sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A mulher virtuosa

O filósofo André Comte-Sponville escreveu um interessante “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes” defendendo que, mesmo neste mundo pós-moderno, ainda há espaço para a virtude. Mais que isso, é urgente enaltecê-la, porque ela tem um papel fundamental em nossa realização como seres humanos.

Seu primeiro capítulo enfoca a polidez - que é uma quase-virtude; ainda não é uma virtude, porque ela pode existir sem qualquer lastro no caráter da pessoa – e termina com o amor, que já não é mais uma simples virtude, é algo bem maior que isso. Entre uma e outro, ele discorre sobre virtudes como a justiça, a fidelidade, a prudência, a temperança e a coragem, entre outras.

Salomão, que teve cerca de mil mulheres, perguntou: “Mulher virtuosa, quem a achará? O seu valor muito excede o de finas jóias” (Provérbios 31:10). O velho e sábio rei tinha entendido que a qualidade é muito superior à quantidade. Também havia entendido que a qualidade é coisa rara, raríssima.

Não acredito que esteja distorcendo a ideia de Paulo ao afirmar que aquilo que ele diz sobre “procurar os melhores dons” (I Coríntios 12:31) vale também para virtudes, mesmo porque, logo após dizer isso ele introduz o belíssimo elogio do amor que está no capítulo 13.

Conhecer as virtudes deveria nos incitar o desejo de persegui-las até incorporá-las. E, como diz Comte-Sponville, “se a virtude pode ser ensinada, como creio, é mais pelo exemplo do que pelos livros”. A melhor forma de “perseguir as melhores virtudes” é vivendo perto de pessoas virtuosas e perto dAquele que é a origem e o fim de toda virtude, Aquele que enfeixa em Si a realização absoluta de todas elas, Deus.

Nesse sentido, sou realmente um felizardo. Conheço a Deus e, quando a coisa se torna muito teórica demais (como eu às vezes gosto, lamentavelmente), conheço também a minha esposa. Acho que uma resposta válida para a pergunta de Salomão (“...quem a achará?”) seja eu – meu nome.

Há mil razões para isso. É porque ela tem o dom de pacificar as relações das pessoas ao seu redor; é porque ela é rápida em perdoar – embora às vezes diga que não; é porque ela tem uma preocupação genuína pelas pessoas que cruzam seu caminho, tem uma empatia que eu invejo muito; é porque ela tem uma meia dúzia de “melhores amigas” sem hierarquia alguma entre elas e é capaz de ter dezenas de outros
amigos; é porque ela tem uma inteligência rara para relacionamentos, capaz de fazer com que perfeitos estranhos sintam-se como amigos de infância com ela em pouquíssimos instantes e que muita gente queira estar perto; é porque tudo em que ela se envolve se faz bem sucedido: ela tem uma competência que só demonstra quem é imbuído da mais cristalina boa fé, aquela que faz com que alguém realmente queira, com todas as forças, fazer o melhor. Não, não é só isso. Ela tem a competência ditada pela boa fé de alguém que percebe a importância do que faz e que entende o quadro todo, entende a repercussão de seus mínimos atos no resultado final e que sabe que esse resultado final é o bem estar de outros; é porque ela mostra por atos e palavras que suas prioridades são adequadas, sendo que a família está no topo da
lista e, assim, ela está constantemente disposta a sacrificar seu bem estar, seus interesses mais egoístas; é porque nisso tudo, e no resto, está a justiça, está a fidelidade, está a coragem, estão a prudência, a generosidade e, sobretudo, o amor; é porque, enfim, sei - aquele tipo de conhecimento que resiste a qualquer protesto contrário, que está enraizado no âmago do ser e de lá não sai por nada – sei que o
mundo precisa muito mais de pessoas como ela do que de pessoas como eu.

Na verdade, mostrei esse texto para ela e ela pediu para fazer uma retificação aqui. Ela disse que são pessoas como ela e como eu juntas que fazem a diferença. Gentileza também é uma virtude.

Às vezes, pensando nisso tudo, eu só pergunto a Deus por que esse negócio de aprender virtudes não podia ser mais rápido...

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