sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Impossível


I.
Se pensarmos na palavra “impossível” na Bíblia lembraremos provavelmente da assertiva de Jesus de que para Deus nada é impossível. Mas essa palavra aparece em um outro texto que por anos tem colocado uma pulga atrás de minha orelha: “É impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus, e os poderes do mundo vindouro, e depois caíram, sejam outra vez renovados para arrependimento, porque de novo estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus, e expondo-o ao vitupério” (Hebreus 6:4-6).

Estamos afeitos ao “Deus da segunda chance”, mas este trecho – um texto tão obscuro que sequer aparece na minha concordância bíblica ao lado do verbete “impossível” - diz que há um perigo no horizonte para os que estão perto dEle. Ele diz que, para uma classe de pessoas, cair agora é selar seu destino.

Eu procurei não alimentar minha pulga para que ela não ficasse tão gorda, até que, esses dias, tropecei neste parágrafo de Dietrich Bonhoefer, a respeito do trecho do Sermão do Monte em que Jesus diz que somos o sal da terra: “... O sal pode perder seu sabor e deixar de ser sal. Ele simplesmente para de funcionar. Então ele é realmente inútil, só serve para ser jogado fora. Essa é uma peculiaridade do sal. Tudo o mais precisa ser temperado com sal, mas uma vez que o próprio sal perde seu sabor, ele não pode nunca ser salgado de novo. Tudo o mais pode ser salvo pelo sal, não importa quão mau seja – apenas o sal que perde seu sabor não tem esperança de recuperação. Esse é outro lado da figura. É o julgamento que impende sobre a comunidade de discípulos, cuja missão é salvar o mundo mas que, se cessar de viver para essa missão, estará irremediavelmente perdido. O chamado de Jesus Cristo significa que ou somos o sal da terra ou estamos aniquilados; ou atendemos ao chamado, ou somos jogados na rua e pisados. Não há segunda chance aqui.”

II.
Tatiana e eu nos participamos e lideramos grupos de estudo da Bíblia para casais. É curioso ver a reação de quase todos que participam desses grupos ou de retiros para casais. Geralmente os homens vão para coisas assim meio arrastados, mas depois de algum tempo revelam com surpresa que foi uma das melhores coisas que lhes aconteceu. Iniciativas como essa lhes dão a oportunidade de desligar o resto do mundo e focar em dos relacionamentos mais importantes da vida, seguramente o mais importante entre humanos. Quando os casais param tudo para focarem sua atenção um no outro é como se a chuva caísse sobre a terra depois de uma estiagem enorme. A vida brota. As velhas promessas e intenções são reavivadas.

Ellen White, que gostava muito de jardinagem, emprega essa imagem frequentemente: relacionamentos são como plantas. Precisam ser regados. Os mais importantes com maior profusão, ainda que à custa de muita coisa importante. O que é essencial é maior do que o que é apenas importante.

III.
Impossível é uma palavra muito, muito forte. Ela não tem apelação, não tem jeitinho que abra uma brecha.

Talvez a pulga atrás de minha orelha por causa do texto de Hebreus continue ali. Reluto em tirar uma conclusão definitiva sobre o que exatamente esse texto quer dizer, mas sei bem qual é o efeito que ele tem sobre mim: o de me exortar a vigiar. O de me exortar a regar o relacionamento mais essencial de todos, aquele que eu tenho com Deus. Se eu um dia deixá-lo em ponto morto, deixar que ele caia na vala da mesmice e da rotina automática, se eu não dialogar com o Espírito Santo respondendo aos seus apelos, estarei na rota da destruição. Um dia eu vou acordar e nada mais disso tudo vai fazer sentido. Se isso acontecer comigo, minha salvação terá sido jogada no vaso sanitário.

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