sexta-feira, 16 de maio de 2014

A filha que eu queria ter


Havia alguma coisa de surreal no quarto da maternidade de nosso terceiro menino, nascido depois de um ano de desemprego do pai: todo mundo só falava no próximo. Era assim: "que lindo que ele é", seguido por "acho que se parece com x, y ou z", e então, toca a falar do próximo filho. E o problema é: o nome de nossa possível filha estava escolhido desde a primeira semana de namoro. Ela foi citada na música de nosso casamento! É difícil simplesmente fazer de conta que esse "projeto" era do tipo descartável...

E aí Deus abençoou minha iniciativa de abrir um escritório de advocacia, pelo menos pelo tempo exato para decidirmos dar esse passou louco. Muita gente diz que é coragem ter quatro filhos, mas particularmente acho coragem ter três. Quatro está mais para loucura mesmo. Tatiana estudou as técnicas científicas (ou nem tanto) para aumentar as chances de fazer uma menina e eis que ela veio. Nos últimos meses fui apresentado ao amedrontador mundo do cor-de-rosa, essa coisa desconhecida para quem tem dois irmãos homens.

E Tatiana tem a Sâmela, essa melhor amiga (ela tem umas sete melhores amigas) querida que além disso é a enfermeira obstetra da equipe da médica obstetra que faria o parto. Para a chegada da Clara ser tudo conforme o sonho, Sâmela teria necessariamente de estar presente. O problema é que ela estava com viagem marcada para o dia 14 de maio à noite, exatamente no mesmo dia em que atingiríamos 40 semanas de gestação.

Sendo ambas as amigas enfermeiras obstetras e entusiastas do parto normal, uma cesárea agendada nem era algo a ser considerado. Clara precisava nascer até o dia 14. O que nos levou a durante as últimas duas semanas a uma maratona de indução natural do parto: andar, subir escadas, caminhar pelo condomínio. 

Mas Clara parecia determinada a continuar no calorzinho do útero e Tatiana tentava se conformar com a perspectiva de a amiga querida não estar no parto. Tentava sem conseguir. Até que na madrugada do dia 14, alguma coisa aconteceu. Seguiu-se uma corrida algo estressante até a maternidade (de onde escrevo neste momento) e um parto lindo de viver, depois do que fui formalmente apresentado a uma princesa apaixonante chamada Clara.

Hoje não vou fazer nenhuma aplicação espiritual, nem citar algum texto da Bíblia. Às vezes a gente simplesmente não consegue ensinar nada, porque o desejo de gritar sua alegria para que os outros se alegrem junto se impõe. Às vezes a gente sente que Deus, o Criador, Se debruçou sobre nós, nos pegou com as duas mãos e nos tascou um beijo. Pra gente não duvidar que é amado. Pra gente guardar a lembrança desse beijo na carteira e ter bem à mão quando a dúvida resolver se insinuar outra vez sobre nós.

P.S. para ter mais detalhes dessa história, agora pelo olhar da mãe dos quatro filhos, procure-a no Instagram: @dicasdatatioficial

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