sexta-feira, 12 de junho de 2015

Em defesa da família

Graças aos acontecimentos do último final de semana em São Paulo, os ânimos gerais se atiçaram às alturas, quase tanto quanto às vésperas das eleições. Começaram a pulular pelas redes sociais posts irados "em defesa da família". É que durante a parada gay, alguns travestis se fantasiaram de Cristo e fizeram manifestações em frente a igrejas.

Com isso, muitas vozes indignadas se levantaram contra a ditadura da minoria, em defesa da família, afirmando que a fé precisa ser respeitada se "eles" querem respeito também, etc. 

Bem, o livro Unchristian, de David Kinnaman, que já citei aqui em outras oportunidades, comenta uma pesquisa realizada pelo Barna Group nos Estados Unidos ao longo de 15 anos entre jovens de 15 a 29 anos. As mesmas perguntas foram repetidas entre meados dos anos 90 e até o final da primeira década dos anos 2000 e o que se concluiu foi que a aversão ao cristianismo crescia vertiginosamente. Curiosamente, ao os entrevistados serem solicitados a apontar uma característica dos cristãos, o primeiro resultado, disparado na frente de características como "maçantes", "hipócritas", "condenadores" e "obtusos", aparecia "anti-homossexuais".

Por outras palavras, a visão que o mundo tem formado do cristianismo é de que ele é, antes de mais nada, um movimento "anti" alguma coisa. Nós somos uma coletividade que existe para, mais que tudo, antagonizar um estilo de vida.

Curiosamente, a Pessoa a quem dizemos seguir, tanto quanto os evangelhos nos permitem inferir, só se posicionava contra a hipocrisia (algo que hoje é justamente associado ao cristianismo) e contra a negligência ou indolência espiritual. Ele comia com prostitutas e cobradores de impostos, não deixando nenhum grupo se sentir marginalizado.

A reflexão que faço é a seguinte: Jesus não estava preocupado em defender a família, mas em quebrar barreiras de separação. Por que, então, sentimos ser nossa missão agir diferentemente? Por que precisamos levantar nossa indignação contra os ataques da propaganda gay? Apenas para reforçar o estereótipo de que lhes somos antagonistas? 

Outras perguntas: esses "ataques" seriam gratuitos? Seriam ataques ou, na verdade, reações, retaliações? Não seriam eles uma reação à forma como lidamos com esse tipo de pecado específico, ao passo que cometemos alegremente todos os outros?

O que o próprio Jesus, emulado provocaticavemente na parada gay, faria?

E, sobretudo: o que Ele espera que você faça?

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