sexta-feira, 19 de julho de 2013

A herança que não queríamos

Ainda em meus tempos de adolescência, li uma matéria sobre como somos afetados desde o útero por experiências vividas pela mãe e aquilo me deixou meio deprimido. Eu tinha a ilusão de estar escrevendo a pessoa que eu era sobre uma folha totalmente em branco. Eu tinha a ilusão de ser o resultado de minhas experiências e escolhas, só, no entanto aquilo me dizia que eu carregava uma herança que eu nem sabia qual era. Me pareceu injusto.

Conforme amadureci notei que era assim mesmo. Todo mundo tem um cacoete, um jeito de andar, um traço de personalidade, uma risada ou um hábito nitidamente herdados. Para além disso, apurando o olho dá pra notar que todo mundo carrega bençãos e maldições das escolhas de gente que veio antes de si. O fato é que não construímos o que somos sobre um solo limpo, construímos sobre algo que herdamos e a pergunta passa a ser: esse fundamento define ou não o tipo de prédio que vamos construir?

Na Bíblia, as famílias tipo "família americana feliz", com pai, mãe, filho, filha e um golden retriever, sorrindo todos abraçados para a foto, são exceção à regra. As que chegam mais perto disso são aquelas de que não se fala muito, em geral. A família de Jacó, por exemplo, tem suas disfunções, algumas delas bem sérias. Os pais dele tinham, cada um, um filho predileto. Na geração seguinte o mesmo padrão se repete, Jacó também tem seu predileto, José. Jacó tinha enganado o próprio pai por uma benção e depois foi enganado pelo sogro para casar-se não com uma, mas logo duas de suas filhas. Não contente em ser casado com duas irmãs, ele tomou para si duas concubinas. Mais tarde seu filho mais velho envolveu-se sexualmente com uma dessas concubinas. Outro filho era chegado em prostitutas, o que o levou a deitar-se sem saber com a própria nora. 

Considerada dessa forma, a bagagem que José carregou para o Egito não foi nada promissora. Ele era o filho mimado de um pai permissivo sexualmente, havendo crescido entre irmãos igualmente permissivos e ao chegar ao Egito, agora como escravo, longe dos olhos de todas as pessoas que conhecia e amava, com todas as razões para sentir-se esquecido por Deus, uma de suas primeiras provas foi justamente ser ou não ser puro sexualmente. A mulher de Potifar tentou seduziu-lo. Era fácil deixar a carruagem seguir seu rumo, repetir o padrão de sua família, ainda mais naquelas circunstâncias, mas José era diferente. José resolveu construir um prédio de arquitetura totalmente diferente daquele que seu fundamento recomendava. Ele tenta discutir racionalmente com a ninfomaníaca patroa: "Como posso cometer esse grande mal e pecar contra Deus?" (Gênesis 38:9).

Essas palavras refletem uma opção destacada de José. Ele está dizendo: eu conheço minha herança, eu sei como as coisas são feitas na casa de meu pai, e eu rejeito tudo isso. Eu quero outro tipo de coisas para mim. Não é à toa que, quando lhe nasce seu primeiro filho, ele o chama Manassés, "porque disse: Deus me fez esquecer de todo o meu trabalho, e de toda a casa de meu pai" (Gênesis 41:51).

Minha cisma adolescente acabou de forma feliz. Eu trago coisas comigo que não foram escolha minha, mas não preciso continuar o caminho com elas. A herança é dura? O padrão parece querer se repetir em você? Deus tem o poder de quebrar essa corrente. Deus tem o poder de fazer você se esquecer das coisas que carrega em seu DNA. Você não precisa ficar aprisionado pelos muros de seus traumas, complexos e pelos hábitos herdados. Não importa quantos andares já tenham sido construídos, daqui pra diante sua casa pode ter uma arquitetura totalmente diferente. Aproxime-se de quem pode fazer e não saia da presença dEle até ouvir a resposta a sua oração.

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