sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Imagine só

O retorno do peregrino é o primeiro livro escrito por C. S. Lewis após sua conversão ao cristianismo, por volta de 1930. Segundo a resenha que eu li, não é um livro muito fácil de ler, nem muito regular, mas a premissa me pareceu interessantíssima. Lewis faz sua visão particular do clássico de Bunyan, O peregrino, uma alegoria da conversão em que seu personagem vai andando por uma estrada rumo à fé. Na visão de Lewis, de um lado da estrada ficam os campos da razão, do outro os da emoção; assim, se ele se desvia muito da estrada acaba incorrendo em extremos que o afastam do destino final. Na alegoria de Lewis, a história não acaba quando o peregrino chega a seu destino, ao contrário, ele toma o caminho de volta e de repente tudo o que ele viu no caminho na ida agora enxerga como realmente é. A fé, defende Lewis, nos dá lentes para ver a realidade como ela é de fato.

Muito se fala dessa dualidade de razão e emoção e estou de acordo com Lewis de que o equilíbrio, o caminho reto e mais curto para a fé, está no meio dos dois, mas há outras ferramentas para chegar até ela sobre as quais falamos pouco. Uma delas é a imaginação. A imaginação que teve um papel importante na conversão do próprio Lewis e que o levou a escrever O retorno do peregrino, além de outras obras, como as famosas Crônicas de Nárnia e o interessantíssimo Cartas do diabo a seu aprendiz.

Há alguns anos comprei um livro chamado Muito mais que palavras, em que escritores cristãos falam sobre os autores que mais os influenciaram. Eu esperava encontrar capítulos sobre o próprio Lewis, Henri Nowen, Bonhoefer e outros famosos escritores de temas cristãos, mas me surpreendi achando capítulos sobre Shakespeare, Tolkien, Dostoievski e Hans Christian Andersen. 

E eu me surpreendi porque, sendo adventista do sétimo dia, tenho uma herança essencialmente racionalista. Minha igreja nasceu no auge do racionalismo, num contexto rural, em que expressões artísticas em geral, à exceção da música, são vistas com desconfiança. Como se a imaginação fosse instrumento do diabo para nos afastar da Bíblia. Para muitos, ler qualquer coisa que possa ser caracterizado como ficção é mal visto. 

E, no entanto, o Criador nos deu o poder da imaginação. Nos deu essa potencialidade magnífica porque ela pode ser um instrumento de vida. Assim como pode também ser um instrumento de morte, se a ficção se torna um deus para a pessoa ou se ela escolhe um certo tipo de ficção, cada vez mais popular, que apresenta uma escala de valores completamente degradada.

Você consegue imaginar o Céu ou a volta de Jesus com imagens que não saem de alguma ilustração que tenha visto? Você consegue exercitar sua criatividade e pensar em uma ilustração, uma parábola, que consiga transmitir à pessoa ao seu lado uma verdade essencial da palavra de Deus de modo que ela entenda? Exercitar a imaginação pode ser uma experiência iluminadora, como exercitar a razão e a inteligência emocional também. Solte sua imaginação na direção do Criador e veja o que acontece.

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