Eu era ainda praticamente um
adolescente quando me fizeram a pergunta: o que você gostaria que estivesse no
seu epitáfio? Um tanto mórbida, sim, mas viver ignorando a morte (a única coisa
que atinge 100% dos seres humanos até hoje, com raras exceções nas Escrituras)
é um tipo de cegueira difícil de justificar. Quem fazia a pergunta era uma
psicóloga que comandava uma dinâmica de grupo e o grupo era grande e a sensação
de todos aqueles olhos sobre mim provocava o estranho calor que sobe pelo
pescoço e parece que queima as faces. “Amou e foi amado”, eu disse, por fim. Eu
era ainda praticamente um adolescente, mas agora, vinte anos depois e sem todos
aqueles olhos sobre mim, reafirmo o acerto da resposta.
Sob o ponto de vista humano,
poucos epitáfios seriam tão desejáveis quanto o de Hugo Chavez. Idolatrado por
seu povo, neste momento há ainda filas quilométricas de excitadíssimos
admiradores desejosos de se aproximar do esquife. Menos comoção provocou o
sepultamento do cantor Chorão. Menos mas não pouca. Foi um dos principais
interlocutores de duas ou três gerações de jovens, e isso não é algo que se
ignore.
Não invejo, contudo, Chávez
ou Chorão pelo legado que deixam, o que é curioso, porque o epitáfio deles
poderia ser o mesmo que o que queria para mim. Também amaram e foram amados. No
entanto, quando pensei, vinte anos atrás, nessa frase para estar na minha
lápide, tinha em mente o amor em uma circunscrição mais reservada, mas de
longevidade bem maior. O que eu queria – e quero - era a sensação de descansar
das lutas desta vida deixando no coração de algumas pessoas, possivelmente não
muitas, um desejo incontido de reencontro e, mais que isso, a certeza dele.
É evidente que não se alcança
um tal legado vivendo como se fosse o centro do Universo. É evidente que não se
constrói um legado assim alimentando as mesquinharias do ego e as vaidades da
alma. É evidente que não se alcança nada disso longe dAquele que pode plantar
em nossas obras a semente da eternidade.
Se depois de completada a
carreira deste lado da eternidade eu tivesse uma lápide e sobre ela houvesse um
epitáfio, gostaria que ali estivesse gravado “amou e foi amado”. E que no
coração dos que foram amados e amaram ecoasse o sussurro do Pai: “e continuará
sendo”.
Este é o tipo de legado que
gostaria de deixar.
Sugiro que você acompanhe esta mensagem com este vídeo:
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