sexta-feira, 12 de julho de 2013

Normal

Uma nota emitida pela Associação dos Magistrados de São Paulo, incomodada com a cobertura da mídia sobre desvios de verba e superfaturamento no Judiciário, não apenas defendeu as práticas como colocou em xeque um direito constitucional intocável no Brasil, que é o da liberdade de imprensa. Eles, os juízes, defensores da Constituição, a relativizam quando isso é útil como ferramenta de ataque. Nossa reação? Normal. O que se pode esperar de uma entidade cuja função é defender os magistrados? 

Digamos que fique claro que algo que você considera um direito se revele na verdade uma distorção, um privilégio abusivo, uma injustiça. Você abre mão disso ou “luta pelos seus direitos”? Abrir mão disso seria uma exceção à regra. O normal é a luta.

E, por não haver exceções a essa regra, entendemos ser mesmo normal. Entendemos ser normal aferrar-se ao osso e não largar. Entendemos ser normal locupletar-se quando der. Entendemos ser normal recorrer ao traficante, e não à polícia, em busca de proteção na periferia. Entendemos ser normal trair, ter um caso extraconjugal, nem que seja só virtual. Entendemos ser normal encher a mente de pornografia. Entendemos ser normal uma fofoca maldosa de quando em vez. Entendemos ser normal dar aquela raspadinha no carro estacionado ao lado e ir embora assoviando.




Um de nossos mais brilhantes pensadores constatou: "De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto" (Ruy Barbosa). A um tal ponto somos expostos a tudo isso que desanimar da virtude, rir-se da honra e ter vergonha de ser honesto seja... normal.

“E, por multiplicar-se a iniquidade, o amor de muitos esfriará” (Mateus 24:12) e aí a gente entende ser normal ver o amor em nós esfriar também. A gente entende ser normal não mais amar e não mais ter aquele primeiro amor.

Mas há algo que não é normal. A salvação é anormal: “mas quem perseverar até o fim, esse será salvo” (verso 13). Se você deixa de achar tudo isso normal e persevera, se você deixa de seguir com a maré e começa a nadar na contramão, mantendo acesa a chama do seu amor, você será salvo. 


Você será salvo.

Escolha o anormal e viva.

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