sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A burka e o estupro


Há diferenças enormes entre a forma como a cultura ocidental, judaico-cristã encara os crimes sexuais e a forma como eles são vistos no mundo islâmico. Se aqui o estupro é o pior de todos os crimes, lá é a sedução que é vista como a maior das atrocidades. Por trás dessa disparidade está o entendimento dos muçulmanos de que o estupro, a rigor, não passa pela tomada de uma decisão pela vítima, ao passo que a sedução sim. A sedução seria uma forma de levar o outro a tomar uma decisão pecaminosa, uma forma de quebrar a virtude alheia.

É claro que isso acaba gerando distorções estranhas. Por exemplo, não faz muito tempo que o Irã condenou à forca uma moça de 19 anos que admitiu haver esfaqueado e matado um dos três homens que tentaram estuprá-la. O pensador esloveno Slavoj Zizek comentou assim o caso: “Eis o impasse: qual seria o resultado se ela decidisse não se defender? Se tivesse permitido que os homens a estuprassem, seria submetida a cem chicotadas pela lei de castidade; se fosse casada na época do estupro, provavelmente seria considerada culpada de adultério e condenada à morte por apedrejamento”.

E como atingiram esse nível absurdo de distorção da realidade que faz com que a mulher seja sempre culpada? Zizek lembra outros dois fatos que talvez ajudem a explicar. Em um deles, uma mulher muçulmana matou-se após haver ficado por algumas horas presa em um teleférico quebrado com um homem que não era seu marido, isso porque ninguém acreditaria ser possível um homem e uma mulher terem ficado em circunstâncias assim e “nada ter acontecido”. O outro fato foi a declaração de um líder religioso muçulmano da Austrália, em 2006, a respeito de um grupo de muçulmanos presos por estupro coletivo: “Quando se leva carne descoberta para a rua e a deixa lá... os gatos vêm e a comem... de quem é a culpa, dos gatos ou da carne descoberta?” 

Ou seja:  ao demonizar a sedução, a cultura machista islâmica encontrou uma fácil válvula de escape moral: eu só estuprei porque fui seduzido. Aí está a razão de, nos círculos mais radicais, obrigarem as mulheres a estar cobertas da cabeça aos pés, sempre, porque qualquer parte do corpo à mostra pode levar um homem a não responder por seus atos...

Ao invés de simplesmente balançar a cabeça e dizer tsc, tsc pela forma como esses “bárbaros” tratam a mulher, deveríamos tentar aprender alguma coisa sobre as desculpas que nós mesmos costumamos dar para o nosso pecado. Se você ligar a TV em qualquer capítulo de qualquer novela vai provavelmente se deparar com situações em que algum personagem é levado a fazer alguma loucura pela paixão, como se houvesse tentações irresistíveis. Essa mentalidade tem dado cara, cor e cheiro à sociedade em que vivemos e a assim chamada ciência tem tentado dar um verniz de verdade suprema a ela dizendo que não podemos reprimir nossos instintos, que devemos fazer o que o nosso coração manda sempre e que se agirmos de outra forma não atingiremos o objetivo máximo desta vida, que é sermos felizes. É como se fôssemos estupradores muçulmanos apontando para o nosso pecado e dizendo: a culpa é só dele, que atravessou o meu caminho.

É verdade que a tentação é irresistível, mas só para quem está distante de Deus. “Quem está em Cristo, nova criatura é”, e “tudo posso nAquele que me fortalece” (II Coríntios 5:18 e Filipenses 4:13). A tentação, qualquer uma, é resistível, porque “não vos sobreveio tentação senão humana” (I Coríntios 10:13).

Mais do que a certeza da vitória, estes textos nos relembram de nossa responsabilidade pessoal pelos nossos atos. Não adianta querer encontrar desculpas que justifiquem agir de forma contrária ao “Assim diz o Senhor”. Se isso acontecer, a única alternativa é pedir perdão, porque o pedido de perdão não traz atrelado a si nenhuma dessas desculpas esfarrapadas, mas reside unicamente na confiança na misericórdia do Pai. Se você o fizer, Ele vai dizer: vá, e não peques mais. Eu vou dar o poder para que você consiga!

Um comentário:

Anônimo disse...
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