sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A diferença


Talvez a diferença entre o cristão e o mundo resida menos em ele fazer ou não fazer certas coisas que o mundo faz, usar ou não usar certas coisas que o mundo usa, e mais na relação que o cristão tem com essas coisas. É claro, há coisas que o mundo faz e usa de que o cristão se abstém em absoluto, mas há uma distinção radical, inda que sutil, entre o cristão e o mundo, uma distinção que é de outra natureza.
 Veja este intrigante texto de Paulo, achado no meio do ainda mais intrigante capítulo 7 de I Coríntios: “Irmãos, a coisa importante é lembrar que o tempo que ainda nos resta é muito curto. Por esta razão, aqueles que têm esposa devem viver como se não tivessem. Os que choram, como se não estivessem chorando; os que estão felizes, como se não estivessem; os que compram, como se não fosse deles o que compraram; os que tratam de coisas deste mundo, como se não estivessem ocupados com elas. Porque o mundo, em sua forma atual, bem depressa se acabará” (Bíblia Viva).
 Comentando este texto, o alemão Dietrich Bonhoeffer diz: “Tal é a vida da igreja no mundo. Cristãos vivem como outros homens: eles se casam, choram e se alegram, eles compram coisas e usam o mundo em sua existência cotidiana. Mas eles têm tudo através de Cristo apenas, nele e por causa dele. Assim, eles não estão ligados a isso. Eles possuem tudo como se não possuíssem. Eles não enterram seu coração em suas posses, mas são intimamente livres. É por isso que são capazes de usar o mundo sem ser retirados dele (I Coríntios 5:13). E é por isso também que eles podem deixar o mundo quando ele se torna um impeditivo ao discipulado... Eles vendem e se lançam no comércio, mas apenas tanto quanto suas necessidades cotidianas o exigem. Eles não acumulam tesouros e põem neles seu coração. Eles trabalham, porque não lhes é permitido permanecer ociosos. Mas seu trabalho não é, decerto, um fim em si mesmo. O trabalho pelo trabalho é uma noção alheia ao Novo Testamento”.
 Talvez mesmo a diferença fulcral entre o cristão e o mundo resida na forma como ele lida com o casamento, o trabalho, o comércio, as alegrias e tristezas da vida. Para ele, nenhuma dessas coisas é um fim. O casamento não é o que determina o “e foram felizes para sempre”, embora seja uma parte importante do cenário geral da vida; o sucesso no trabalho ou o dinheiro que dele advém não são o que determina o valor do cristão como pessoa – seu valor é encontrado na cruz de Cristo. Assim, o cristão não trabalha e não negocia para vencer o outro ou para se impor, o que determina em que ele utilizará um ferramentário e uma ética completamente diferentes dos que o mundo utiliza. E a alegria e a tristeza que aparecem no caminho do cristão, ele sabe, não são o fim e vão se alternar nesta vida enquanto estivermos no mundo. O cristão não se apega a um ou outro para encontrar o sentido da vida, porque sua vida já tem um sentido muito mais elevado, calcado na certeza do livramento alcançado na cruz e na esperança da vitória definitiva que é de Cristo e que está à frente, por mais um pouco de tempo (“o tempo que ainda nos resta é muito curto”!). Por isso o cristão não se desespera quando aquela alegria passa e não se ilude com a tristeza passa.
 A que você se apega de fato, @migo? À cruz de Cristo ou a algo transitório que o mundo sobrevaloriza? Apegue-se à cruz e tudo o mais vai encontrar seu devido lugar dentro de seu coração.

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