sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Uma lei universal

Você chegou da rua com muita fome e correu para a cozinha. A fome é tanta que você opta por fazer um sanduíche, mas não tanta que você não se decida a fazer “o sanduíche perfeito”. Você desce da despensa o que há de melhor e monta sua refeição com requintes de plasticidade. Depois de pronto, olhando para sua criação com orgulho e impelido por um desejo irrefreável de destruí-la imediatamente, você se senta, o pega nas mãos e abre a boca. Mas antes de morder, eis que o seu cachorro chega e senta à sua frente. Talvez até ponha uma pata sobre o seu joelho. Pode ser que você não dê uma única lasquinha do pão do seu sanduíche, mas eu duvido que você possa comer simplesmente ignorando que ele está ali, olhando pra você com olhos suplicantes. Por mais que ele faça isso toda refeição e que você tenha dito “não” milhões de vezes, o pedido sempre mexe com a gente e se não o atendemos, ele nos põe desconfortáveis.


Essa imagem foi sugerida por Dallas Willard no livro The divine conspiracy como forma de demonstrar o que ele chamou “uma lei universal”: a lei do pedido. Viver com outras criaturas é pedir e ser pedido o tempo todo. Os especialistas dizem que crianças com problemas de comportamento estão geralmente pedindo, seja atenção – por terem carência disso junto a seus pais – seja um gesto qualquer de afirmação, algo que lhes faça saber que são amadas incondicionalmente. Willard chega a sugerir que ensinamos nossos filhos a dizer “muito obrigado” e “por favor” como forma de torná-los civilizados e educados, mas, no fundo, também como uma forma de tornar mais eficazes seus pedidos, de ajudá-los a conseguir o que precisam.

Jesus insistiu muito na necessidade de pedirmos coisas a Deus e pedirmos insistentemente (Mateus 7:7, Lucas11:9) e dá até algumas interessantes parábolas para ilustrar o fato. Ele não insistiria tanto em algo que não fosse útil para nós, algo de que precisássemos, se não todas ao menos boa parte de nós. É que não pedimos. Pedimos pouco. Acho que homens, primordialmente – nós odiamos pedir informações no trânsito e ferramentas emprestadas. Deixamos de pedir porque não nos consideramos dignos - o que seria uma grande ofensa para nosso Pai - ou porque temos orgulho e não queremos reconhecer que precisamos de algo fora de nós mesmos. Podemos pedir, mas timidamente e sem insistir no pedido, ou porque achamos que Deus teria obrigação de atender ao primeiro pedido ou porque desconfiamos do amor dEle ou de Sua capacidade de atender. Não pedir a Deus o que nos vai ao coração é contrariar uma lei do universo criado por Ele. Você não se diminuirá por pedir, ao contrário, estará conectado à fonte da verdadeira grandeza.

E não se esqueça. A lei é a expressão do caráter do legislador. Pedir é uma lei do universo criada por Alguém ávido de que Lhe peçam, mas que também pede. Ele tem pedidos a você hoje. Toda relação é uma via de mão dupla, não cometa a loucura de tratar o Seu Criador como uma dessas máquinas onde colocamos uma moedinha (a oração), retiramos uma latinha de refrigerante, viramos as costas e vamos embora. Ele não hesita em pedir.

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