sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

No deserto da tentação


No último sábado, na igreja, ouvi um amigo traçar um interessante paralelo entre a tentação de Eva e a de Jesus, que nunca havia me ocorrido e que me apresenta a lições fantásticas para a luta que eu tenho pela frente hoje.

Em ambos os casos, a estratégia de Satanás começou apelando para o apetite, esse fator que muitos ainda tratam como uma questão secundária e inofensiva. As duas tentações mostram que aquilo que comemos e o quanto comemos tem impacto na eternidade. Eva achou o fruto “desejoso para se comer”, enquanto Jesus disse, citando a Bíblia, que “nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”, mostrando que quando o apetite manda numa direção e as Escrituras apontam outra, devemos tomar o outro caminho. Afinal, Ele venceu e nossos primeiros pais não.

Na sequência Satanás pergunta a Eva se era verdade que ela não podia comer de árvore nenhuma do jardim, uma sutil distorção das palavras de Deus. Quando Eva tenta defender a Deus corrigindo a serpente, Satanás mais que depressa lança a mesma mentira atraente que repete à exaustão ao longo dos séculos: certamente você não vai morrer. Para Jesus ele faz o mesmo; também citando a Bíblia (sim, a Bíblia pode ser uma ferramenta de tentação para quem está com ela, mas longe do Autor dela), quando sugere-lhe que se atire do alto do templo. Você não vai morrer, nem se machucar, o tentador está dizendo nas entrelinhas, Deus não vai permitir que isso aconteça. Você é eterno! Eternidade sem atender ao “assim diz o Senhor” foi a promessa que quebrou a fidelidade de Eva. Jesus, ao contrário, ao responder “não tentarás ao Senhor teu Deus”, não apenas venceu a tentação como também me ensinou o valor de uma vida humana. Ele me ensinou que com a vida que ganhei de meu Deus não sou autorizado a brincar. Não devo arriscá-la, não devo andar no limite, não devo tratá-la como se ela fosse um desses produtos com refil que pode ser reposto a qualquer momento. A vida é sagrada e eu não posso colocá-la em risco para provar que Deus me ama.

Na terceira tentação Satanás apela para nossa ambição de sermos mais do que somos. Ele diz a Eva que ela será igual a Deus e diz a Jesus que Ele será o dono do mundo com todas as suas maravilhas. Sutilmente, contudo, ele está falando que só seremos deuses se, antes de mais nada, o fizermos deus. Precisamos atender à sua voz e comer, e não à divina, que manda não comer; precisamos adorá-lo antes de poder ser adorados. Foi esta ambição que o fez derrapar lá no começo. Ele quis ser igual a Deus (Isaías 14:14), ele quis ser adorado também. Mais uma vez, Eva se convence dos argumentos dele e cai, novamente Jesus vence. Isso me faz pensar na forma como lido com as pessoas sobre quem tenho influência, especialmente minha esposa e filhos. Meus atos revelam um desejo legítimo e santificado de ser amado, ou a forma como tento manipular sua vida revela que eu quero no fundo é ser adorado e tratado como um deus?

Satanás não mudou sua estratégia desde que ela deu certo na primeira vez. Não tem porque adotar outra estratégia comigo e com você hoje. O que muda é a embalagem, o produto é o mesmo: apetite (condescendência com os sentidos), eternidade, endeusamento. Você também está no deserto para ser tentado e só vai triunfar onde nossos pais fracassaram se estiver segurando a mão de quem a venceu. “Em Deus faremos proezas” (Salmo 108:13). Inclusive ser vitoriosos na tentação, como Ele foi.

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