sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Cadê o final da história?

Nos tempos de faculdade fiquei fascinado com um filme franco-polonês chamado "A dupla vida de Verònique", do diretor Krzistoff Kieslowski. Tão fascinado que o assisti quatro vezes em um espaço de um ou dois anos. E a verdade é que assisti quatro vezes na esperança de conseguir entender alguma coisa. Depois da quarta vez tenho aqui a pretensão de haver começado a entender. Mas o fato é que ele termina com Irene Jacob meio que abraçando uma árvore e sorrindo. Fique tranquilo que isso não é nenhum spoiler, a árvore não tinha aparecido antes e salvo ledo engano aquilo não representava efetivamente um desfecho para a trama. Então é isso. Pela janela do carro ela faz um cafuné numa árvore, dá um sorriso, e sobem os créditos e você, acostumado com o cinema tudo-explicadinho-americano, exclama: ei! cadê o fim da história?


A Bíblia muitas vezes está mais para o cinema franco-polonês do que para o americano. O livro de Jonas termina com uma pergunta de Deus para o protagonista. Qual teria sido a resposta do profeta teimoso? Não sabemos. O livro de Jó termina com um bom desfecho para a trama, mas a gente fica sem saber se Jó teve alguma pista da razão de todo seu sofrimento, já que quando Deus lhe aparece, despeja um monte de perguntas sobre ele e vai embora. A parábola do filho pródigo termina sem dizer se o filho mais velho deu razão ao pai e entrou na festa que havia sido preparada para o filho ingrato que havia voltado. Cadê o final da história?

O que importa é que o que poderíamos de chamar de "o último final", o grand finale, o final de todas as histórias, esse a Bíblia não esconde. "Então a morte e o Hades foram lançados no lago de fogo... Então vi novos céus e nova terra... Agora o tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele viverá. Eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará de seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, a antiga ordem já passou" (Apocalipse 20:14, 21:1-4).

Ou, emprestando as palavras de Ellen G. White: "O grande conflito terminou. Pecado e pecadores não mais existem. O Universo inteiro está purificado. Uma única palpitação de harmonioso júbilo vibra por toda a vasta criação. DAquele que tudo criou emanam vida, luz e alegria por todos os domínios do espaço infinito. Desde o minúsculo átomo até o maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e gozo, declaram que Deus é amor." (O Grande Conflito, p. 678)

Portanto, o último final é mais à la cinema americano. Cada i recebe seu pingo, cada dúvida recebe sua resposta, cada dor encontra seu fim e cada injustiça recebe sua paga. E o final é feliz.

E por ser assim, feliz, por hoje aqui serem muitas as injustiças, por multiplicarem-se as dúvidas e incertezas, e porque as dores não dão trégua aos meus queridos, a mesma pergunta me ocorre, mas por razões diversas: cadê o final da história? 

Em meus ossos sinto vibrar a resposta: ele vem logo. Ele vem logo.

Nenhum comentário: