sexta-feira, 24 de junho de 2011

A nona disciplina: confissão

Um vento frio soprou no Eden. Ele era frio pela primeira vez e Adão e Eva sentiram-se arrepiados. Aquilo incrementou a estranha sensação que lhes estava devorando por dentro e que eles interpretaram como vindo do fato de estarem nus. Naquele momento, logo após pecarem, inaugurou-se um dos sentimentos mais universais da raça humana: o buraco no peito cavado pela culpa.

A culpa pode ser muito eficiente para manter pessoas na linha, mas tem desgraçado a vida de milhões e milhões de pessoas ao longo dos séculos. Eu não me admiraria se no Céu ficássemos sabendo que a culpa está na gênese das doenças que mais mataram pessoas ao longo da História. A culpa inviabiliza a felicidade e só por isso não pode ser um sentimento de que Deus gosta. Não o Deus que ama perdidamente e que salta das páginas de minha Bíblia. Deus odeia a culpa.

Para erradicá-la, haveria duas formas básicas de lidar com ela. A primeira seria diminuir o tamanho do erro. Dizer que ninguém é perfeito mesmo, que ninguém é de ferro, que o pecado não é tão terrível. Essa é a forma como a maioria das pessoas lida com a culpa, mas definitivamente não foi esse o caminho escolhido por Deus. Ele escolheu o perdão. Ele assegurou o perdão. Ele encarnou e Se deixou matar para garantir que a sua e a minha culpas sejam anuladas pelo sofrimento que Ele próprio sofreu.

Mas Ele também sabe que temos dificuldades sérias para aceitar isso. Por isso Ele inventou a confissão dos pecados.

A confissão é uma atitude de nominar nossos atos ou pensamentos pecaminosos. Obviamente, para ser eficaz ela não pode ser um ritual oco, uma coisa que você faz e pronto. Tem que haver sinceridade nisso. Tem que ver autoanálise, tristeza profunda por haver errado e determinação para não tornar a fazer.

A primeira pessoa a quem devemos confessar os pecados é Deus, claro. “Porque há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (I Timóteo 2:5). Nosso perdão não depende de uma outra pessoa qualquer além de Jesus Cristo conhecer o pecado e ouvir nossa confissão. Mas Deus sabe que temos dificuldades em crer nisso, por isso também nos orientou: “Confessai... os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros para serdes curados” (Tiago 5:16).

Quem não é católico tem dificuldades com essa ideia de confessar os pecados a outras pessoas, mas está lá na Bíblia. A ideia de que nosso único mediador e sacerdote é Jesus não exclui a dica para termos momentos de confissão com outras pessoas. A intenção é tornar o perdão palpável, visível.

A rigor, qualquer membro do corpo de Cristo estaria apto a ouvir uma confissão, mas a verdade é que devemos escolher bem nosso confessor. Como diz Foster, é um fato da vida que nem todos teriam o grau de empatia para ouvir, nem todos saberiam guardar o que ouviram como confidência, nem todos teriam maturidade para ouvir o que temos a dizer. Devemos orar pedindo que Deus nos indique a pessoa certa. Pode ser um pastor ou uma outra pessoa que dê mostras de levar uma vida fervorosa, com maturidade espiritual e sabedoria.

Foster diz que, impressionado por essa mensagem, resolveu, em oração, fazer uma lista de pecados que demandam confissão, desde sua infância, passando pela adolescência, juventude e fase adulta. Foi difícil ler aquela lista para o amigo que ele escolheu como confessor, mas ao final, engolindo seco, estava para devolver a lista para sua pasta quando o amigo o interrompeu, tomou o papel e o partiu em pedacinhos minúsculos jogando tudo na lixeira em seguida. Ele diz que não houve nenhum sentimento arrebatador, mas aquele gesto tornou o perdão uma certeza para ele.

Deus quer Seus filhos curados. Não deveríamos rejeitar nenhum dos remédios que Ele nos disponibilizou para isso.

Feliz sábado, @migos!
Marco Aurelio Brasil, 24/06/11

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