sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A festa está rolando

Enquanto nos indignamos com o juiz que, sem habilitação e sem documentos do carro, que estava sem placa, decidiu prender a policial que ousou dizer que ele não era Deus - e que depois ainda arrancou dela uma indenização por danos morais graças ao julgamento totalmente distorcido de seus coleguinhas de divindade - eu leio Lucas 14.

Jesus está comendo na casa de "um dos principais fariseus". Talvez isso fosse mais comum do que eu até há pouco tempo imaginava. A relação dessa casta ultra religiosa com o estranho Mestre era bastante dúbia. O que queriam ao convidá-lo para comer? Honrá-lO? Vigiá-lO? Se enganavam dizendo a si próprios que queriam aprender com Ele? Pelo contexto - a disputa pelos melhores lugares - minha impressão é de que convidavam a Jesus porque Ele era famoso, daria um certo glamour ter em sua festinha o homem que arrastava multidões... Independente do motivo do convite, Jesus aceitava, o que talvez seja um baita conforto para mim.

Minha colega de escritório que é filha de chineses contou esses dias que em um centro cultural chinês na Liberdade, as famílias da colônia se reúnem regularmente e o local onde se assentam no salão obedece a uma rigorosa hierarquia. Na primeira fila assentam-se as famílias com o maior número de filhos cursando USP (Medicina, Poli e Direito apenas) ou ITA. A lógica oriental dos tempos de Jesus continua a parecer lógica para algumas culturas.

Vendo aquela disputa pelos melhores lugares Jesus dá uma lição de humildade, orientando a todos a escolher os piores lugares para que o dono da casa os honre elevando sua posição e encorajando os convidados a fazerem coisas boas por pessoas que não podem devolver o favor, porque aí a recompensa na ressurreição faria tudo valer a pena.

Alguém resolve pegar esse gancho para desviar completamente o rumo da conversa exclamando: "feliz aquele que comer no banquete no Reino de Deus!" e então Jesus conta a parábola do homem que deu uma festa e cujos convidados preferiram não aparecer, de modo que ele mandou lotar o salão dos desajustados, párias e esquecidos da sociedade. Essa parábola parece ser a versão de Lucas para a parábola do casamento do filho do rei, de Mateus 22. O que pode ser melhor do que comparecer à festa de casamento do filho do Rei? Que desculpa é boa o suficiente para recusar esse convite?

A intenção de Jesus parece, então, ter sido dupla: dar uma advertência dos efeitos da rejeição futura dEle como o Messias, mas também o de dizer sutilmente: vocês já estão participando de uma festa no Reino de Deus neste exato momento e nem percebem! E, por não perceberem, não a aproveitam, por isso outros serão chamados para o seu lugar. Vou chamar quem se regozije por estar na festa agora.

Apocalipse 3:17 afirma que somos cegos. O que estamos deixando passar do Reino de Deus sem fruir agora mesmo? O que estamos desperdiçando em nossa busca desenfreada pelos melhores lugares (como se quiséssemos ser um juiz acometido de "juizite")?

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