faz ser aceito no clube.

Antes de ascender ao Céu, Jesus ordenou aos discípulos que fossem fazer mais discípulos (Mateus 28:19), mas antes de fazer isso Ele diz: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra (v. 18)Por muito tempo me perguntei: o que essa questão da autoridade tem a ver com o que vem a seguir? Até que um autor me abriu os olhos não faz muito tempo. É como se Ele estivesse dizendo: "Eu tenho toda a autoridade no Céu e na Terra e sabe o que eu faço com ela? Eu venho e ordeno a você que faça discípulos por onde for".

Uau.

Agora pense em como o sujeito que eu descrevi ali acima está distante anos luz do discípulo que tem uma experiência real com Jesus e que tem como missão maior fazer mais discípulos. 

Ele é Salvador - graças a Deus! mas é Senhor também. E tem uma missão para você!

2 comentários:

Gabriel Henríquez disse...

Velhinho, quando ele diz"toda a autoridade", eu tremo... e hoje eu também me irritei, pelo individualista que tem se tranformado nosso cristianismo, nos sermões, nas motivações. Já estou tendo dificuldades de conviver com isso... bem, se o último post do NaContraMão puder expressar isso, eu gostaria de estar errado...

Karini Rocha disse...

Aleluia. Senhor e salvador. O evangelho veio pra confrontar o homem na sua indepedencia, mas hje infelizmente nao é oq tem sido pregado por tantos lugares.