sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Seja feliz

O jornalista Salomão Schvartzman apresenta todas as manhãs uma coluna recheada de referências culturais na rádio BandNews, e termina invariavelmente com a frase “seja feliz”. Na coluna de ontem ele lançava mão de versos de Carlos Drummond de Andrade para incentivar seus ouvintes a entregarem-se ao amor.

Disse coisas como “para mim a felicidade só existe quando você acredita nela e reconhecer o amor no primeiro instante” ou “fácil é beijar de olhos fechados, difícil é sentir aquela corrente elétrica que atravessa o corpo todo quando beijamos aquela pessoa”. Terminou assim: “se você encontrar alguém hoje ou amanhã e esse alguém fizer seu coração parar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante de sua vida. Se seus olhares se cruzarem e nesse momento houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa por quem você esteja esperando desde o dia em que nasceu... fique certo que Deus lhe mandou um presente: o amor... ame e seja feliz”.

No afã de incentivar seus ouvintes a buscar a felicidade, contudo, Schvartzman pode estar apenas aprofundando o abismo de infelicidade. Ele parte da premissa de que a felicidade depende do amor físico e de que o amor físico é uma questão de química. Ele também reforça o mito popular da alma gêmea, pelo qual existe alguém lá fora com quem você se encaixaria tão perfeitamente que daí brotariam fontes e mais fontes de felicidade genuína.

Não admira que o mito da alma gêmea seja tão popular. Ele é muito conveniente. Pensar que todos os meus problemas vão desaparecer se eu tão somente estiver com a pessoa certa, que vai se encaixar à perfeição na minha imperfeição e que eu não vou precisar fazer nada a não ser relaxar e ser amado é muito sedutor.

Essa felicidade química, tão harmônica com os postulados evolucionistas, é na verdade uma felicidade muito, muito triste, porque transitória. A química desaparece e força você, para “ser feliz”, procurar outra em outro lugar. Ela também é triste porque nos convence de que amor é uma questão de receber, do que outro pode me dar, e não do contrário, e, como Jesus Cristo exemplificou perfeitamente, o amor duradouro é quando você se preocupa satisfazer o outro. E, por fim, ela é triste porque nos convence de que nossa felicidade está lá fora, nas mãos de alguém.

Como dar durabilidade, perenidade, como fazer definitivos e plenamente satisfatórios os meus sentimentos? Há um jeito, e não é como o colunista e o poeta defendem: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus.” (Filipenses 4:7).

Quando você percebe que sua felicidade está garantida por Jesus e que independe de qualquer outro fator externo, você sente algo muito melhor do que a química da paixão, você sente uma paz que excede todo entendimento e que o puxa pra cima, o faz querer e poder ser melhor. Aí você atrai o que é eterno para os seus sentimentos e até o amor físico passa a ser muito mais do que paixão. Passa a ser cumplicidade, diálogo profundamente íntimo, confiança.

Desconfie das receitas de felicidade que não foram endossadas por Aquele que o criou e seja (genuinamente) feliz.

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