sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Luz amarela

Este ano completei 42 primaveras e a luz amarela acendeu mais forte. Estou entrando num grupo de risco e um perigo me ronda. E não estou me referindo ao exame de próstata (que a literatura médica bondosamente postergou para os 50 anos recentemente). 

Os livros de Crônicas e Reis narram de forma bem sintética a biografia dos reis de Judá e Israel e a frase que mais se lê ali é "reinou xx anos e fez o que era mau ao olhos do Senhor". Há umas poucas exceções, contudo, reis que não compactuaram com a tendência reinante de sincretismo e de relativismo religioso, reis que se revelaram fieis a Deus e a Sua lei. Entretanto, mesmo entre estes que mandaram bem durante boa parte da vida, existe alguma nota de reprovação geralmente posicionada no fim de sua vida.

Quer ver? Asa foi um ótimo rei até que, sem consultar a Deus, resolveu se aliar à Assíria contra Israel. A estratégia deu certo pelo ponto de vista militar, mas quando um profeta se levantou para censurá-lo por isso, ele colocou o profeta no tronco. "Também nesse tempo Asa oprimiu alguns do povo" (II Crônicas 16:10). Porque afastar-se de Deus costuma descambar para isso: opressão e exercício arbitrário do poder. 

É famosa a história de Ezequias, um rei muito devoto e que ouvia Isaías, mas que resolveu fazer propaganda das riquezas de seu reino a emissários de Babilônia do mesmo jeito que alguns anos depois o rei da mesma Babilônia, agora senhor sobre Judá, se pavoneava de sua glória e de seu poder como se não viesse tudo de Deus. Ezequias escorregou quando se viu confortável.

Jeosafá também foi um bom rei até que, sem consultar a Deus, resolveu se aliar ao ímpio rei israelita Acabe e por isso seu exército foi destruído. 

Mas possivelmente os dois melhores exemplos do que quero dizer sejam Josias e Salomão. Salomão começou muito bem, mas na fase madura só fez bobagens. Josias foi um rei exemplar, do tipo que a gente conta a história para as crianças, mas quando o fazemos a gente omite o fato de que, tão logo morreu o seu mentor, o sacerdote Jeoiada, ele descambou completamente a ponto de mandar apedrejar o filho de Jeoiada quando veio chamar sua atenção.

Não tenho a idade exata em que o caldo entornou para cada um desses, mas parece que a meia idade esconde essa arapuca. Dá pra ver que um bom começo não é garantia de um bom final e que um bom final é mais importante. Alguns desses homens foram vítimas do sucesso e da prosperidade, outros parece que se deixaram levar por influências encantadoras, mas todos perderam o sentido de vigilância, abaixaram a guarda, colocaram o carro em ponto morto, se refestelaram na zona de conforto. E mancharam terrivelmente suas biografias. 

Nossa biografia é tudo que temos, amigos. É nosso único real patrimônio. Nenhuma vitória do passado compensará os escorregões do presente. É preciso se certificar de que nossa árvore continua plantada perto da água, que nossa preocupação continua sendo ouvir a voz de Deus e nos conformar ao que ela diz diuturnamente.

A luz amarela está acesa, especialmente aos de minha geração. Temos o exemplo desses caras todos a piscar na nossa frente. 

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