sexta-feira, 13 de junho de 2014

Pátria(s) amada(s)

Minha timeline se pinta de amarelo, mesmo fenômeno que toma as ruas. Um fenômeno que só acontece a cada quatro anos. 

Dessa vez, contudo, é uma invasão amarela um tanto envergonhada. Ninguém queria estruturas milionárias em que as luzes não funcionam direito, ou receber os visitantes com assaltos e duas horas de fila para pegar um táxi, entre outras tantas lacunas de nossa pátria. Mas nos pintamos de amarelo assim mesmo porque o futebol é nossa chance de redenção, nossa chance de ver a pátria amada no alto do pódio. O balé de equilíbrio improvável de Neymar agrega camadas de autoestima na gente.

Há quatro anos, quando o tal fenômeno se dava mais uma vez, escrevi aqui que esse tipo de patriotismo conflita com o patriotismo que me inspira minha dupla cidadania, a cidadania daquela outra pátria... Este patriotismo verde-amarelo é daquele gênero exclusivista e excludente: quero ver minha pátria incensada porque as outras todas estarão subjugadas. A minha vitória é também a derrota de todos os outros. Agora, o sentimento daquela outra pátria, a da cidade que tem fundamentos, que Deus é o arquiteto e construtor (Heb 6:11) não é nada excludente. Quando um vence, reparte a vitória com todos (Dan 7:27) e quem quiser pode vir e beber de graça da água dessa vida (Isa 55:1). 

Minha dupla cidadania me dá hoje esses sentimentos divididos. Mergulho na turba amarela e grito o gol com ela. Mas aqui no íntimo intuo que a glória da pátria que está por vir há de ser muito, muito superior. Não por tudo que ela excluirá e subjugará, mas por sua natureza ímpar: amor, e não excelência pura e simples. Assim, o dia em que tudo se pinta de amarelo me dá saudades daquela outra pátria. A pátria sem lacunas.

Ora vem, Senhor Jesus.


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