sexta-feira, 17 de junho de 2016

Saia do barco

You call me out upon the waters, é como começa Oceans, canção lançada em 2013 pelos australianos do Hillsong United. Você me chama para sair do barco e andar sobre as águas, sobre o desconhecido, onde os pés podem vacilar.
Porque tudo começa numa crise. Trocar a previsibilidade do barco pela incerteza das águas? As razões para não dar esse passo são ótimas, são razoáveis, são confortáveis. Eu tento sufocar a voz que me chama para andar sobre as águas. Eu tento não ouvir, tento negar. Se eu não ouvi esse convite, então estou no barco ainda. Se eu não ouvi, estou onde Tu não estás e minha vida jamais vai ser diferente do que foi até aqui. Posso, no máximo, almejar repetir a melhor alegria que já tive. Sem nenhuma certeza de conseguir, mas se conseguir, bem, essa terá sido toda minha recompensa.
Crise.
And there I find you in the mystery, in oceans deep my faith will stand. Porque é se permitindo deixar que o Autor do chamado me reinvente, é permitindo que a crise se instale e que meus pés se movam por terreno desconhecido que eu O encontro. E sobre as águas profundas minha fé endireita sua espinha, se põe totalmente de pé e respira fundo. Nas águas profundas ela pode vicejar. Your grace abound in deepest waters. Tua graça, que alguém que já esteve lá chamou de maravilhosa, é mais abundante nas águas mais profundas. Se eu fico no rasinho tenho um pálido vislumbre dela. Se eu fico no raso da zona de conforto, se eu fico no raso das noções enlatadas sobre quem Tu és, se eu fico no raso das opiniões de outros, do contato frio, semanal contigo, se eu não avanço sobre as águas mais profundas... terei me conformado em ver muito de longe a terra prometida.
And I will call upon Your name/and keep my eyes above the waves/when oceans rise/my soul will rest in Your embrace/For I am Yours and You are mine. É que depois da crise não há a menor chance de eu querer retornar. Eu Te encontrei. Senti a doçura incomparável de pertencer a Ti. Mas o barco lá atrás tem seu clamor, eu sei. Eu sinto. Então preciso me lembrar constantemente para manter os olhos sobre as ondas, fixos nAquele que me chamou.
Your sovereign hand will be my guideTua soberana mão me guiará. Por onde? Talvez where feet may fail and fear surrounds me (para fora da zona de conforto, onde os pés vacilam e os medos me cercam), mas You’ve never failed and You won’t start nowAh, não, não será agora que Aquele que jamais falhou falhará!
A entrega é um ato de coragem, não de fraqueza. Permitir que a crise se instale e deixar que ela cresça até assumir a forma inequívoca de um chamado inignorável para sair do barco e andar sobre águas escuras, águas profundas, no meio da noite... meu amigo, isso requer valentia. Que eu não tenho. Que Ele dá.
Spirit lead me where my trust is without borders. Espírito, me guie até o local onde minha confiança não conheça limites. Me leve ao local mais profundo. Sobre a fossa das Marianas, onde minha fé seja obrigada a malhar loucamente para adquirir músculos e se tornar maior bem maior do que eu. Me leve onde Tu estás. Me faça esquecer o conforto estéril daquele barco, não posso, não quero voltar lá nunca mais, não quero tirar os olhos de Ti e afundar, não quero a solução fácil de uma certeza calçada na ilusão.
Que eu veja (que não esqueça) que o barco é ilusão, por mais que meus sentidos o apalpem. Amém.

2 comentários:

Unknown disse...

Pra mim, seu texto mais inspirador dos últimos tempos. Talvez vc desconfie o porquê. Valeu, Marcão

Unknown disse...

Pra mim, seu texto mais inspirador dos últimos tempos. Talvez vc desconfie o porquê. Valeu, Marcão