sexta-feira, 8 de agosto de 2014

A sustentada leveza do ser

O protagonista de "A insustentável leveza do ser", de Milan Kundera, é um médico impedido de exercer sua profissão  por razões políticas na repressora Checoslováquia comunista. Ele é obrigado a assumir um emprego de lavador de janelas e a ver seu padrão de vida despencar, mas vive feliz, em contraste com os outros personagens que parecem, com ou sem razão objetiva, atormentados. A vida, para ele, é "leve". 

Esse personagem talvez seja a perfeita antítese de um dos grandes refrões dos últimos 40 ou 50 anos, o estribilho impertinente dos Rolling Stones "I can get no satisfaction". Tenho aqui pra mim que, caso essa música, com seu famoso reef de guitarra e tudo, fosse entoada por qualquer outra banda que levasse um estilo de vida menos "sexo, drogas e rock'n roll", e o sucesso não teria sido o mesmo. Mick Jagger e sua turma personificam à perfeição a busca pela satisfação, pela plenitude através dos sentidos, uma busca que nunca chega ao fim. 

No seu instigante livro sobre sexo ("Sex God"), Rob Bell enxerga no gesto de Eva ao tomar o fruto proibido o primeiro ato de luxúria da história da humanidade: "Ao ceder à tentação, Adão e Eva estão essencialmente clamando que Deus não é bom. Estão cedendo ao engano de que o bom é possível separado de Deus, a fonte de todo bem. As Escrituras chamam isso de estar separado 'da vida em Deus'. Quando essas primeiras pessoas comem o fruto, isso não tem nada a ver com o fruto, isso tem a ver com sua insatisfação com o mundo no qual Deus os colocou. A Criação não é o suficiente para eles(...)  Então eles comem do fruto e tudo ao seu redor rui. A tentação prometeu algo que não consegue entregar. Luxúria nasce de uma profunda falta de satisfação com a vida".

Você anda por aí e pessoas "espertas" estão fazendo piadas do tipo "não fumo, não bebo, não transo... morri". Passar uma vida sem buscar a satisfação onde Deus diz que ela não está "não é viver". Curiosamente, Satanás conseguiu nos convencer de que viver insatisfeitos é que é vida, e que estar satisfeitos com a "paz que excede todo o entendimento", isso não é vida. Não perder o controle sobre sua mente, se embriagando ou drogando? Isso não é vida. Transar apenas com seu cônjuge a vida toda? Isso não é vida. Se contentar com o que o dinheiro que você ganha honestamente pode comprar? Isso não é vida. E por aí afora. 

Ao dar ouvidos a ele, nós endeusamos a falta, a lacuna, a sede, menosprezando a completude, a presença e a água da vida.

É justamente por não se satisfazer com uma vida de insatisfação eterna ("but I try, I try!") que nos satisfazemos com a vida em abundância. 

Porque sem Cristo a vida é sempre insatisfatória, mas com Ele a vida é leve. E satisfaz.

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