sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O barato que sai caro

Arnaldo Baptista era um pequeno gênio musical. Excelente pianista, compunha e arranjava músicas com uma sofisticação que os entendidos até hoje comparam às de gênios bem mais renomados. Sua criatividade era tanta que grande parte dos brasileiros não a compreendia. Mesmo assim, sua banda, Os Mutantes, gozava de uma grande popularidade na virada dos anos 60 para os 70; era casado com Rita Lee e em plena ditadura militar tinha uma liberdade criativa e uma produção espetaculares. Até que o LSD entrou na parada.

Nisso, a história de Arnaldo Baptista não difere muito de outras tantas. O clima de revolução cultural vivido por sua geração era ditado e colorido pelas drogas, em especial o LSD. A impressão geral era de que o ácido abria as portas para um novo nível de compreensão, o despertar de uma nova consciência. Para Arnaldo muito nitidamente essa nova consciência foi o princípio de um longo e tenebroso declive. Rita Lee o deixou, sua musicalidade se tornou mais esquisita, sua alegria - grande marca de sua personalidade - desapareceu. Na sequência foi internado algumas vezes em hospitais psiquiátricos até que tentou suicídio atirando-se do 4º andar de um deles. Passou dois meses em coma, mas nunca se recuperou completamente. Passou quase duas décadas em um relativo ostracismo, embora tenha entrado em sua vida uma mulher devotada que praticamente salvou-lhe a vida.

Assistindo a um documentário sobre essa história toda, a questão que me ocorria sempre era: alguns instantes de uma sensação de liberdade intensa e de êxtase dos sentidos valem o preço que eles cobram? Para muita gente a resposta é sim. Evitar a experiência para ter os neurônios intactos seria o equivalente a deixar de viver. Viver, dizem eles, é isso. Andar no limite. Correr perigo.

Para os ex-companheiros de Mutantes ouvidos no documentário, contudo, o saldo é francamente negativo. Nota-se um certo receio de parecerem caretas ao falar do assunto, mas eles são praticamente unânimes em afirmar que eles eram melhores antes da droga do que durante; depois dela, então, nem se fale. O êxtase não valeu a pena. Viver, segundo o conceito que tinham então, não valeu a pena.

Bem, mas o que significa “viver” é uma das grandes questões da humanidade. Há dúzias, talvez centenas de ideias díspares sobre o que é isso. Eu, particularmente, gosto da ideia que meu Criador faz de vida. “Eu vim para que tenham vida, e vida em abundância”, disse Ele (João 10:10). E, na vida que Ele recomenda, não há muito lugar para êxtases e arrebatamentos dos sentidos. As pequenas alegrias (pequenas ao menos na comparação com alegria bombástica do barato da droga), entremeadas com as tristezas e preocupações do cotidiano, tudo isso emoldurado pela confiança em Deus e pela esperança que daí provém, essa é a ideia de vida que Ele recomenda. Vida abundante.

Você e eu não precisamos do despertar de uma nova consciência. Precisamos simplesmente aplicar essa que temos à realidade de Deus à nossa volta. Ou, como diz Paulo: Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional (Romanos 12:1).

Um comentário:

André R. S. Gonçalves disse...

belo texto...
amei o texto principal do blog... muito bacana e vai render sermão...
forte abraço
André