sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Em berço esplêndido

Enquanto nós, cristãos professos, estamos absortos em pagar as contas do mês, em trocar de carro, na próxima viagem ou no próximo corte de cabelo (eu poderia dizer, enquanto estamos comendo e bebendo, casando e dando-se em casamento), há diversos sinais de alerta lá fora.
Slavoj Zizek, o pensador comunista esloveno, escreveu o livro "Vivendo no fim dos tempos", onde defende que o mundo como conhecemos está no seus respiros finais. Para ele, os quatro cavaleiros do Apocalipse seriam questões ecológicas, uma revolução biogenética já impossível de evitar, problemas insolúveis do capitalismo como escassez de matérias-primas e questões de propriedade intelectual e, por fim, superpopulação e aumento da desigualdade.
O astrofísico britânico de renome mundial Martin Rees escreveu "Hora Final", no qual afirma que estima que as chances de a raça humana sobreviver a este século são de 50%. Para ele, desastres naturais, bioterrorismo, manipulação genética, ciberterrorismo, erros de cientistas, radicalismo ideológico e muitos outros fatores têm um potencial destrutivo que faz com que a calma com que as pessoas vivem como se tudo fosse continuar sempre igual e o desinteresse por essas ameaças reais e presentes sejam absolutamente inacreditáveis.
Ele cita um manifesto assinado por Einstein e outros brilhantes físicos e cientistas da primeira metade do século XX, criado para tentar alertar as nações dos perigos da recém desenvolvida tecnologia nuclear, no qual se afirma: "descobrimos que os [cientistas] que sabem mais são os mais sombrios".
E nós, que temos nas mãos a revelação, que sabemos o final da História, estamos comendo e bebendo.
(Só não podemos imitar a prática de alguns de nossos irmãozinhos. James G. Watt, por exemplo, secretário do interior no governo Reagan e crente no breve arrebatamento secreto por Jesus Cristo, foi responsável pela postura antiecológica daquela gestão e das que a sucederam. Ele acreditava que Jesus voltaria antes de todo combustível fóssil ser consumido, então - com o perdão da palavra - dane-se o planeta.)
O discurso de Jesus em Sua última semana foi basicamente "vigiai". Mas em lugar de imitar o Mestre e atentar a Sua voz, imitamos os discípulos, incapazes de permanecer acordados no Getsêmani.
Erga a cabeça, irmão.

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