sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Os heróis envergonhados

Aos doze anos, numa viagem de família de São Paulo ao Nordeste, precisando me entreter naquelas estradas intermináveis, comprei um gibi do Homem Aranha. Foi paixão à primeira lida. Pelos anos seguintes, li tudo o que consegui de gibis de heróis, porque estava apaixonado. Mas era uma paixão clandestina. Eu a confessava a uns poucos amigos, porque histórias em quadrinhos eram coisa de criancinha, e lá estava eu, com 16, 18 anos, lendo Batman e Watchmen. 

Muita coisa mudou desde então. Os heróis hoje são uma quase unanimidade, fazem os melhores filmes, estampam camisetas de marmanjos, levam multidões a eventos como a Comic Con Experience. 

O que me faz lembrar do vestibular da ESPM que prestei no ano em que começaram a se multiplicar as denúncias contra o então presidente Collor. O tema da redação foi "pobre do país que precisa de heróis". Nos sentíamos idiotas por ter acreditado que ele era o salvador da pátria que vinha montado num cavalo branco para combater as mazelas da nação. Não era.

O tempo passou e nós continuamos precisando de heróis, por isso forjamos outros. Fernando Henrique Cardoso, com sua classe e envergadura de intelectual, a capacidade de matar o monstro da inflação. Lula, com sua identificação com o povo sofrido e com o milagre do crescimento, o Brasil disparando como um foguete na capa da The Economist.

FHC agora lida com denúncias sérias. Lula também. Até o papa, herói mundial, perde as estribeiras.

São todos humanos. Todos humanos demais. E talvez exatamente pela falta de ícones de carne e osso os heróis fantasiados tenham alcançado a notoriedade que não tinham há algum tempo, porque nós precisamos da ilusão (?) de que alguns de nós poderiam ser algo mais.

Bem, quando você percebe que nossos grandes líderes têm fraquezas, pode dar de ombros e dizer: isso faz parte da paisagem. As minhas fraquezas e incoerências também são parte da paisagem. 

Ou pode acreditar que há uma oportunidade nesse estado de coisas. Pode confiar no Deus que disse "No dia em que eu agir... então vocês verão novamente a diferença entre o justo e o ímpio, entre os que servem a Deus e os que não o servem" (Malaquias 3:17 e 18). E pode se colocar à disposição.

Não para ser um ícone. Mas por ter escolhido o Ícone certo. Não para alcançar a glória fumacenta dos heróis humanos. Mas para sentir o que Romanos 5:1 chama de "a paz com Deus", a incomparável satisfação de ter permitido que Ele fizesse em você tudo o que Ele pode e quer fazer.

Quando todos estão decepcionados e acreditando que somos todos iguais e que nossas obras ocultas cheiram necessariamente mal, que você perceba a oportunidade. E se lance nas mãos de Quem o pode fazer algo muito diferente.



Um comentário:

Unknown disse...

Ótimo texto, Marcão. Que continue tendo inspirações como estas, presentes nestas linhas.