sexta-feira, 15 de março de 2013

Safra nova

Alguns amantes de vinho são entusiastas de safras específicas. Gostam de certas marcas engarrafadas no ano tal. Alguns cristãos também são assim e sua religião é da safra do que chamam de “bons e velhos tempos”, sejam eles quais forem. Mas é curioso notar que Deus não parece ser assim tão apegado às formas do passado. 

Quando o povo de Israel deixou o Egito, Deus lhes deu orientações bem específicas quanto à forma como deveriam se relacionar com outros povos. Embora eles estivessem comissionados a ser "uma benção para todas as nações", deveriam exterminar as nações que então ocupavam Canaã e evitar qualquer influência deles. A religião do começo do Velho Testamento era uma religião de se enclausurar, porque de alguma forma "ser uma benção para todas as nações" envolvia passar algum tempo fincando raízes e se tornando uma nação com personalidade própria. 

Aí vem o Novo Testamento e faz com que os cristãos sejam testemunhas em Jerusalém, na Judeia, na Galileia, em Samaria e até os confins do mundo. Por outras palavras, a ordem no Novo Testamento não era "isolem-se", mas "espalhem-se". Se a ordem do velho testamento era "sejam diferentes para que as pessoas quem passarem por vocês (era obrigatório passar por ali, Canaã estava no centro das principais rotas comerciais da antiguidade) queiram saber de onde vem essa diferença", a ordem do novo testamento foi "saiam por aí fazendo discípulos e pregando o evangelho por onde vocês andarem". Por outras palavras, a religião recomendada por Deus mudou!

James Emery White faz a seguinte provocação em "Rethinking the church": se você pegar uma escala de 1 a 10 em que 10 é uma pessoa totalmente familiarizada com Deus e a fé e 1 uma pessoa totalmente secularizada e aplicar essa escala nas pessoas que não frequentavam igrejas há 40 anos, vai encontrar pessoas que atingiriam ali um número 8, já que a maioria delas conhecia os rudimentos do cristianismo, sabia quem era Jesus, tinha uma visão positiva dos líderes religiosos e da igreja. Assim, pregar o evangelho para elas com duplas batendo de porta em porta e séries evangelísticas em que uma fria exposição do evangelho acompanhada de um apelo e sem maior envolvimento do pregador com essas pessoas costumava funcionar. As pessoas já conheciam Jesus, só precisavam de um empurrãozinho. Hoje essa estratégia redunda em sonoro fracasso, porque as pessoas não estão mais no 8, mas no 3 da escala.

A igreja não atinge seus propósitos aferrando-se às técnicas que costumavam funcionar nos "bons e velhos tempos".

De que safra é a sua religião? Quais coisas você entende serem inegociáveis nela e estão na verdade impedindo você de cumprir sua missão?

 

Um comentário:

Anônimo disse...

Sempre inspirado
Abs
Alvinho